segunda-feira, 29 de outubro de 2012

"Os amigos não morrem: andam por aí, penetram-nos quando menos esperamos e é como se nunca tivessem partido. É como, não: nunca partiram." (*)

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As pessoas não morrem: andam por aí. Quantas vezes as sinto à minha volta: a presença, o cheiro, a cumplicidade silenciosa… Aproximam-se, afastam-se, vão-se embora, regressam, não me abandonam nunca, andam por aí, invisíveis

(invisíveis?)

densas de humanidade, tão próximas.

Segredam-nos:

- Não faleci, sabes?

E não faleceram, é verdade, continuam, não na nossa lembrança, continuam de fato, pertinho. Quase sem ruído mas, tomando atenção, percebem-se, quase não ocupando espaço mas, reparando melhor, ali, iguais a nós, tão vivos. Andam por aí, pertencem-nos, pertencemos-lhes, não deixamos de estar juntos. Nunca deixamos de estar juntos: Quando é necessário pousam-nos a palma no ombro.

Se olhar bem o ombro vejo a palma que pousou nele. Há palmas tão bonitas quanto os pássaros. Daqui a nada, sem que ela dê por isso, começa a cantar. Basta um bocadinho de atenção para a ouvir cantar. E, ao cantar, começo a escutar as ondas. Uma após outra. Reparem.

 

Trechos do texto
Aqueles que andam por aí
António Lobo Antunes

Leia na íntegra no link:
http://goo.gl/eOII2
visao.sapo.pt

 

(*) Desconheço o autor
Imagem da internet via Google

terça-feira, 23 de outubro de 2012

entreceuemar

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

4ignna

IGNNA
© Milton José Neves Júnior

RENOVA
© Adriano Gama

Poema atribuído a Neruda é da brasileira Martha Medeiros

O título correto é:

 

A MORTE DEVAGAR
Martha Medeiros

Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo
exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.

 

FONTE:

http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,falso-poema-atribuido-a-neruda-e-da-brasileira-martha-medeiros,306181,0.htm

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O AMOR, MEU AMOR
Mia Couto

Nosso amor é impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.

Minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.
E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.

E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu.

E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.

Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.

Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.

Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.

E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.

E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,
lembrança de pétala sem chão onde tombar.

Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.

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Mia Couto
In Idades Cidades Divindades, 2007

Imagem: Clare Elsaesser

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