quarta-feira, 15 de abril de 2009
nas_ondas_6
                                      Foto: Clark Little

NAS ONDAS DO TEU CORPO
Manuel Neves


Nas ondas do teu corpo
descobri o sal do amor,
flutuei carícias de prazer,
mergulhei a minha vida.
Ao abraçar-te,
despi-me por inteiro,
só o sangue
seguiu meus movimentos
e o horizonte
abriu-se de todas as cores,
inundando de pássaros e florestas
um outro mundo
em que os sonhos corriam
como as águas dum porto tranqüilo
ou caindo pelos abismos duma cachoeira.
Nas ondas do tempo parado
dos dias esquecidos
por uma felicidade
maior do que tudo que sou,
encontrei-te
e os sonhos voaram
no teu corpo sentido,
no teu olhar desperto,
em nossas vidas unidas...


End. da imagem: clarklittlephotography.com

Claude_Theberge_A_Moment_of_Tenderness
                                                Imagem: Claude Theberge

PORQUE O AMOR APETECE
Eugénio de Andrade


Não canto porque sonho.
Canto porque és real.
Canto o teu olhar maduro,
teu sorriso puro,
a tua graça animal.

Canto porque sou homem.
Se não cantasse seria
mesmo bicho sadio
embriagado na alegria
da tua vinha sem vinho.

Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece
nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
ao vê-los nus e suados.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Música: Pedaço de Mim
Intérpretes: Zizi Possi e Chico Buarque
Composição: Chico Buarque

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

domingo, 5 de abril de 2009


As Rosas nao falam 
Cartola  
The Dead Rocks


Fonte do vídeo

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos.
Já nas livrarias

leitederramado 
Para saber mais visite o site
www.leitederramado.com.br

risada


MONÓLOGO
Barão de Itararé

- Eu tinha doze garrafas de uísque na minha adega e minha mulher me disse para despejar todas na pia, porque SENÃOO...
- Assim seja! Seja feita a vossa vontade, disse eu, humildemente.
E comecei a desempenhar, com religiosa obediência, a minha ingrata tarefa.
- Tirei a rolha da primeira garrafa e despejei o seu conteúdo na pia, com exceção de um copo, que bebi.
- Extraí a rolha da segunda garrafa e procedi da mesma maneira, com exceção de um copo, que virei.
- Arranquei a rolha da terceira garrafa e despejei o uísque na pia, com exceção de um copo, que empinei.
- Puxei a pia da quarta rolha e despejei o copo na garrafa, que bebi.
- Apanhei a quinta rolha da pia, despejei o copo no resto e bebi a garrafa, por exceção.
- Agarrei o copo da sexta pia, puxei o uísque e bebi a garrafa, com exceção da rolha.
- Tirei a rolha seguinte, despejei a pia dentro da garrafa, arrolhei o copo e bebi por exceção.
- Quando esvaziei todas as garrafas, menos duas, que escondi atrás do banheiro, para lavar a boca amanhã cedo, resolvi conferir o serviço que tinha feito, de acordo com as ordens da minha mulher, a quem não gosto de contrariar, pelo mau gênio que tem.
- Segurei então a casa com uma mão e com a outra contei direitinho as garrafas, rolhas, copos e pias, que eram exatamente trinta e nove. Quando a casa passou mais uma vez pela minha frente, aproveitei para recontar tudo e deu noventa e três, o que confere, já que todas as coisas no momento estão ao contrário.
- Para maior segurança, vou conferir tudo mais uma vez, contando todas as pias, rolhas, banheiros, copos, casas e garrafas, menos aquelas duas que escondi e acho que não vão chegar até amanhã, porque estou com uma sede louca!


Barão de Itararé foi como se auto-intitulou o jornalista gaúcho Apparício Torelli (1895-1971), pai do humorismo brasileiro - aí incluídos herdeiros diretos como O Pasquim  e Casseta & Planeta.



BAIXAR O AUDIO DA ENTREVISTA >> AQUI

No áudio Baden Powell conta em entrevista como surgiu o grande sucesso da MPB, Samba em Prelúdio.
No texto a história narrada pelo filho Philippe Baden Powell
"Toda música tem uma história", era o que o Baden costumava dizer sobre sua parceria com Vinicius de Moraes. Dentre as várias histórias que ouvi ele contar em shows e em casa, tem uma que considero especial - sobre uma das mais belas e conhecidas canções de Baden e Vinicius. Resolvi manter a versão original do fato tal como o papai contava.
Certo dia Baden chegou à casa do poetinha trazendo nos dedos uma belíssima melodia que compôs num momento muito inspirado. Era por volta das nove da noite quando Baden apresentou a melodia, e Vinicius ficou logo muito emplgado com a música que inspiraria mais uma bela poesia:
- Puxa Badinho, que música linda! Toca de novo!
Baden também entusiasmado com a empolgação do poeta tornou a tocar a música. E entraram pela noite tocando e ouvindo-a várias vezes, fazendo uma pausa de vez em quando pra conversar sobre os mais variados assuntos, como assombração, Mula sem Cabeça... Isso tudo regado à muito whiskie (papai contava que nessa noite foram umas quatro garrafas!). A madrugada chegou logo, as garrafas foram se acumulando e o Baden foi ficando meio desconfiado de alguma coisa, pois o Vinicius estava pedindo pra ele tocar a música desde cedo e não havia mencionado nada sobre a letra. Vinicius tornou a pedir para ele tocar, e o Baden então perguntou:
- Espera aí Vinicius, tá tudo certo, mas… Cadê a letra?
- A letra? Bom, na verdade aconteceu uma coisa, é… Eu não vou fazer essa letra mais não!
- Como assim? Estamos aqui, só nós dois, juntos desde cedo, tocando e bebendo, agora são altas horas e você me diz que não vai fazer a letra! O que houve?
- Não foi nada demais. Mas, eu prefiro não dizer, vamos deixar isso pra lá.
- Não, Vinicius, agora você vai me dizer o que houve.
- Sabe o que é Badinho, essa música que você fez é um plágio!
- Plágio?! Como assim Vinicius?
- É Badinho, um plágio.
- Não, Vinicius, você tá enganado…
- É, Baden, eu tenho certeza. Por isso não vou fazer essa letra. Depois vai sair nos jornais: “A dupla Baden e Vinicius plageiam…” Fica chato, entende?
- Mas, Vinicius, essa melodia me veio por inteira, eu fiz de uma vez, não pode ser plágio!
- É sim, Baden, tenho certeza.
- Mas plágio de quê, e de quem?
- Ora, Baden, isso ai é um prelúdio de Chopin!
- Não, Vinicius, você está enganado. Você bebeu demais e está confundindo as bolas.
- Não, Baden, você foi quem bebeu demais. Fez uma música de Chopin e tá achando que é sua.
- Mas, Vinicius, eu conheço os prelúdios de Chopin, estudei todos. Te garanto que não tem nada de Chopin nessa música!
- Eu também conheço, Baden, meu ouvido não falha, isso ai é Chopin com certeza! Quer ver só?! Eu vou acordar minha mulher que é formada em piano e conhece tudo, espera aí…
- Não faz isso, Vinicius, tá muito tarde, e a gente tá com um bafo danado…
- Tudo bem, ela já tá acostumada.
E lá foi o Vinicius chamar sua mulher, que na época era a Lucinha Proença. Ela chegou na sala sem saber o que estava acontecendo, mas vendo a cena perguntou:
- Oi Baden tudo bem? Vocês querem um café?
- Não Lucinha, sobretudo não vamos misturar… Obrigado.
Vinicius retomou seu lugar e dirigindo-se ao Baden, disse meio ríspido:
-Toca!
Baden executou e Vinicius ficou esperando algum comentário da Lucinha, que em silêncio não sabia o que dizer diante da visível espectativa do poeta:
- Como é, você não vai dizer nada?
- Como assim, o que você quer que eu diga?
- Toca de novo Baden!
Ao final desse bis, Vinicius novamente perguntou para mulher:
- Isso não é Chopin?!
- Não.
- Como não é Chopin?!
- É uma canção romântica, é muito bonita, mas não é Chopin.
- Ah, então você também tá contra mim?!
Fez-se então um silêncio que confirmou um grande mau entendido da parte do poeta, que com muita astúcia concluiu:
- Então Chopin esqueceu de fazer essa!
Vinicius pegou papel e caneta e escreveu quase que instantâneamente uma belíssima poesia, e a música foi batizada de "Samba em Prelúdio".


Música: Movimento dos Barcos
Intérprete: Jards Macalé
Composição: Jards Macalé e Capinan


Estou cansado e você também
Vou sair sem abrir a porta
E não voltar nunca mais
Desculpe a paz que eu lhe roubei
E o futuro esperado que eu não dei
É impossível levar um barco sem temporais
E suportar a vida como um momento além do cais
Que passa ao largo do nosso corpo
Não quero ficar dando adeus
As coisas passando, eu quero
É passar com elas, eu quero
E não deixar nada mais
Do que as cinzas de um cigarro
E a marca de um abraço no seu corpo
Não, não sou eu quem vai ficar no porto
Chorando, não
Lamentando o eterno movimento
Movimento dos barcos, movimento
poetica e cotidiana
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