sábado, 8 de junho de 2013

O CIÚME
Guilherme de Almeida


Minha melhor lembrança é esse instante no qual,
pela primeira vez, me entrou pela retina
tua silhueta provocante e fina
como um punhal.
Depois, passaste a ser unicamente aquela
que a gente se habitua a achar apenas bela
e que é quase banal.

E agora que te tenho em minhas mãos, e sei
que os teus nervos se enfeixam todos em meus dedos
e os teus sentidos são cinco brinquedos
com que brinquei;
agora que não mais me és inédita; agora
que compreendo que, tal como eu te vira outrora,
nunca mais te verei;

agora que, de ti, por muito que me dês,
já não me podes dar a impressão que me deste,
a primeira impressão que me fizeste;
— louco, talvez,
tenho ciúmes de quem não te conhece ainda
e, cedo ou tarde, te verá, pálida e linda,
pela primeira vez!

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© Guilherme de Almeida
In Poemas escolhidos, 1931
Imagem: Agaphya Belaja

Fonte: A Voz da Poesia

2 comentários:

Anônimo disse...

Magnífico!

Anônimo disse...

Meu poema..amo desda primeira vez q o vi.

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