quarta-feira, 24 de setembro de 2008

solidao_6565imagem da internet

Guardei-me para ti como um segredo
Que eu mesma não desvendei:
Há notas nesta guitarra que não toquei,
Há praias na minha ilha que nem andei.

É preciso que me tomes, além do riso e do olhar,
Naquilo que não conheço e adivinhei;
É preciso que me ensines a canção do que serei
E me cries com teu gesto
Que nem sonhei.

[Guardei-me para ti - Lya Luft]

doiscorposimagem da internet


Não te chamo para te conhecer
Eu quero abrir os braços e sentir-te
Como a vela de um barco sente o vento

Não te chamo para te conhecer
Conheço tudo à força de não ser

Peço-te que venhas e me dês
Um pouco de ti mesmo onde eu habite

[Sophia de Mello Breyner Andresen]

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

anderson_poesia
                                                 imagem: arquivo pessoal

Clique na imagem para ampliar

No campo de teus sonhos
Colherei os segredos que
Por ti zelam, pra que, de meus dedos,
Escorram as sete chaves de tua alma;
Doação comedida
De teu amor.

Em minhas mãos,
Tuas portas romperão
O silêncio
Da noite
E, então, renascerás luz
Frente às sombras
Das páginas brancas.

[Anderson Christofoletti]

mulher_na_rede_carybe
                                             imagem: Carybé

Oh, minha rede que embala
Mais meus sonhos que meu sono,
Ainda quero morrer em ti, sem fala,
Enquanto ouço teu silêncio risonho...

Oh, rede que a mim sabe acolher,
Nada exige, nada cobra, nada implora,
No teu embalar, me ajuda viver,
No teu colo, minha alma acompanhada chora...

Oh, minha rede de sonho e poesia,
Que recolhe minhas lágrimas de madrugada,
Paciente, aguarda o retorno do meu dia,
E, depois de tudo, mais nada...

[Minha rede - Dora Brisa]
Fonte: AQUI

domingo, 21 de setembro de 2008

  livro_poesia 
                                                     imagem: arquivo pessoal

Penso que a primeira leitura de um poema é a verdadeira, e depois disso que nos iludimos acreditando que a sensação, a impressão, se repete. Mas, como disse, pode ser mera fidelidade, mero truque da memória, mera confusão entre nossa paixão e a paixão que sentimos uma vez. Portanto, pode-se dizer que a poesia é uma experiência nova a cada vez. Cada vez que leio um poema, a experiência acaba ocorrendo. E isso é poesia. (...)
Uma vez escrito, esse verso não me serve mais, porque, como já disse, esse verso me veio do Espírito Santo, do subconsciente, ou talvez de algum outro escritor. Muitas vezes descubro que estou apenas citando algo que li tempos atrás, e isto se torna uma redescoberta. Melhor seria, talvez, que os poetas fossem anônimos.
(...)
Para concluir, trago uma citação de Santo Agostinho que, a meu ver, vem bem a calhar. Disse ele; “O que é o tempo? Se não me perguntam o que é o tempo, eu sei. Se me perguntam o que é, então não sei”. Sinto o mesmo em relação à poesia.

Frag. de O Enigma da Poesia - Jorge Luis Borges
Do livro: Esse Ofício do Verso

sábado, 20 de setembro de 2008

flor_deserto_8 

Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.

flor_na_pedra_zaroio_com_2 
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.


A minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.

flor_deserto_7 
Indecisa e ardente, algo ainda
não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.

 

Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.

flor_na_pedra2

Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.

 


[Uma Voz na Pedra - Antonio Ramos Rosa]
imagens da internet

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Música: No Rancho Fundo
Ary Barroso e Lamartine Babo
Apresentação no programa Som Brasil, TV Globo, em homenagem a Ary Barroso, 27/09/2008

Este samba foi lançado pela cantora Araci Cortes em junho de 1930, na revista É do outro mundo. Na ocasião chamava-se "Este mulato vai ser meu" (com o subtítulo "Na Grota Funda"), e tinha letra do caricaturista J. Carlos (José Carlos de Brito Cunha, autor da revista. Ouvindo a composição, Lamartine Babo achou ruins os versos "Na Grota Funda / na virada da montanha / só se conta uma façanha / do mulato da Raimunda".

Autorizado por Ary Barroso, escreveu nova letra ( "No Rancho Fundo / bem pra lá do fim mundo / onde a dor e a saudade / contam coisas da cidade..."), sendo o samba gravado por Elisa Coelho, no ano seguinte.
O lirismo nostálgico, que predomina na composição, já aparece na introdução instrumental dessa gravação, com o próprio Ary ao piano. A melodia, por sua vez, caminha suavemente em frases descendentes para um final melancólico, em perfeita sintonia com a letra. Quem não gostou da nova versão foi J. Carlos, que julgou a rejeição de sua letra uma desfeita, rompendo com Ary Barroso.

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Fonte

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

J_Julio_Vaz_de_Carvalho_S_Cruz_vazio
                   imagem: J. Julio Vaz de Carvalho S. Cruz

O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto, é a matéria.

Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.

[Máquina do Tempo - Antonio Gedeão]

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