domingo, 31 de maio de 2009
Michael_and_Inessa_Garmash_beautyshore
Imagem: Michael and Inessa Garmash

CONHEÇO O SAL
Jorge de Sena 

Conheço o sal da tua pele seca
depois que o estio se volveu inverno
da carne repousando em suor nocturno.

Conheço o sal do leite que bebemos
quando das bocas se estreitavam lábios
e o coração no sexo palpitava.

Conheço o sal dos teus cabelos negros
ou louros ou cinzentos que se enrolam
neste dormir de brilhos azulados.

Conheço o sal que resta em minhas mãos
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.

Conheço o sal da tua boca, o sal
da tua língua, o sal de teus mamilos,
e o da cintura se encurvando de ancas.

A todo o sal conheço que é só teu,
ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
um cristalino pó de amantes enlaçados.
sábado, 30 de maio de 2009

dance
                                            imagem da internet


TUDO
Sophia de Mello Breyner Andresen


Tudo me é uma dança em que procuro
A posição ideal,
Seguindo o fio dum sonhar obscuro
Onde invento o real.

À minha volta sinto naufragar
Tantos gestos perdidos
Mas a alma, dispersa nos sentidos,
Sobe os degraus do ar...

jenedy_paige_Man_and_Wife 
                                  Imagem: Jenedy Page

O CANTO E A CONTENDA
Dora Garbe

Não te abras
Não destruas o encanto misterioso
Da nossa encruzilhada
Não me perguntes
O que sou... quem sou.
A vida arrasou-me de acontecimentos
As recordações pesam-me
Estou ferida
De datas trágicas,
De encontros marcados e rupturas
De ter conhecido e sabido
Coisas que me esgotaram.

Dá-me a tua mão
Mas fora do tempo
Além do possível
Para nos realizarmos
Num vazio
Com a devorante sede de terra
Onde poderiamos arder...
suplicanomar  
                                Imagem da internet

SÚPLICA
Miguel Torga

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
sábado, 23 de maio de 2009

 
"Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minh'alma
E nunca, nunca mais eu me entendi..."

[Frag. - Florbela Espanca]

sexta-feira, 22 de maio de 2009
Circula na internet em formato PPS, ou em texto formatado  por email.
Vale ressaltar que a autora acrescentou no final do poema, um texto de Rui Barbosa. É isso que geralmente confunde.
 


SINTO VERGONHA DE MIM
Cleide Canton

Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.

Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o "eu" feliz a qualquer custo,
buscando a tal "felicidade"
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos "floreios" para justificar
atos criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre "contestar",
voltar atrás
e mudar o futuro.

Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...

Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.

Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar  meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo brasileiro!
------------------
“De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto".
  Rui Barbosa
sereh[2] 
                         lique na imagem para ampliar

RESTO-ME
João Domingues Maia

Não te prevejo
porque nem sei de mim
não te conheço

Conduz-me na procura,
nesse revelar-se
de tudo o que surge
entre os papéis expostos

Resto-me a mim
e não me sei

Toma a minha mão.

AS RUAS CORREM
Jurema Barreto de Souza

As ruas correm
largas e frescas
dentro de mim.
Rompe-se a crisálida
do dia.
O céu cresce em meu peito
gigantesca borboleta
pelo amor desenhada.
A vida torna-se bonita
como uma mulher
que se descobre no espelho.

Imagem da Internet, pelo Google
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