quarta-feira, 15 de julho de 2009

Minha eterna saudade, Guria
E pela poesia da Cecília, minha homenagem no seu aniversário!

estrelaquemaisbrilha 
                        imagem da internet via Google

EVELYN
Cecília Meireles


Não te acabarás Evelyn

As rochas que te viram são negras, entre espumas finas
Sobre elas giram lisas gaivotas delicadas,
E ao longe as águas verdes revolvem seus jardins de vidro

Não te acabarás Evelyn

Guardei o vento que tocava
A harpa dos teus cabelos verticais,
E teus olhos estão aqui e são conchas brancas,
Docemente fechados, como se vê nas estátuas

Guardei teu lábio de coral róseo
E teus dedos de coral branco
E estás para sempre, como naquele dia
Comendo, vagarosa, fibras elásticas de crustáceos
Mirando a tarde e o silêncio
E a espuma que te orvalhava os pés

Não te acabarás Evelyn

Eu te farei aparecer entre as escarpas
Sereia, serena
E os que não te viram procurarão por ti
Que eras tão bela e nem falaste

Evelyn – disseram-me,
Apontando-te entre as barcas
E eras igual a meu destino

Evelyn – entre a água e o céu
Evelyn – entre a água e a terra
Evelyn – sozinha
Entre os homens e Deus.

©Cecília Meireles
in Mar Absoluto, 1945

www.avozdapoesia.com.br/ceciliameireles

domingo, 12 de julho de 2009
SCA290390299  01 
                                                  Carl Larsson
PRIMEIRO FRÊMITO
Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça

Passei ao pé de ti, tremulamente ouvindo
em mim mesma ecoar uma estranha canção,
o som era confuso e tênue mas foi indo
e de súbito encheu-me o frio coração...

Depois tornou-se um hino ardente, e prosseguindo
dia a dia, a crescer, de força e de emoção,
todo o meu ser vibrou naquele canto infindo
como junco dobrado ao sopro do tufão.

Na floresta vagava esparsa melodia.
Um frêmito de luz, de vida e de alegria
fazia rescender o jasmineiro em flor.

E na terra fremente, e na amplidão profunda
e em minhalma a tremer, invencível, fecunda,
palpitava a canção vitoriosa do amor!

 <><><><>

Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça nasceu em São João Del Rey, Minas Gerais, a 19 de abril de 1886, filha do Conde e Condessa de Afonso Celso, neta do Visconde de Ouro Preto que presidia o Gabinete Imperial quando da deposição do Imperador D. Pedro II.
quinta-feira, 9 de julho de 2009

 Michael_and_Inessa_Garmash_cherishedroses1                                                Michael and Inessa Garmash

SE NÃO FALAS
Rabindranath Tagore

Se não falas, vou encher o meu coração
Com o teu silêncio, e agüentá-lo.
Ficarei quieto, esperando, como a noite
Em sua vigília estrelada,
Com a cabeça pacientemente inclinada.

A manhã certamente virá,
A escuridão se dissipará, e a tua voz
Se derramará em torrentes douradas por todo o céu.

Então as tuas palavras voarão
Em canções de cada ninho dos meus pássaros,
E as tuas melodias brotarão
Em flores por todos os recantos da minha floresta.

Se nos falam de céu pensamos nuvem.
Se pegamos a nuvem cavalgamos.
O que era o alto faz-se espelho e lago.
A vastidão não é assombro. É leito.
Há-de vir a manhã dos sonhos descobertos.
Paisagens fluidas, luminosas, maternais.
(Licínia Quitério)

  Fotos: Nara Françanarafranca90 narafranca20narafranca64 narafranca78 narafranca80 narafranca82 narafranca86

quarta-feira, 8 de julho de 2009

la valse_camille_claudel 
                               Camille Claudel


SUSPENSÃO
Vinicius de Moraes

Fora de mim, fora de nós, no espaço, no vago
A música dolente de uma valsa
Em mim, profundamente em mim
A música dolente do teu corpo
E em tudo, vivendo o momento de todas as coisas
A música da noite iluminada.
O ritmo do teu corpo no meu corpo...
O giro suave da valsa longínqua, da valsa suspensa...
Meu peito vivendo teu peito
Meus olhos bebendo teus olhos, bebendo teu rosto
E a vontade de chorar que vinha de todas as coisas.

 

Rio de Janeiro, 1933
in O caminho para a distância
in Poesia completa e prosa: "O sentimento do sublime"
Fonte: www.viniciusdemoraes.com.br

terça-feira, 7 de julho de 2009

solitario7 
                                          imagem da internet via Google

VIDRO CÔNCAVO
Antonio Gedeão

Tenho sofrido poesia
como quem anda no mar.
Um enjoo.
Uma agonia.
Sabor a sal.
Maresia.
Vidro côncavo a boiar.

Dói esta corda vibrante.
A corda que o barco prende
à fria argola do cais.
Se vem onda que a levante
vem logo outra que a distende.
Não tem descanso jamais.

Leia mais de Antonio Gedeão > AQUI

segunda-feira, 6 de julho de 2009
Circula por email em PPS, como sendo de Vinicius de Moraes.
Esse texto é do colunista gaucho Paulo Sant'Ana e está publicado no livro "O Gênio Idiota" 1992, ed. Mercado Aberto)
paulosantana        foto: blog.emanuelmattos.com.br
MEUS SECRETOS AMIGOS - Paulo Sant'Ana
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade, disse o Jorge Luís Borges. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores. Mas enlouqueceria se morressem os meus amigos. Até mesmo aqueles amigos que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências.
Alguns deles não procuro. Basta-me somente saber que eles existem, essa mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas porque não os procuro com assiduidade pejo-me de lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação dos meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não o declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital. Porque eles fazem parte do mundo que eu tremulamente construí. E se tornaram alicerces do meu encanto pela vida. Se algum deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo para a loucura ou para o suicídio. Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem-estar. Ela é talvez maior fruto de meu egoísmo do que por quanto eles souberam tornar-se a mim tão caros. Mas como as duas coisas se confundem, eu alivio minha consciência.
Por vezes, mergulho em pensamento sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me uma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer. Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos que sabem que são meus amigos. E principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos.

NOTAS:
1.
Quanto a frase que às vezes aparece no final:
"A gente não faz amigos reconhece-os!"

Segundo a comunidade do orkut: Afinal, quem é o autor?
O texto do Paulo Sant'Ana não tinha essa frase no final (...) foi acrescentado por algum repassador! 

2.
A gente não faz amigos, reconhece-os.
"One does not make friends. One recognizes them." (Garth Henrichs) 

Fonte das notas:
Rosangela Aliberti
link > goo.gl/M0aT2


OBSERVAÇÃO IMPORTANTE::
Toda a obra de Vinicius de Moraes está publicada no site oficial www.viniciusdemoraes.com.br
Se tiver dúvida quanto a autoria de qualquer texto dele basta ir na “busca” do site e pesquisar.
quarta-feira, 1 de julho de 2009

John_William_Waterhouse_Ophelia_1905                                                    John William Waterhouse

AMO COMO O AMOR AMA
Fernando Pessoa
Trecho do fragmento XXI, Terceiro Tema, do livro "Primeiro Fausto"

(…)
Quando te vi amei-te já muito antes:
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci pra ti antes de haver o mundo.
Não há cousa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que o não fosse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro.

E eu soube-o só depois, quando te vi,
E tive para mim melhor sentido,
E o meu passado foi como uma 'strada
Iluminada pela frente, quando
O carro com lanternas vira a curva
Do caminho e já a noite é toda humana.

Quando eu era pequena, sinto que eu
Amava-te já longe, mas de longe...

Amor, diz qualquer cousa que eu te sinta!
— Compreendo-te tanto que não sinto,
Oh coração exterior ao meu!
Fatalidade, filha do destino
E das leis que há no fundo deste mundo!
Que és tu a mim que eu compreenda ao ponto
De o sentir...?

Related Posts with Thumbnails

Poética

Poesias

Poetas

Vídeos

A Voz aqui

A Poética dos Amigos

Pesquisar neste blog

Rádio

Arquivos