quarta-feira, 10 de março de 2010

10 de Março – Dia do Telefone

No museu do telefone, em São Paulo, consta que o primeiro aparelho telefônico que veio ao Brasil foi dado de presente à D. Pedro II, em 1877, sendo que sua linha iria do palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, até o centro da cidade. Ao ver o telefone em funcionamento D. Pedro II exclamou “meu Deus, isto fala!”.

Em 2002 Antonio Meucci foi reconhecido oficialmente o inventor do telefone.

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  Alexander Graham Bell          Antonio Meucci

Guerra de patentes

Bell patenteou o seu telefone nos Estados Unidos no início de 1876. No dia 10 de Março de 1876, conseguiu fazer a sua primeira transmissão, data designada como o dia do telefone.

A patente de Bell foi contestada repetidamente e apareceu mais de um reivindicador para a honra e recompensa de ser o inventor original do telefone. O caso mais importante foi o de Antonio Meucci, um emigrante italiano, que demonstrou com forte evidência que em 1849, em Havana, Cuba, tinha experimentado a transmissão de voz pela corrente eléctrica. Continuou a sua pesquisa em 1852 e 1853, e subsequentemente nos Estados Unidos, e em 1860 delegou a um amigo que visitava a Europa que procurasse pessoas interessadas na sua invenção. Em 1871, Meucci arquivou um requerimento no Gabinete de Patentes dos Estados Unidos, e tentou convencer o Sr. Grant, presidente da Companhia Telegráfica de Nova Iorque, a experimentar o instrumento.

A doença e a pobreza, consequência de um ferimento devido a uma explosão a bordo de um barco, retardaram suas experiências, e impediram que terminasse a sua patente. O instrumento experimental de Meucci foi exibido no exposição de Filadélfia de 1884, e atraiu muita atenção mas o modelo demonstrado não estava completo. No pedido de patente de 1872 diz que "eu emprego o bem conhecido efeito condutor dos condutores metálicos contínuos como meio para o som, e aumento o efeito eletricamente isolando o condutor e as partes que estão em comunicação. Isto dá forma a um telégrafo falador sem a necessidade de qualquer tubo oco." Na conexão com o telefone usou um alarme elétrico.

Porém, devido a dificuldades financeiras, Meucci apenas conseguiu pagar a patente provisória de sua invenção. Acabou vendendo o protótipo do telefone a Alexander Graham Bell, que, em 1876, patenteou a invenção como sua. Meucci o processou, mas acabou falecendo durante o julgamento e o caso foi encerrado. Assim, Graham Bell foi considerado durante muitos anos como inventor do telefone.

O trabalho de Meucci foi reconhecido postumamente em 11 de junho de 2002, quando o Congresso dos Estados Unidos aprovou a resolução N°. 269, estabelecendo que o inventor do telefone fora, na realidade, Antonio Meucci e não Alexander Graham Bell.


Fontes:
Wikipédia (Antonio Meucci)
Wikipédia (Graham Bell)

terça-feira, 9 de março de 2010

 image 
                                             
Eu gostaria de lhe agradecer pelas inúmeras vezes que você me enxergou melhor do que eu sou.
Pela sua capacidade de me olhar devagar,
já que nessa vida muita gente já me olhou depressa demais.

(Pe. Fábio de Melo)

A Casa Fernando Pessoa e O Instituto Moreira Salles, em parceria, homenagearam no dia 8 de março, no Centro Cultural do Rio, a cantora Maria Bethânia e a professora Cleonice Berardinelli. Elas foram condecoradas com a Ordem do Desassossego, nome do título dedicado a quem divulga a obra de Fernando Pessoa.
O prêmio, destinado a homenagear aqueles que divulgaram a obra do escritor português, foi atribuído pela primeira vez, sendo o Brasil escolhido para essa inauguração, na pessoa dessas duas mulheres.

image Maria Bethânia gravou em 1971 o disco “Rosas dos Ventos”, e em 1972 o álbum “Drama”, incluindo poemas de Fernando Pessoa.
Também declama em seus shows poemas de Fernando Pessoa e outros poetas. “Só canto o que quero, com quem quero, como quero e quando quero. Nunca entendi nenhum movimento, porque não tenho paciência, não posso jamais ser uma cantora de bossa nova, uma cantora de protesto, uma cantora tropicalista. Como cada dia eu quero cantar uma coisa, prefiro não me ligar à nada e a ninguém, para poder cantar o que o meu coração mandar".
(site oficial)

cleoniceCleonice Berardinelli  é professora universitária, especialista em Camões e Fernando Pessoa.
Graduada em Letras Neolatinas pela Universidade de São Paulo (1938) e livre docente pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1959) com uma dissertação intitulada Poesia e Poética de Fernando Pessoa.
É acadêmica correspondente brasileira da Academia das Ciências de Lisboa, Classe de Letras, desde 27 de Novembro de 1975.
No dia 16 de Dezembro de 2009 foi eleita para ocupar a cadeira de número 8 na Academia Brasileira de Letras.
(Wikipédia)


Fontes:
Instituto Moreira Salles
Cultura Brasil - Portugal

segunda-feira, 8 de março de 2010

No Dia Internacional da Mulher, uma prece por todas as que lutam para ter Justiça, Dignidade e Igualdade Social.
E o reconhecimento àquelas que já conseguiram.

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AVE MARIA DAS MULHERES
Silvana Duboc

Mãe,
Aqui, agora e a sós
Quero lhe pedir por todas nós
Por aquelas que foram escolhidas
Para dar a vida
Mulheres de todas as espécies
De todos os credos, raças e nacionalidades;

Todas aquelas nas quais a vida
Está envolvida em sorrisos, lágrimas,
tristezas e felicidades
Aquelas que sofrem por filhos
que geraram e perderam
As que trabalham o dia inteiro
Em casa ou em qualquer emprego;

Quero pedir pelas mães
Que penam por seus filhos doentes
Quero pedir pelas meninas carentes
E pelas que ainda estão dentro de um ventre;

Pelas adolescentes inexperientes
Pelas velhinhas esquecidas em asilos
Sem abrigo, sem família, carinho e amigos
Peço também pelas mulheres enfermas
Que em algum hospital
aguardam pela sua hora fatal;

Quero pedir pelas mulheres ricas
Aquelas que apesar da fortuna
Vivem aflitas e na amargura
Peço por almas femininas mesquinhas,
pequenas e sozinhas
Por mulheres guerreiras a vida inteira
Pelas que não têm como dar a seus filhos
o pão e a educação;

Peço pelas mulheres deficientes
Pelas inconseqüentes
Rogo pelas condenadas,
aquelas que vivem enclausuradas
Por todas que foram obrigadas
a crescer antes do tempo
Que foram jogadas na lavoura
Ou em alguma cama devastadora;

Rogo pelas que mendigando nas ruas
Sobrevivem apesar dessa tortura
Pelas revoltadas,
as excluídas e as sexualmente reprimidas;

Peço pela mulher dominadora e pela traidora
Peço por aquela que sucumbiu sonhos dentro de si
Por todas que eu já conheci
Peço por mulheres solitárias e pelas ordinárias
As mulheres de vida difícil
e que fazem disso um ofício
E pelas que se tornaram voluntárias
por serem solidárias;

Rogo por aquelas que vivem acompanhadas
Embora tristes e amarguradas
E por todas que foram abandonadas
As que tiveram que continuar sozinhas
Sem um parceiro, um amigo, um ombro querido;

Peço pelas amigas
Pelas companheiras
Pelas inimigas
Pelas irmãs e pelas freiras
Suplico por aquelas que perderam a fé
Que se distanciaram da esperança
Quero pedir por todas que clamam por vingança
E com isso se perdem em sua inútil andança;

Rogo pelas que correm atrás de justiça
Que a boa vontade dos homens as assista
Peço pelas que lutam por causas perdidas
Pelas escritoras e as doutoras
Pelas artistas e professoras
Pelas governantes e pelas menos importantes
Suplico pelas fêmeas
que são obrigadas a esconder seus rostos
E amputadas do prazer vivem no desgosto;

Quero pedir também pelas ignorantes
E por todas que no momento estão gestantes
Por aquela mulher triste dentro do coração
Que vive com a alma mergulhada na solidão
Por aquela que busca um amor verdadeiro
Para se entregar de corpo inteiro
E peço pela que perdeu a emoção
Aquela que não tem mais paz dentro do coração
E rogo, imploro, por aquela que ama
E que não correspondida, vive uma vida sofrida
Aquela que perdeu o seu amor
E por isso, sua alma se fechou
Por todas que a droga destruiu
Por tantas que o vício denegriu
Suplico por aquela que foi traída
Por várias que são humilhadas
E pelas que foram contaminadas;

Mãe,
quero pedir por todas nós
Que somos o sorriso e a voz
Que temos o sentimento mais profundo
Porque fomos escolhidas tanto quanto você
Para gerar e, apesar de qualquer coisa,
Amar...
Independente de quem forem nossos filhos
Feios ou bonitos
Amáveis ou rebeldes
Perfeitos ou deficientes
Tristes ou contentes

Mãe,
ajuda-nos a continuar nessa batalha
Nessa guerra diária
Nessa luta sem fim
Ajuda-nos a ser feliz como a gente sempre quis
Dai-nos coragem para continuar
Dai-nos saúde para ao menos tentar
Resignação para tudo aceitar
Dai-nos força para suportar nossas amarguras
E apesar de tudo
continuarmos a ser sinônimo de ternura;

Perdoa-nos por nossos erros
E por nossos insistentes apelos
Perdoa-nos também por nossas revoltas
Nossas lágrimas e nossas derrotas
E não nos deixe nunca mãe, perdermos a fé
E sempre que puder
Peça por nós ao Pai
E lembre-lhe que quando ele criou EVA
Não deixou com ela nenhum mapa de orientação
Nenhum manual com indicação
Nenhuma seta indicando o caminho correto
Nenhuma instrução de como viver
De como, a despeito de tudo vencer
E mesmo assim... Conseguimos aprender.
Amém!

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UMA DATA DE MUITAS HISTÓRIAS

mundo
                   

Dia Internacional da Mulher - uma reflexão sofre as reivindicações femininas por melhores condições de trabalho, justiça e igualdade social.

domingo, 7 de março de 2010

Na semana da Mulher uma homenagem especial às poetisas. 

image ADALGISA NERY
Poetisa, jornalista e política
Nasceu: 29/10/1905
No Rio de Janeiro
Faleceu: 07/06/1980
Mov. Lit.: Modernismo

Na Voz da Poesia


Uma mulher fascinante, musa de toda uma geração, Adalgisa Nery despertou muitas paixões e algumas inimizades, teve uma infância triste e dois casamentos conturbados, com Ismael Nery e Lourival Fontes.

Autora de poemas, contos, crônicas e romances, Adalgisa teve seus dias de glória. Viúva aos 29 anos e dona de um perfil de mulher fatal, consta que ela destroçava corações. "Acho que todos nós a amávamos, mesmo sem saber que se tratava de amor", escreveu Carlos Drummond de Andrade após a morte dela.
(Fonte: A Voz da Poesia)

POEMA DA AMANTE

Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos,
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.

Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.

Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.

Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.

Eu te amo
Desde a criação das águas,
desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.

Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.

In Poemas,1937

image ADÉLIA PRADO
Poetisa e escritora
Nasceu: 13/12/1935 
Em Divinópolis -MG
Mov. Lit.: Contemporâneo

Na Voz da Poesia

 


Adélia costuma dizer que o cotidiano é a própria condição da literatura. Morando na pequena Divinópolis, estão em sua prosa e em sua poesia temas recorrentes da vida de província, a moça que arruma a cozinha, a missa, um certo cheiro do mato, vizinhos, a gente de lá.

"Alguns personagens de poemas são vazados de pessoas da minha cidade, mas espero estejam transvazados no poema, nimbados de realidade. É pretensioso? Mas a poesia não é a revelação do real? Eu só tenho o cotidiano e meu sentimento dele. Não sei de alguém que tenha mais. O cotidiano em Divinópolis é igual ao de Hong-Kong, só que vivido em português."
(Fonte: A Voz da Poesia)

O AMOR NO ÉTER

Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água,
entram e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniços na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo
e a metafísica, exclamam:
como és bonito!
Quero escavar-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar
entre meio-dia e duas horas da tarde.

 

imageALFONSINA STORNI
Poetisa, atriz e professora
Nasceu: 29/05/1892 
Em Sala Capriasca, Suíça
Nac.: Argentina
Faleceu: 25/10/1938

Na Voz da Poesia



Alfonsina está entre as inúmeras mulheres espalhadas pelo mundo durante a Belle Epoque que saíram das sombras para abalar as estruturas de sociedades inteiras.
Neste período várias escritoras surgiram pelo continente latino americano, quebrando com os mitos culturais que rodeavam a aura feminina e libertando a natureza humana que havia sido aprisionada dentro da alma das mulheres.
Através de seus versos começaram a enraizar na sociedade idéias para combater a opressão, ajudando a desenvolver uma consciência coletiva na qual a mulher deveria libertar tudo o que em sua alma estava aprisionado durante séculos e mostrar para a sociedade o que era e o que realmente queria uma mulher.
Em 1938, três dias antes de se suicidar, envia de um hotel de Mar del Plata para um jornal, o soneto “Voy a Dormir”. Consta que suicidou-se andando para dentro do mar — o que foi poeticamente registrado na canção "Alfonsina y el mar", de Ariel Ramírez e Félix Luna (gravada por Mercedes Sosa, Simone, entre outros). Ouça AQUI

A CARÍCIA PERDIDA

Sai-me dos dedos a carícia sem causa,
Sai-me dos dedos… No vento, ao passar,
A carícia que vaga sem destino nem fim,
A carícia perdida, quem a recolherá?

Posso amar esta noite com piedade infinita,
Posso amar ao primeiro que conseguir chegar.
Ninguém chega. Estão sós os floridos caminhos.
A carícia perdida, andará… andará…

Se nos olhos te beijarem esta noite, viajante,
Se estremece os ramos um doce suspirar,
Se te aperta os dedos uma mão pequena
Que te toma e te deixa, que te engana e se vai.

Se não vês essa mão, nem essa boca que beija,
Se é o ar quem tece a ilusão de beijar,
Ah, viajante, que tens como o céu os olhos,
No vento fundida, me reconhecerás?

 

imageANA CRISTINA CESAR
poeta, tradutora e ensaísta
Nasceu: 02/06/1952
Rio de Janeiro – RJ
Faleceu em 29/10/1983
Mov. Lit.: Contemporâneo

Na Voz da Poesia

 

Ela era inquieta, lúcida, bonita. Sedutora e literária sempre, da fala ao gesto irreverente ou delicado.
Sua morte, prematura e voluntária, aos 31 anos, em 1983, legou aos contemporâneos uma perplexidade incômoda e uma obra dispersa que ainda assombra.
Dona de uma literatura de imagens e referências sofisticadas - tramada em sutilezas e armadilhas que por isso mesmo a diferenciam da chamada poesia marginal em que germinou.
Seus últimos versos refletem bem a angústia que vivia: "Estou muito compenetrada de meu pânico/ lá dentro tomando medidas preventivas”.
Ana Cristina César suicidou-se no dia 29 de outubro de 1983. Tinha 31 anos.
(Fonte: A Voz da Poesia)

FAGULHA

Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.

Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando

Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.

Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.

Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.

Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio

Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las

Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.

image CECÍLIA MEIRELES
Poetisa, professora e jornalista
Nasceu: 07/11/1901
Cidade: Rio de Janeiro - RJ
Mov. Lit.: Modernismo
Faleceu: 09/11/1964

Na Voz da Poesia

 

Considerada pela crítica a mais alta personalidade feminina da poesia brasileira e um dos maiores nomes de nossa literatura, em qualquer época, sem distinções preconceituosas de sexos, Cecília Meireles deixou uma obra poética longa, intensa e perturbadora. Foram quase trinta livros de versos, um roteiro que se inicia sob a influência parnasiana e simbolista, se depura numa luta permanente pela expressão pessoal, até atingir aquela altitude para a qual quaisquer definições são inconsistentes: a poesia pura.
Tendo feito aos 9 anos sua primeira poesia, estreou em 1919 com o livro de poemas Espectros, escrito aos 16 anos.

"Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar.
Fonte: A Voz da Poesia

A MULHER E A TARDE

O denso lago e a terra de ouro:
até hoje penso nessa luz vermelha
envolvendo a tarde de um lado e de outro.

E nas verdes ramas, com chuvas guardadas,
e em nuvens beijando os azuis e os roxos.

Perguntava a sombra: “Quem há pelo teu rosto?”
“Que há pelos teus olhos?” – a água perguntava.

E eu pisando a estrada, e eu pisando a estrada,
vendo o lago denso, vendo a terra de ouro,
com pingos de chuva numa luz vermelha…

E eu não respondendo nada.

Sonho muito, falo pouco.
Tudo são riscos de louco
e estrelas da madrugada…

In Vaga Música, 1942

image DENISE EMMER
Poeta, compositora, cantora, violoncelista e escritora.
Rio de Janeiro - RJ

Na Voz da Poesia

 

 

Filha dos escritores Janete Clair e Dias Gomes, tornou-se primeiramente conhecida por temas musicais compostos para personagens das telenovelas, tais como "Pelas muralhas da adolescência", Bandeira 2, e "Alouette", Pai Herói, "Companheiros", Sinhá Moça, entre outros, alcançando depois, reconhecimento pela sua vasta e premiada produção poética.
É violoncelista da Orquestra Rio Camerata.
A poesia de Denise Emmer pode ser tida como um exemplo de obra que, mesmo antes do julgamento implacável do tempo histórico, irá se inscrever no cânone dos grandes poetas brasileiros. São poucos os autores dos quais podemos fazer tal ilação extemporânea, afirmando-a a partir, não da subjetividade do gosto, mas da análise do conjunto da própria obra em questão.
Prêmio ABL de Poesia 2009
Em maio, Denise ganhou o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras com o livro "Lampadário", publicado pela 7Letras.
(Fonte: A Voz da Poesia)

O BEIJO

Levou-me sem feitas frases
Somente passo e camisa
Roubou-me um beijo de brisa
Na quadratura da tarde

Jogou-me contra a parede
Rasgou-me a blusa de linho
Roubou-me um beijo de vinho
Diante das aves vesgas

Puxou-me para seu fundo
Rompeu a rosa pirâmide
Roubou-me um beijo de sangue
E bateu asas no mundo.

image FERNANDA DE CASTRO
Romancista, poeta e conferencista
Nasceu: 8/12/1900 - Lisboa - Portugal
Faleceu em 19/12/1994

Na Voz da Poesia

 

Conferencista, declamadora de poesia, dramaturga, poetisa, ficcionista, autora de guiões cinematográficos, casada com o escritor António Ferro e mãe do escritor António Quadros, viveu na Guiné até aos 12 anos e terminou os estudos liceais em Lisboa.
O escritor David Mourão-Ferreira, durante as comemorações dos cinquenta anos de atividade literária de Fernanda de Castro disse: “Ela foi a primeira, neste país de musas sorumbáticas e de poetas tristes, a demonstrar que o riso e a alegria também são formas de inspiração, que uma gargalhada pode estalar no tecido de um poema, que o Sol ao meio-dia, olhado de frente, não é um motivo menos nobre do que a Lua à meia-noite”.
Parte da vida de Fernanda de Castro, foi dedicada à infância, tendo sido a fundadora da Associação Nacional de Parques Infantis, associação na qual teve o cargo de presidente.
Como escritora, dedicou-se à tradução de peças de teatro, a escrever poesia, romances, ficção e teatro.
Foi juntamente com o marido e outros, fundadora da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses.
(Fonte: A Voz da Poesia)

ASA NO ESPAÇO

Asa no espaço, vai pensamento!
Na noite azul, minha alma, flutua!
Quero voar no braços do vento,
quero vogar nos barcos da Lua!

Vai, minha alma, branco veleiro,
vai sem destino, a bússola tonta.
Por oceanos de nevoeiro,
corre o impossível, de ponta a ponta.

Quebra a gaiola, pássaro louco!
Não mais fronteiras, foge de mim,
que a terra é curta, que o mar é pouco,
que tudo é perto, princípio e fim.

Castelos fluidos, jardins de espuma,
ilhas de gelo, névoas, cristais,
palácios de ondas, terras de bruma,
asa, mais alto, mais alto, mais!

image SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
poeta, contista
Nasceu: 06/11/1919
Porto - Portugal
Faleceu: 02/07/2004

Na Voz da Poesia


Nascida no Porto, de origem dinamarquesa pelo lado paterno e educada num meio aristocrático, esteve muito cedo ligada à luta antifascista e, a seguir ao 25 de Abril, foi deputada à Assembleia Constituinte. Os seus principais poemas de resistência política foram reunidos na antologia Grades (1970), sem prejuízo da aspiração à liberdade e à justiça impregnarem toda a sua obra, como uma ética poética que lhe fosse natural. Viu a sua carreira consagrada com o Prémio Camões, em 1999.
"Recordo-me de descobrir que num poema era preciso que cada palavra fosse necessária, as palavras não podem ser decorativas, não podiam servir só para ganhar tempo até ao fim do decassílabo, as palavras tinham que estar ali porque eram absolutamente indispensáveis".
A extensa obra que nos legou reparte-se pelos domínios da poesia, da ficção, do conto para crianças, do ensaio, do teatro e tradução (com magníficas versões de textos de Eurípides, Shakespeare, Claudel e Dante).
(Fonte: A Voz da Poesia)

PORQUE

Porque os outros se mascaram e tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos calados
Onde germina calada podridão
Porque os outros se calam mas tu não

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo
Porque os outros são hábeis mas tu não

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos
Porque os outros calculam mas tu não.


Muitas outras poetisas merecem estar neste post, mas escolhi estas para representar todas elas. Convido-os a conhecê-las no site A Voz da Poesia.

EXTRAÍDOS DO SITE WWW.AVOZDAPOESIA.COM.BR

Os arquivos desta página estão sob licença da Creative Commons License

sábado, 6 de março de 2010

Na Semana da Mulher um olhar compreensivo e amoroso para eles, parceiros de vida.

image
                                  Pintura de Tomasz Rut

CANÇÃO DOS HOMENS
Lya Luft

Que quando chego do trabalho ela largue por um instante o que estiver fazendo - filho, panela ou computador - e venha me dar um beijo como os de antigamente.

Que quando nos sentarmos à mesa para jantar ela não desfie a ladainha dos seus dissabores domésticos.
E se for uma profissional, que divida comigo o tempo de comentarmos nosso dia.

Que se estou cansado demais para fazer amor, ela não ironize nem diga que "até que durou muito" o meu desejo ou potência.

Que quando quero fazer amor ela não se recuse demasiadas vezes, nem fique impaciente ou rígida, mas cálida como foi anos atrás.

Que não tire nosso bebê dos meus braços dizendo que homem não tem jeito pra isso, ou que não sei segurar a cabecinha dele, mas me ensine docemente se eu não souber.

Que ela nunca se interponha entre mim e as crianças, mas sirva de ponte entre nós quando me distancio ou me distraio demais.

Que ela não me humilhe porque estou ficando calvo ou barrigudo, nem comente nossas intimidades com as amigas, como tantas mulheres fazem.

Que quando conto uma piada para ela ou na frente de outros, ela não faça um gesto de enfado dizendo "Essa você já me contou umas mil vezes".

Que ela consiga perceber quando estou preocupado com trabalho, e seja calmamente carinhosa, sem me pressionar para relatar tudo, nem suspeitar de que já não gosto dela.

Que quando preciso ficar um pouco quieto ela não insista o tempo todo para que eu fale ou a escute, como se silêncio fosse falta de amor.

Que quando estou com pouco dinheiro ela não me acuse de ter desperdiçado com bobagens em lugar de prover minha família.

Que quando eu saio para o trabalho de manhã ela se despeça com alegria, sabendo que mesmo de longe eu continuo pensando nela.

Que quando estou trabalhando ela não telefone a toda hora para cobrar alguma coisa que esqueci de fazer ou não tive tempo.

Que não se insinue com minha secretária ou colega para descobrir se tenho amante.

Que com ela eu também possa ter momentos de fraqueza e de ternura, me desarmar, me desnudar de alma, sem medo de ser criticado ou censurado: que ela seja minha parceira, não minha dependente nem meu juiz.

Que cuide um pouco de mim como minha mulher, mas não como se eu fosse uma criança tola e ela a mãe, a mãe onipotente, que não me transforme em filho.

Que mesmo com o tempo, os trabalhos, os sofrimentos e o peso do cotidiano, ela não perca o jeito terno e divertido que tanto me encantou quando a vi pela primeira vez.

Que eu não sinta que me tornei desinteressante ou banal para ela, como se só os filhos e as vizinhas merecessem sua atenção e alegria.

E que se erro, falho, esqueço, me distancio, me fecho demais, ou a machuco consciente ou inconscientemente,
ela saiba me chamar de volta com aquela ternura que só nela eu descobri, e desejei que não se perdesse nunca, mas me contagiasse e me tornasse mais feliz, menos solitário, e muito mais humano.

sexta-feira, 5 de março de 2010

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                                            Pintura de Pino Daeni

CANÇÃO DAS MULHERES
Lya Luft

Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.

Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.

Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.

Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.

Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.

Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.

Que o outro sinta quanto me dói a idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.

Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''

Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.

Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.

Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.

Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.

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