sexta-feira, 3 de abril de 2009

Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos.
Já nas livrarias

leitederramado 
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risada


MONÓLOGO
Barão de Itararé

- Eu tinha doze garrafas de uísque na minha adega e minha mulher me disse para despejar todas na pia, porque SENÃOO...
- Assim seja! Seja feita a vossa vontade, disse eu, humildemente.
E comecei a desempenhar, com religiosa obediência, a minha ingrata tarefa.
- Tirei a rolha da primeira garrafa e despejei o seu conteúdo na pia, com exceção de um copo, que bebi.
- Extraí a rolha da segunda garrafa e procedi da mesma maneira, com exceção de um copo, que virei.
- Arranquei a rolha da terceira garrafa e despejei o uísque na pia, com exceção de um copo, que empinei.
- Puxei a pia da quarta rolha e despejei o copo na garrafa, que bebi.
- Apanhei a quinta rolha da pia, despejei o copo no resto e bebi a garrafa, por exceção.
- Agarrei o copo da sexta pia, puxei o uísque e bebi a garrafa, com exceção da rolha.
- Tirei a rolha seguinte, despejei a pia dentro da garrafa, arrolhei o copo e bebi por exceção.
- Quando esvaziei todas as garrafas, menos duas, que escondi atrás do banheiro, para lavar a boca amanhã cedo, resolvi conferir o serviço que tinha feito, de acordo com as ordens da minha mulher, a quem não gosto de contrariar, pelo mau gênio que tem.
- Segurei então a casa com uma mão e com a outra contei direitinho as garrafas, rolhas, copos e pias, que eram exatamente trinta e nove. Quando a casa passou mais uma vez pela minha frente, aproveitei para recontar tudo e deu noventa e três, o que confere, já que todas as coisas no momento estão ao contrário.
- Para maior segurança, vou conferir tudo mais uma vez, contando todas as pias, rolhas, banheiros, copos, casas e garrafas, menos aquelas duas que escondi e acho que não vão chegar até amanhã, porque estou com uma sede louca!


Barão de Itararé foi como se auto-intitulou o jornalista gaúcho Apparício Torelli (1895-1971), pai do humorismo brasileiro - aí incluídos herdeiros diretos como O Pasquim  e Casseta & Planeta.



BAIXAR O AUDIO DA ENTREVISTA >> AQUI

No áudio Baden Powell conta em entrevista como surgiu o grande sucesso da MPB, Samba em Prelúdio.
No texto a história narrada pelo filho Philippe Baden Powell
"Toda música tem uma história", era o que o Baden costumava dizer sobre sua parceria com Vinicius de Moraes. Dentre as várias histórias que ouvi ele contar em shows e em casa, tem uma que considero especial - sobre uma das mais belas e conhecidas canções de Baden e Vinicius. Resolvi manter a versão original do fato tal como o papai contava.
Certo dia Baden chegou à casa do poetinha trazendo nos dedos uma belíssima melodia que compôs num momento muito inspirado. Era por volta das nove da noite quando Baden apresentou a melodia, e Vinicius ficou logo muito emplgado com a música que inspiraria mais uma bela poesia:
- Puxa Badinho, que música linda! Toca de novo!
Baden também entusiasmado com a empolgação do poeta tornou a tocar a música. E entraram pela noite tocando e ouvindo-a várias vezes, fazendo uma pausa de vez em quando pra conversar sobre os mais variados assuntos, como assombração, Mula sem Cabeça... Isso tudo regado à muito whiskie (papai contava que nessa noite foram umas quatro garrafas!). A madrugada chegou logo, as garrafas foram se acumulando e o Baden foi ficando meio desconfiado de alguma coisa, pois o Vinicius estava pedindo pra ele tocar a música desde cedo e não havia mencionado nada sobre a letra. Vinicius tornou a pedir para ele tocar, e o Baden então perguntou:
- Espera aí Vinicius, tá tudo certo, mas… Cadê a letra?
- A letra? Bom, na verdade aconteceu uma coisa, é… Eu não vou fazer essa letra mais não!
- Como assim? Estamos aqui, só nós dois, juntos desde cedo, tocando e bebendo, agora são altas horas e você me diz que não vai fazer a letra! O que houve?
- Não foi nada demais. Mas, eu prefiro não dizer, vamos deixar isso pra lá.
- Não, Vinicius, agora você vai me dizer o que houve.
- Sabe o que é Badinho, essa música que você fez é um plágio!
- Plágio?! Como assim Vinicius?
- É Badinho, um plágio.
- Não, Vinicius, você tá enganado…
- É, Baden, eu tenho certeza. Por isso não vou fazer essa letra. Depois vai sair nos jornais: “A dupla Baden e Vinicius plageiam…” Fica chato, entende?
- Mas, Vinicius, essa melodia me veio por inteira, eu fiz de uma vez, não pode ser plágio!
- É sim, Baden, tenho certeza.
- Mas plágio de quê, e de quem?
- Ora, Baden, isso ai é um prelúdio de Chopin!
- Não, Vinicius, você está enganado. Você bebeu demais e está confundindo as bolas.
- Não, Baden, você foi quem bebeu demais. Fez uma música de Chopin e tá achando que é sua.
- Mas, Vinicius, eu conheço os prelúdios de Chopin, estudei todos. Te garanto que não tem nada de Chopin nessa música!
- Eu também conheço, Baden, meu ouvido não falha, isso ai é Chopin com certeza! Quer ver só?! Eu vou acordar minha mulher que é formada em piano e conhece tudo, espera aí…
- Não faz isso, Vinicius, tá muito tarde, e a gente tá com um bafo danado…
- Tudo bem, ela já tá acostumada.
E lá foi o Vinicius chamar sua mulher, que na época era a Lucinha Proença. Ela chegou na sala sem saber o que estava acontecendo, mas vendo a cena perguntou:
- Oi Baden tudo bem? Vocês querem um café?
- Não Lucinha, sobretudo não vamos misturar… Obrigado.
Vinicius retomou seu lugar e dirigindo-se ao Baden, disse meio ríspido:
-Toca!
Baden executou e Vinicius ficou esperando algum comentário da Lucinha, que em silêncio não sabia o que dizer diante da visível espectativa do poeta:
- Como é, você não vai dizer nada?
- Como assim, o que você quer que eu diga?
- Toca de novo Baden!
Ao final desse bis, Vinicius novamente perguntou para mulher:
- Isso não é Chopin?!
- Não.
- Como não é Chopin?!
- É uma canção romântica, é muito bonita, mas não é Chopin.
- Ah, então você também tá contra mim?!
Fez-se então um silêncio que confirmou um grande mau entendido da parte do poeta, que com muita astúcia concluiu:
- Então Chopin esqueceu de fazer essa!
Vinicius pegou papel e caneta e escreveu quase que instantâneamente uma belíssima poesia, e a música foi batizada de "Samba em Prelúdio".


Música: Movimento dos Barcos
Intérprete: Jards Macalé
Composição: Jards Macalé e Capinan


Estou cansado e você também
Vou sair sem abrir a porta
E não voltar nunca mais
Desculpe a paz que eu lhe roubei
E o futuro esperado que eu não dei
É impossível levar um barco sem temporais
E suportar a vida como um momento além do cais
Que passa ao largo do nosso corpo
Não quero ficar dando adeus
As coisas passando, eu quero
É passar com elas, eu quero
E não deixar nada mais
Do que as cinzas de um cigarro
E a marca de um abraço no seu corpo
Não, não sou eu quem vai ficar no porto
Chorando, não
Lamentando o eterno movimento
Movimento dos barcos, movimento
poetica e cotidiana

Michael_and_Inessa_blooming_beauty1     
                                                     Michael and Inessa Garmash


QUE MÚSICA ESCUTAS TÃO ATENTAMENTE?
Eugénio de Andrade

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.

Insonia
                             imagem da internet

INSÔNIA
Manuel Antonio Pina


O dia entra no quarto
pela janela fechada
apagando as sombras onde
a alma se ocultava.

Aproximam-se as horas do silêncio
e do ruído, e fico só de novo.
Abro a janela e fecho alguma coisa
(provavelmente a infância) dentro d’alma. 

Talvez não passe tudo de memória,
de coisas de que alguém se recordasse,
a minha vida, os dias e as noites,
e a minha própria infância me faltasse. 

Talvez eu seja um vago sentimento
mal aflorando o coração d’alguém
à hora breve em que o dia vem
em algum sítio só de pensamento. 

Lá fora ouvem-se vozes acordando,
motores em marcha vibram, a luz arde,
e aos poucos a vida vai ficando
sensação e exterioridade. 

No quarto ao lado as filhas falam alto.
E dou comigo procurando rimas.
— E a alma? — Mas por esta altura
já tudo e eu próprio somos literatura... 


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