segunda-feira, 1 de setembro de 2008

menino_sonhador_d     
                                                       Pintura de Paola Roma

Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
- Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.

 
A incapacidade de ser verdadeiro - Carlos Drummond de Andrade
Do Livro: Histórias para o rei - Editora Record

sábado, 30 de agosto de 2008

 kima112
                                       imagem: Kim Anderson

Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

[A princípio não te vi: não soube que ias comigo...  - Pablo Neruda]

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

olhando_ceu_2 
                                          imagem da internet

Algumas palavras se perdem
Quando o sonho invade
O território do factível.
Carrego no bolso
Vocábulos esféricos
De superfície instável
E essência vária.
O asfalto me observa
Com a mesma pretensão
Com a qual as crianças
Dão formas
às nuvens.
Ruas me atravessam
E desconhecem as asas
De minha alma:
O óbvio me perdeu
Pela ausência de sombras e pegadas.
Teu sorriso, entre nuvens,
Rege meu itinerário:
Traço que risco
De olhos cerrados e coração desnudo.
Talvez a realidade exija resgate
Pela peça essencial de sua engrenagem,
Mas não te preocupes,
Pois as palavras nascidas da alma
Escorrem das mãos da realidade
E não sabem descansar sob
Olhos desacreditados.
Por isso viajo sem pegadas,
Apenas nuvens, estrelas, teu sorriso
E a possibilidade do improvável
Suspenso pelas intangíveis
Cordas da liberdade.
O amanhã?
Que venha o amanhã
Com seu arsenal de cores e sabores.
Para ele criarei novas palavras
E tecerei novos sonhos.

[Anderson Christofoletti]



ESSE AMOR
Comp.: Roger Henri /Dudu Falcão
Intérprete: Danilo Caymmi

O amor nos pegou
E o amor é assim
Como a dor pelo avesso
Um desejo sem fim

Seu olhar me jurou
Vi olhar só pra mim
E que mesmo negando
Me dizia que sim

Esse amor já conhece o segredo
O caminho do seu coração
Não adianta fugir
Nem esconder
As marcas da paixão
Não adianta fugir
Nem se esconder
Entre o amor e a razão.
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
claridade_53

 ERAS TU A CLARIDADE
José Luis Peixoto


O tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
Eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,
que eu amava quando imaginava que amava.
Era a tua voz que dizia as palavras da vida.
Era o teu rosto, era a tua pele.
Antes de te conhecer, existias nas árvores e nos
montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde.
Muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade.


Imagem da Internet, via Google

Ex_Animo 
                                     imagem: Tomasz  Rut

Aquele que amo
Disse-me
Que precisa de mim.
Por isso
Cuido de mim
Olho meu caminho
E receio ser morta
Por uma só gota de chuva.

[Para ler de manhã e à noite - Bertold Brecht ]

terça-feira, 26 de agosto de 2008

rouxinol                                                             imagem da internet

Um Poeta é um rouxinol que se senta na escuridão e canta para se confortar da própria solidão com
belos sons;
seus ouvintes são como homens arrebatados pela melodia de um músico invisível,
que se sentem comovidos e em paz,
ainda que não saibam como nem porque.

[Interlúdio...  - Percy Bysshe Shelley]

Sinto a chama de teu corpo
Ardendo em cada instante
De memória que me aflora,
Em cada momento que furtei
Do passado
E que trago em meu presente.

A tua gota de desejo
Inundou meu universo,
Carregando consigo
Toda a tua leitura:
Espinho, pétala,
Chama e candura.

Entrega.
Uma só volúpia.
Um só corpo.
Viagem imprevista
Pela parte que nos completa.
Teu íntimo:
Segredo que me invade
E explode feito necessidade
Louca de mais e mais você.

Em minha boca
O néctar das horas
incandescentes;
O bálsamo de tua essência
ardente.
O tempo
Que não se consumiu
Eternizou-se em minhas veias
E pulsa, agora, em minhas mãos.
Espraiando-se no papel
Em páginas de confissão,
Por linhas humanas
Que me entrega o coração.

Florescência do querer tácito,
Do desejo velado pela sombra
inconsciente
E varado pela inefável fusão de
dois corpos.

A razão violada pela magia do desatino.
A depuração que nos torna amor
E nos furta as rédeas do destino.

[Versos a uma rosa vermelha - ©Anderson Christofoletti]

Related Posts with Thumbnails

Poética

Poesias

Poetas

Vídeos

A Voz aqui

A Poética dos Amigos

Pesquisar neste blog

Rádio

Arquivos