domingo, 21 de setembro de 2008

  livro_poesia 
                                                     imagem: arquivo pessoal

Penso que a primeira leitura de um poema é a verdadeira, e depois disso que nos iludimos acreditando que a sensação, a impressão, se repete. Mas, como disse, pode ser mera fidelidade, mero truque da memória, mera confusão entre nossa paixão e a paixão que sentimos uma vez. Portanto, pode-se dizer que a poesia é uma experiência nova a cada vez. Cada vez que leio um poema, a experiência acaba ocorrendo. E isso é poesia. (...)
Uma vez escrito, esse verso não me serve mais, porque, como já disse, esse verso me veio do Espírito Santo, do subconsciente, ou talvez de algum outro escritor. Muitas vezes descubro que estou apenas citando algo que li tempos atrás, e isto se torna uma redescoberta. Melhor seria, talvez, que os poetas fossem anônimos.
(...)
Para concluir, trago uma citação de Santo Agostinho que, a meu ver, vem bem a calhar. Disse ele; “O que é o tempo? Se não me perguntam o que é o tempo, eu sei. Se me perguntam o que é, então não sei”. Sinto o mesmo em relação à poesia.

Frag. de O Enigma da Poesia - Jorge Luis Borges
Do livro: Esse Ofício do Verso

sábado, 20 de setembro de 2008

flor_deserto_8 

Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.

flor_na_pedra_zaroio_com_2 
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.


A minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.

flor_deserto_7 
Indecisa e ardente, algo ainda
não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.

 

Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.

flor_na_pedra2

Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.

 


[Uma Voz na Pedra - Antonio Ramos Rosa]
imagens da internet

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Música: No Rancho Fundo
Ary Barroso e Lamartine Babo
Apresentação no programa Som Brasil, TV Globo, em homenagem a Ary Barroso, 27/09/2008

Este samba foi lançado pela cantora Araci Cortes em junho de 1930, na revista É do outro mundo. Na ocasião chamava-se "Este mulato vai ser meu" (com o subtítulo "Na Grota Funda"), e tinha letra do caricaturista J. Carlos (José Carlos de Brito Cunha, autor da revista. Ouvindo a composição, Lamartine Babo achou ruins os versos "Na Grota Funda / na virada da montanha / só se conta uma façanha / do mulato da Raimunda".

Autorizado por Ary Barroso, escreveu nova letra ( "No Rancho Fundo / bem pra lá do fim mundo / onde a dor e a saudade / contam coisas da cidade..."), sendo o samba gravado por Elisa Coelho, no ano seguinte.
O lirismo nostálgico, que predomina na composição, já aparece na introdução instrumental dessa gravação, com o próprio Ary ao piano. A melodia, por sua vez, caminha suavemente em frases descendentes para um final melancólico, em perfeita sintonia com a letra. Quem não gostou da nova versão foi J. Carlos, que julgou a rejeição de sua letra uma desfeita, rompendo com Ary Barroso.

Mais sobre Fênix
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Fonte

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

J_Julio_Vaz_de_Carvalho_S_Cruz_vazio
                   imagem: J. Julio Vaz de Carvalho S. Cruz

O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto, é a matéria.

Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.

[Máquina do Tempo - Antonio Gedeão]



AMOR, AMOR
Comp.: Cacaso e Suely Costa
Interp.: Maria Bethania

quando o mar
quando o mar tem mais segredo
não é quando ele se agita
nem é quando é tempestade
nem é quando é ventania
quando o mar tem mais segredo
é quando é calmaria
quando o amor
quando o amor tem mais perigo
não é quando ele se arrisca
nem é quando ele se ausenta
nem quando eu me desespero
quando o amor tem mais perigo
é quando ele é sincero
segunda-feira, 15 de setembro de 2008

vinicius_moraes 
                                 imagem: arquivo pessoal

Clique na imagem para ver em tamanho real.

Eu ficarei só
como os veleiros nos portos silenciosos

Mas eu te possuirei mais que ninguém
porque poderei partir
E todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente,
a tua voz serenizada.

[Fragmento de Ausência - Vinicius de Moraes]

sábado, 13 de setembro de 2008

Este post é dedicado a Rosany Costa (Plenytude)
Feliz Aniversário!



AMIGO É CASA
Comp.: Capiba e Hermínio Bello de Carvalho
Intérpretes: Zé Renato e Lenine

Amigo é feito casa que se faz aos poucos e com paciência pra durar pra sempre mas é preciso ter muito tijolo e terra preparar reboco, construir tramelas usar a sapiência de um João-de-barro que constrói com arte a sua residência há que o alicerce seja muito resistente que às chuvas e aos ventos possa então a proteger.

E há que fincar muito jequitibá e vigas de jatobá e adubar o jardim e plantar muita flor toiceiras de resedás não falte um caramanchão pros tempos idos lembrar que os cabelos brancos vão surgindo que nem mato na roceira que mal dá pra capinar e há que ver os pés de manacá cheios de sabiás sabendo que os rouxinóis vão trazer arrebóis choro de imaginar!

Pra festa da cumieira não faltem os violões! Muito milho ardendo na fogueira e quentão farto em gengibre aquecendo os corações.

A casa é amizade construída aos poucos e que a gente quer com beira e tribeira com gelosia feita de matéria rara e altas platibandas, com portão bem largo que é pra se entrar sorrindo nas horas incertas sem fazer alarde, sem causar transtorno amigo que é amigo quando quer estar presente faz-se quase transparente sem deixar-se perceber amigo é pra ficar.

Se chegar, se achegar, se abraçar, se beijar, se louvar, bendizer amigo a gente acolhe, recolhe e agasalha e oferece lugar pra dormir e comer amigo que é amigo não puxa tapete oferece pra gente o melhor que tem e o que nem tem quando não tem, finge que tem, faz o que pode e o seu coração reparte que nem pão.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Música: Nosso Estranho amor - Caetano Veloso
Participação: Eliana Printes

Fonte

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