segunda-feira, 23 de novembro de 2009

CECÍLIA MEIRELES NA VOZ DA POESIA >> AQUI

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                              Pintura de Alexander Volkov

Clique para ouvir

Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.

Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio,
ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem,
para as gotas de água que caíam de seus dedos magros
e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.

Às vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela,
uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente,
que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.


©Cecília Meireles
Voz: Sereníssima
Música de fundo:
Poema de Amor - Carlos Barbosa Lima

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Música: Sete Cantigas Para Voar
Composição: Vital Farias
Intérprete: Mônica Albuquerque e Robson Russo

Cantiga de campo
de concentração
a gente bem sente
com precisão
mas recordo a tua imagem
naquela viagem
que eu fiz pro sertão
eu que nasci na floresta
canto e faço festa
no seu coração
Voa, voa, azulão.
Voa, voa, azulão.
Cantiga de roça
de um cego apaixonado
cantiga de moça
lá do cercado
que canta a fauna e a flora
e ninguém ignora
se ela quer brotar
bota uma flor no cabelo
com alegria e zelo
para não secar
Voa, voa no ar
Voa, voa no ar
Cantiga de ninar
a criança na rede
mentira de água
é matar a sêde:
diz pra mãe que eu fui pro açude
fui pescar um peixe
isso eu num fui não
tava era com um namorado
pra alegria e festa
do meu coração
Voa, voa azulão
Voa, voa azulão
Cantiga de índio
que perdeu sua taba
no peito esse incêndio
céu não se apaga
deixe o índio no seu canto
que eu canto um acalanto
faço outra canção
deixe o peixe, deixe o rio
que o rio é um fio de inspiração
Voa, voa azulão (3x)

domingo, 22 de novembro de 2009

THIAGO DE MELLO NA VOZ DA POESIA

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   CLIQUE NA IMAGEM PARA ENTRAR NO SITE


ouça na voz do autor


OS ESTATUTOS DO HOMEM
(Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony

Artigo I

Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
trabalharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II

Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III

Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV

Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:

O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V

Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI

Fica estabelecida, durante os milênios da vida,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII

Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridão,
e a esperança será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII

Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar amor a quem se ama
sabendo que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX

Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X

Fica permitido a qualquer pessoa,
a qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.

Artigo XI

Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII

Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:

Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII

Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final

Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo, um rio,
como a semente do trigo,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

©Thiago de Mello
Santiago do Chile, abril de 1964

sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Dia Nacional da Consciência Negra

castroalvesavp 

Clique na imagem acima para entrar na página


Impossível falar em liberdade e igualdade sem citar o poeta, que soube como poucos, entender a dor dos negros, e lutar através dos seus versos, por um Brasil justo e humano.
Não se fala em Consciência Negra, sem ouvir os brados de liberdade que o poeta fez ecoar pelos quatro cantos do país.

LEIA CASTRO ALVES >> AQUI

E ouça trechos do seu poema O NAVIO NEGREIRO, na voz de Paulo Autran, com imagens do filme Amistad, de Steven Spielberg.



quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Jean-Baptiste_Valadie1  
                                        Pintura de Jean-Baptiste Valadie

 
TROUXESTE OS SONHOS
José  Manuel Teixeira

Trouxeste os sonhos, a planura do ventre,
as madrugadas dos pomares.

E enquanto atravesso o itinerário das palavras,
a maciez diáfana dos teus olhos invade-me a alma,

Repenso o silêncio azulado do espanto
que amacia a rebentação das glicínias.

Lá onde moram os pinheiros mansos
e recebemos a inquietação, o tempo permanece insubmisso:

eu estarei um dia, com o meu corpo,
até à fundura íntima do infinito.


 Marcado em 19 de novembro de 1969, às 23h11, Vasco 1 x Santos 2, com 65.157 pagantes.
A partida era válida pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o campeonato brasileiro da época. Aos 33 minutos do segundo tempo o zagueiro do Vasco Renê cometeu pênalti. Pelé cobrou com pé direito no canto esquerdo do goleiro Andrada, que se esforçou, mas não conseguiu defender o pênalti. Andrada não queria sofrer gol de Pelé pois achava que deixaria de ser conhecido como bom goleiro e passaria a ser lembrado somente como o goleiro do milésimo gol.
Ao ser cercado pelos repórteres, Pelé disse: Pensem no Natal. Pensem nas criancinhas. Pelé vestiu uma camisa do Santos de número 1000 e deu a volta olímpica no Maracanã.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A necessidade já foi a mãe da invenção; agora é a invenção que é a mãe da necessidade.

hpebook bookshelf 
                                                          imagens da internet by Google

Basta olhar à sua volta. Você consegue imaginar sua vida sem celular, laptop, controle remoto, acesso à internet, pen drive, cartão com chip? Você não se pergunta, às vezes, como é que os mais velhos (incluindo aí seus pais) faziam para se virar no passado? TV em preto e branco, ligações de longa distância via telefonista, ausência total de qualquer tipo de controle remoto, filmes de fotografias que demoravam uma semana para serem revelados...

A tecnologia digital não está deixando pedra sobre pedra e, além de criar novidades jamais sonhadas, reinventa constantemente aquilo que já existe. Assiste-se ao vídeo no computador, televisão, celular; a música virou intangível (alguém já viu um arquivo de mp3?); a imagem digitaliza-se e se multiplica à velocidade da luz. A distinção entre original e cópia simplesmente desaparece, já que o original traz em si a própria cópia, e a cópia nada mais é do que o original.

Chegou a vez do livro. Esta invenção, cuja paternidade é atribuída a Gutenberg, viveu sossegadamente entre nós pelos últimos 500 e tantos anos, sempre no mesmo formato (exigindo a leitura sequencial, página após página) e no mesmo suporte físico (o bom e velho papel). Pois não inventaram o livro eletrônico? O Kindle, da Amazon, e o Sony Reader são os dois produtos líderes de mercado, e o recém-lançado Nook, da Barnes & Nobles, promete não fazer feio.

Pausa. Aqui cabe uma rápida explicação sobre o conceito de livro eletrônico, que na realidade significa duas coisas distintas: o aparelho específico que possibilita ler de forma digital (os acima citados), e o conteúdo em si (os arquivos). O que é novo é o suporte tecnológico, pois os escritos digitais já existem há um belo tempo. (…)

A única coisa fácil de prever é o que já passou.

O que está acontecendo, na realidade, é que pouca gente realmente entendeu do que se trata; não é do livro, mas sim da leitura. Predizer a morte do livro físico equivale à profecia autorrealizável de jovem que nunca abriu um romance ou história policial e mergulhou em suas páginas; ignorar os avanços tecnológicos, e suas influências em nossas percepções e hábitos, soa mais como lamúria de velho com medo de envelhecer ou incapacidade de acompanhar as mudanças do mundo digital.

Examinemos de perto o livro eletrônico, e percebamos que ele não é apenas a versão digital do livro físico; é muito, muito mais! É o superlivro no modo mega hiper blaster total; confira aqui os acessórios originais de fábrica (variações existem de modelo a modelo):

• busca de palavra ou expressão
• dicionário embutido
• imagens animadas, áudio e vídeo (multimídia)
• hiperlinks e referências cruzadas com outros livros, revistas online, blogs...
• realce de texto, marcação de página e anotações
• empréstimo do livro e envio de trechos/anotações para outras pessoas
• modo de leitura texto para voz
•  atualização automática do conteúdo
•  oferta de mais de 1.000.000 de livros gratuitos e mais de 360.000 a preços razoáveis (no exterior, a menos de R$ 20,00)
• leitura no computador, celular, e-book reader...

O assunto aqui é o futuro da leitura, e não o futuro do livro. Os dois livros (as duas formas de leitura) podem e deverão conviver pacificamente, e é irrelevante discutir sobre isto. Os debates sobre prós e contras, a apaixonada defesa de um ou outro, as crônicas saudosistas de uma morte que ainda não se consumiu cheiram a ranço.

Temos aqui e agora dois formatos (suportes, hardwares) distintos. O impresso, em papel, com o qual dezenas de gerações cresceram e todo leitor que se preze mantém uma saudável dependência psicológica; o eletrônico, hoje ainda em formato duro, e que talvez possa se tornar maleável e dobrável no futuro próximo. A tecnologia oferece as opções, nós escolhemos e adotamos o que nos agrada.

A maneira de ler modifica-se com a introdução de novas tecnologias (estruturas, dispositivos e sistemas) e técnicas (nossa habilidade em usar estas tecnologias). O livro eletrônico não é a mera digitalização do livro impresso, e sim o aprendizado e a conquista de um novo modo de leitura. Todas as funções descritas acima – e as vindouras – nos permitem e ensinam a ler de forma não linear, fragmentada, sobreposta, múltipla e compartilhada – instantaneamente – com terceiros.

Ainda estamos nas páginas iniciais desta história, cujo fim ainda não se escreveu. E mesmo que o livro físico desapareça, sempre se poderá imprimir o arquivo digital e mandar encaderná-lo.

Jerome Vonk

Fonte:
http://portalliteral.terra.com.br/artigos/o-futuro-do-livro-o-livro-do-futuro

terça-feira, 17 de novembro de 2009
Atendendo a pedidos:




Música: Noturno Nr. 2 Opus 10 
Compositor: Chopin
Intérprete: Dilermano Reis 


Gravação original em Sua Majestade o Violão, 1957
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