quinta-feira, 9 de julho de 2009

 Michael_and_Inessa_Garmash_cherishedroses1                                                Michael and Inessa Garmash

SE NÃO FALAS
Rabindranath Tagore

Se não falas, vou encher o meu coração
Com o teu silêncio, e agüentá-lo.
Ficarei quieto, esperando, como a noite
Em sua vigília estrelada,
Com a cabeça pacientemente inclinada.

A manhã certamente virá,
A escuridão se dissipará, e a tua voz
Se derramará em torrentes douradas por todo o céu.

Então as tuas palavras voarão
Em canções de cada ninho dos meus pássaros,
E as tuas melodias brotarão
Em flores por todos os recantos da minha floresta.

Se nos falam de céu pensamos nuvem.
Se pegamos a nuvem cavalgamos.
O que era o alto faz-se espelho e lago.
A vastidão não é assombro. É leito.
Há-de vir a manhã dos sonhos descobertos.
Paisagens fluidas, luminosas, maternais.
(Licínia Quitério)

  Fotos: Nara Françanarafranca90 narafranca20narafranca64 narafranca78 narafranca80 narafranca82 narafranca86

quarta-feira, 8 de julho de 2009

la valse_camille_claudel 
                               Camille Claudel


SUSPENSÃO
Vinicius de Moraes

Fora de mim, fora de nós, no espaço, no vago
A música dolente de uma valsa
Em mim, profundamente em mim
A música dolente do teu corpo
E em tudo, vivendo o momento de todas as coisas
A música da noite iluminada.
O ritmo do teu corpo no meu corpo...
O giro suave da valsa longínqua, da valsa suspensa...
Meu peito vivendo teu peito
Meus olhos bebendo teus olhos, bebendo teu rosto
E a vontade de chorar que vinha de todas as coisas.

 

Rio de Janeiro, 1933
in O caminho para a distância
in Poesia completa e prosa: "O sentimento do sublime"
Fonte: www.viniciusdemoraes.com.br

terça-feira, 7 de julho de 2009

solitario7 
                                          imagem da internet via Google

VIDRO CÔNCAVO
Antonio Gedeão

Tenho sofrido poesia
como quem anda no mar.
Um enjoo.
Uma agonia.
Sabor a sal.
Maresia.
Vidro côncavo a boiar.

Dói esta corda vibrante.
A corda que o barco prende
à fria argola do cais.
Se vem onda que a levante
vem logo outra que a distende.
Não tem descanso jamais.

Leia mais de Antonio Gedeão > AQUI

segunda-feira, 6 de julho de 2009
Circula por email em PPS, como sendo de Vinicius de Moraes.
Esse texto é do colunista gaucho Paulo Sant'Ana e está publicado no livro "O Gênio Idiota" 1992, ed. Mercado Aberto)
paulosantana        foto: blog.emanuelmattos.com.br
MEUS SECRETOS AMIGOS - Paulo Sant'Ana
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade, disse o Jorge Luís Borges. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores. Mas enlouqueceria se morressem os meus amigos. Até mesmo aqueles amigos que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências.
Alguns deles não procuro. Basta-me somente saber que eles existem, essa mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas porque não os procuro com assiduidade pejo-me de lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação dos meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não o declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital. Porque eles fazem parte do mundo que eu tremulamente construí. E se tornaram alicerces do meu encanto pela vida. Se algum deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo para a loucura ou para o suicídio. Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem-estar. Ela é talvez maior fruto de meu egoísmo do que por quanto eles souberam tornar-se a mim tão caros. Mas como as duas coisas se confundem, eu alivio minha consciência.
Por vezes, mergulho em pensamento sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me uma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer. Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos que sabem que são meus amigos. E principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos.

NOTAS:
1.
Quanto a frase que às vezes aparece no final:
"A gente não faz amigos reconhece-os!"

Segundo a comunidade do orkut: Afinal, quem é o autor?
O texto do Paulo Sant'Ana não tinha essa frase no final (...) foi acrescentado por algum repassador! 

2.
A gente não faz amigos, reconhece-os.
"One does not make friends. One recognizes them." (Garth Henrichs) 

Fonte das notas:
Rosangela Aliberti
link > goo.gl/M0aT2


OBSERVAÇÃO IMPORTANTE::
Toda a obra de Vinicius de Moraes está publicada no site oficial www.viniciusdemoraes.com.br
Se tiver dúvida quanto a autoria de qualquer texto dele basta ir na “busca” do site e pesquisar.
quarta-feira, 1 de julho de 2009

John_William_Waterhouse_Ophelia_1905                                                    John William Waterhouse

AMO COMO O AMOR AMA
Fernando Pessoa
Trecho do fragmento XXI, Terceiro Tema, do livro "Primeiro Fausto"

(…)
Quando te vi amei-te já muito antes:
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci pra ti antes de haver o mundo.
Não há cousa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que o não fosse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro.

E eu soube-o só depois, quando te vi,
E tive para mim melhor sentido,
E o meu passado foi como uma 'strada
Iluminada pela frente, quando
O carro com lanternas vira a curva
Do caminho e já a noite é toda humana.

Quando eu era pequena, sinto que eu
Amava-te já longe, mas de longe...

Amor, diz qualquer cousa que eu te sinta!
— Compreendo-te tanto que não sinto,
Oh coração exterior ao meu!
Fatalidade, filha do destino
E das leis que há no fundo deste mundo!
Que és tu a mim que eu compreenda ao ponto
De o sentir...?

terça-feira, 30 de junho de 2009
Do_Suor_Do_Meu_Rosto_Arlete_Marques 
                                                                        Arlete Marques

GRITO DE ALMA
Rui de Noronha 

Vem de séculos, alma, essa orgulhosa casta,
repudiando a dor, tripudiando a lei.
Num gesto de altivez que em onda leva e arrasta
inteiras gerações de amaldiçoada grei.

Ir procurar, Amor, nessa altivez madrasta,
ou gesto de carinho ou de brandura, eu sei?
Ao tigre dos juncais, de uma crueza vasta,
quem há que roube a presa? Aponta-me e eu irei!

Cruel destino o meu, que ao meu caminho trouxe,
na fulgurante luz do teu olhar tão doce,
a mágoa minha, eterna, a minha eterna dor.

Vai, segue o teu destino! A onda quer-te e passa.
Vai com ela cantar o orgulho de tua raça,
que eu ficarei cantando o nosso eterno amor.


SOBRE O AUTOR:
Rui de Noronha (1909-1943), de Moçambique - África
Embora sonetista, "a crítica", conforme escreveu J. G. de Araújo Jorge -"o considera um dos precursores da moderna poesia em sua pátria".
Publicou apenas um livro, a que deu o simples nome de "Sonetos'.
segunda-feira, 29 de junho de 2009

Este texto circula pela Internet e por email como sendo de Fernando Pessoa. É de autoria da SILVANA DUBOC e tem registro na Biblioteca Nacional:

Registrada na Fundação Biblioteca Nacional
Ministério da Cultura - Escritório de Direitos Autorais
Rua da Imprensa 16 - sala 1205 - Centro - Rio de Janeiro
Registro - 309.788
Livro - 564
Folha - 448


NAVEGUE - Silvana Duboc

Navegue,
descubra tesouros, mas não os tire do fundo do mar,
o lugar deles é lá.

Admire a lua,
sonhe com ela, mas não queira trazê-la para a terra.

Curta o sol,
se deixe acariciar por ele,
mas lembre-se que o seu calor é para todos.

Sonhe com as estrelas,
apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu.

Não tente deter o vento,
ele precisa correr por toda parte,
ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde.

Não apare a chuva,
ela quer cair e molhar muitos rostos,
não pode molhar só o seu.

As lágrimas? 
Não as seque, elas precisam correr na minha,
na sua, em todas as faces.

O sorriso!  
Esse você deve segurar, não deixe-o ir embora, agarre-o!

Quem você ama?
Guarde dentro de um porta-jóias, tranque, perca a chave!
Quem você ama é a maior jóia que você possui,
a mais valiosa.

Não importa se a estação do ano muda,
se o século vira,
se o milênio é outro, se a idade aumenta;
conserve a vontade de viver,
não se chega à parte alguma sem ela,

Abra todas as janelas
que encontrar, e as portas também.

Persiga um sonho,
mas não deixe ele viver sozinho.

Alimente sua alma
com amor, cure suas feridas com carinho.

Descubra-se todos os dias,
deixe-se levar pelas vontades,
mas não enlouqueça por elas.

Procure,
sempre procure o fim de uma história, seja ela qual for.

Dê um sorriso
para quem esqueceu como se faz isso.

Acelere seus pensamentos,
mas não permita que eles te consumam.

Olhe para o lado,
alguém precisa de você.

Abasteça seu coração de fé,
não a perca nunca.

Mergulhe de cabeça
nos seus desejos, e satisfaça-os.

Agonize de dor
por um amigo,
só saia dessa agonia se conseguir tirá-lo também.

Procure os seus caminhos,
mas não magoe ninguém nessa procura.

Arrependa-se,
volte atrás, peça perdão!

Não se acostume
com o que não o faz feliz,
revolte-se quando julgar necessário.

Alague
seu coração de esperanças,
mas não deixe que ele se afogue nelas.

Se achar
que precisa voltar, volte!

Se perceber
que precisa seguir, siga!

Se estiver tudo errado,
comece novamente.

Se estiver tudo certo,
continue.

Se sentir saudades,
mate-a.

Se perder um amor,
não se perca! 
Se achá-lo, segure-o!

Caso sinta-se só,
olhe para as estrelas: eu sempre estarei nelas.

Não estão ao seu alcance
mas estarão eternamente brilhando para você!

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