quinta-feira, 21 de agosto de 2008



AI
Comp.: Tata Fernandes e Kléber Albuquerque
Intérprete: Rubi 

Deu meu coração de ficar dolorido
Arrasado num profundo pranto
Deu meu coração de falar esperanto
Na esperança de ser compreendido

Deu meu coração equivocado
Deu de desbotar o colorido
Deu de sentir-se apagado
Desiluminado
Desacontecido

Deu meu coração de ficar abatido
De bater sem sentido
Meu coração surrado
Deu de arrancar o curativo
Deu de cutucar o machucado

Deu de inventar palavra
Pra curar de significado
O escuro aço denso do silêncio
No coração trespassado


Eu te amo - disse.
E o mundo despencou-lhe nas costas
Não havia de sofer tanto
O mundo pesa sobre o amor
leveza da pena no espaço
E se teu amor - por mais pedra - não voar
liberta tuas costas do peso que não carregas
Se teu amor - por mais pena - não mergulhar
Vai-te banhar
e olha-te no olhar que não te cega
Se teu amor te pesa
mais que o mundo que carregas
degela-o e deixa-o beber os deltas


Deu meu coração de ficar abatido
De bater sem sentido
Meu coração surrado
Deu de arrancar o curativo
Deu de cutucar o machucado

Deu de inventar palavra
Pra curar de significado
O escuro aço denso do silêncio
No coração trespassado.

CD: "Infinito Portátil" (2005)  
Fonte do vídeo
quarta-feira, 20 de agosto de 2008

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terça-feira, 19 de agosto de 2008
poetica_e_cotidiana

POÉTICA E COTIDIANA
A.B.
(para Sereníssima)

Regularmente fora das regras
Leve
Rápida como fogo
Queima como água
Invade como convite
Se revela aos poucos
Como quem desvenda
a si própria, no instante
E se desfaz como quem parte
e fica, como quem sempre falta.
domingo, 10 de agosto de 2008

                       FELIZ DIA DOS PAIS! escultura_abraco                                                 Escultura de Cibele Krukoski


SOBRE O ABRAÇO
ANA CLÁUDIA SALDANHA JÁCOMO

O pai pega a menina no colo e os dois se abraçam. Observo, sentada próxima à mesa onde estão. Coisa bem bolada essa dos braços se encaixarem. Uma possibilidade tão perfeita que parece que já foram imaginados também com esse propósito. Mas o melhor do abraço não é a idéia dos braços facilitarem o encontro dos corpos. O melhor do abraço é a sutileza dele. A mística dele. A poesia. O segredo de literalmente aproximar um coração do outro para conversarem no silêncio que dá descanso à palavra. O silêncio onde tudo é dito sem que nenhuma letra precise se juntar à outra. O melhor do abraço é o charme de fazer com que a eternidade caiba em segundos. A mágica de possibilitar que duas pessoas visitem o céu no mesmo instante.

A menina e o pai se abraçam. Nenhum dos dois percebe que o meu olhar filma a cena. É bom sinal que não percebam, porque no abraço bem fruído as duas vidas se ocupam de contemplar somente a paisagem que compartilham. Os olhos se tornam surdos para qualquer registro que esteja fora do ambiente construído. Talvez seja por isso que costumamos fechar os olhos quando abraçamos: para abri-los para dentro. Quando inclui o sentimento, o abraço é um portal que dá acesso às regiões mais arborizadas do coração da gente. Lá onde cantam passarinhos. Lá onde voam borboletas. Lá onde se respira grande sem ter a alma contraída. Lá onde experimentamos o amor ensolarado, por mais nuvens encharcadas de medo que também existam em nós.

A menina abraça o pai e repousa o rosto em seu ombro. Eu reparo a delicadeza com que ela o faz. Nada nela parece desejar retê-lo. Nada nela parece querer que aquele encontro dure mais do que o tempo que puder durar. Ela parece saber que o abraço não precisa ser demorado para ser longo. Se plenamente sentido, o seu efeito é duradouro. A energia que produz é capaz de circular por tempo indefinido nas vidas que o experimentam. E, depois, pode ser acionada a qualquer momento no lugar da memória onde são guardadas as belezas que não perdem o frescor.

A menina adormece abraçada ao pai. Ele se movimenta vagarosamente de um lado para o outro, sob o ritmo de uma música que somente ele ouve e que ela deve sentir em algum lugar do seu sonho. Ainda atenta ao espetáculo amoroso que assisto sem que ninguém perceba, curto a felicidade de não ter o coração curtido. De poder me aquietar para ouvir aquele poema escrito pelos gestos. Nem todos os abraços se transformam em sono e isso é tão verdadeiro quanto a constatação de que todos os genuínos oferecem repouso. Armam redes na alma da gente, onde as emoções se deitam e balançam aconchegadas. Não há lugar algum para onde ir enquanto acontecem. Apenas ficar ali, dentro deles, e dividir esse conforto.

Adormecida no abraço do pai, a menina o envolve com seus braços, dois pequenos laços de fita morenos. O abraço é também isso: um presente que duas vidas oferecem uma a outra e desembrulham juntas. Pago a conta e saio do restaurante. Tarde bonita, um bocado de sol ainda pousado na tranqüilidade da Lagoa. Sigo em direção ao meu destino com o coração enternecido, sintonizada com a suavidade das lembranças afetivas que aquela cena trouxe à tona. E grata, muito grata, por num tempo de tantas feiúras, ainda ser capaz de admirar a beleza preciosa de um abraço de amor.


Fonte: http://anajacomo.blogspot.com

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