terça-feira, 3 de agosto de 2010

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                                            Imagem: Kim Anderson

ENLEIO
Carlos Drummond de Andrade


Que é que vou dizer a você?
Não estudei ainda o código de amor.
Inventar, não posso.
Falar, não sei.
Balbuciar, não ouso.
Fico de olhos baixos espiando,
no chão, a formiga.
Você sentada na cadeira de palhinha.
Se ao menos você ficasse aí nessa posição,
perfeitamente imóvel, como está,
uns quinze anos (só isso)...
Então, eu diria:
Eu te amo.
Por enquanto sou apenas o menino
Diante da mulher que não percebe nada.
Será que você não entende?
Será que você é burra?

 

In poesias completas, pg 1024

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O Programa de Desenvolvimento e Empregabilidade para Pessoas com Necessidades Especiais – Gente Capaz, da Embratel e o Instituto Embratel, recebem currículos para seleção, treinamento, capacitação e estágios, para pessoas com alguma deficiência física e está aceitando cadastro para futuros processo seletivos.

Com o objetivo de possibilitar a empregabilidade de pessoas com deficiência, o Programa Gente Capaz, sob a gestão da Gerência de Sustentabilidade, está criando um canal para receber indicações desses profissionais.

Se você se enquadra nesse perfil ou conhece alguém que, e que tenha interesse em ingressar em uma grande empresa, envie o currículo para o email

 sustent@embratel.com.br.

Para evitar a veiculação de informações que não procedem, antes, leia todo o programa no site da Embratel.

http://www.institutoembratel.org.br/institutoembratel/projetos/gente.php

É importante essa divulgação porque, na maioria das  vezes, essas notícias ficam perdidas nesse “vasto mundo” que é a Internet.

 

Imagem: Hugo Ferrante – a quem agradeço pela informação.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Rosa vermelha ABISMO DE ROSAS Rosa vermelha

O grande violonista Américo Jacomino, o Canhoto,  tinha apenas 16 anos quando compôs "Abismo de Rosas", em 1905.

A composição era um desabafo a uma decepção amorosa, pois o autor acabara de ser abandonado pela namorada, filha de um escravo.

Canhoto realizou três gravações desta valsa: a primeira, com o nome de "Acordes do Violão", lançada em meados de 1916; a segunda, já como "Abismo de Rosas", em 1925; e, finalmente, a terceira em 1927.

Peça obrigatória no repertório de nossos violonistas - de Dilermando Reis a Baden Powell -, "Abismo de Rosas" é considerada o hino nacional do violão brasileiro pelo professor Ronoel Simões, uma autoridade no assunto. *

Além da letra de João do Sul (Filho de Américo Jacomino, o Canhoto) recebeu também uma letra de José Fortuna, a qual foi gravada pelo Francisco Petrônio.

Em sua forma instrumental, essa Valsa é uma das mais belas melodias já compostas para Solo de Violão.

Rosa vermelha Aqui, imortalizada pelo violão de Dilermano Reis



Rosa vermelha Aqui na voz de Francisco Petrônio com Chico Moraes e Sua Orquestra and Coro
Música de Américo Jacomino e letra de José Fortuna



Ao te encontrar assim eu sei quanto tu és infeliz
Chego a sofrer também por lembrar o quanto eu já te quis
A minha mão te dei para te salvar do abismo
Mas foi tudo em vão, pois desprezaste o meu amor.

És flor do mal que o tempo desfolhou um céu azul, nublado
Este é o abismo de rosa, vulto a viver do pecado
Cedo mulher, porém, perdeste a paz porque te faltou carinho
E o sonho azul de um doce lar, mas é tarde demais para voltar.

Não, não quero ver-te, eu devo esquecer-te, a minha dor será maior
Se eu ver os lábios teus outra boca beijar, teu nome recorda
No jardim da vida, rosa uma flor que secou e por ti também meu coração murchou.


 Rosa vermelha E aqui, na versão cantada pela dupla Afilhados d’As Galvão.


                                                        
Música: Américo Jacomino (Canhoto) 
Letra: João do Sul

Ao amor em vão fugir
Procurei
Pois tu
Breve me fizeste ouvir
Tua voz, mentira deliciosa
E hoje é meu ideal
Um abismo de rosas
Onde a sonhar
Eu devo, enfim, sofrer e amar !

Mas hoje que importa
Se tu'alma é fria
Meu coração se conforta
Na tua própria agonia
Se há no meu rosto
Um rir de ventura
Que importa
o mudo desgosto
De minha dor assim,
Sem fim

Se minha esperança
O que não se alcança
Sonhou buscar
Devo calar
Hoje, meu sofrer
E jamais dele te dizer
O amor se é puro
Suporta obscuro
Quase a sorrir
A dor de ver,
A mais linda ilusão morrer.

Humilde, bem vês que vou,
A teus pés levar,
Meu coração que jurou,
Sempre ser, amigo e dedicado,
Tenha, embora, que viver,
Neste sonho enganado,
Jamais direi,
Que assim vivi, porque te amei!


* Fonte: mpbantiga.blogspot.com
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Vou onde o vento me leva
Música: Renato Motha
Poesia: Alberto Caeiro / Fernando Pessoa

Hoje de manhã saí muito cedo, 
Por ter acordado ainda mais cedo 
E não ter nada que quisesse fazer...

Não sabia que caminho tomar 
Mas o vento soprava forte, varria para um lado, 
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida, e 
Assim quero que possa ser sempre -- 
Vou onde o vento me leva e não me 
Sinto pensar.


Fonte do vídeo
Afastada da net por obra e graça da Oi/Telemar – que sumiu com o sinal da Velox –, deixei de registrar datas importantes nos meses de Junho e Julho. Peço desculpas aos amigos da Voz da Poesia e do Dihitt que fizeram aniversário e eu não postei, como vinha fazendo. Sintam-se todos abraçados e festejados!
Uma data, no entanto, não posso deixar passar em branco… Mesmo com atraso registro aqui a minha lembrança e a minha saudade: Evelin, Guria, você faz uma tremenda falta na vida dos que a amam. Só tenho a dizer que os anjos têm mais sorte do que nós…
E assim como Almas Perfumadas parece ter sido feita pra você, a nossa escritora preferida enlaçou “Com fios de amor” os nossos corações, que dedico a você e também ao Milton, porque entendemos que a saudade não tem que ser – necessariamente - sofrimento, nem a que machuca a alma ou faz do espírito refém. A nossa saudade é assim… “feita de um punhado de sorrisos viçosos floridos no jardim da memória… que desembrulham lembranças e deixam o instante da gente todo perfumado de Deus”
Pra você, Guria, pelo dia do seu aniversário: 15 de Julho.
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                                                         Pintura de Leonid Afremov
 
COM FIOS DE AMOR
Ana Cláudia Saldanha Jácomo

Era saudade, sim, eu pude dar nome quando tocou o meu instante com mãos de surpresa e me convidou pra sentir. Eu deixei que crescesse, que expandisse seus ramos, que florisse com calma, sem tentar adiá-la ou entretê-la, essas coisas que às vezes a gente tenta fazer com saudade que machuca, e vez ou outra até consegue. Mas aquela, eu pressenti pela melodia do perfume que emanava, aquela não tinha a mínima intenção de ferir. Aquela não saberia, ainda que tentasse. Aquela, eu sei, não tentaria.
Não era daquelas saudades que fazem a musculatura da vida ficar toda contraída de dor. Daquelas que amordaçam as flores e espantam as borboletas. Daquelas que engasgam o canto e fazem as asas encolherem. Daquelas traiçoeiras que, na primeira oportunidade, quebram as pontas dos nossos lápis de cor. Daquelas que escondem os brinquedos da gente nas prateleiras mais altas e, por via das dúvidas, encurtam os braços do nosso contentamento. Daquelas que inflam nuvens que depois inundam tudo de carência e de tristeza. Não, aquela não.
Aquela era uma saudade feita de um punhado de sorrisos viçosos floridos no jardim da memória. Era pássaro que cantava macio na árvore mais frondosa da minha gratidão. Era mar que estendia ondas suaves de ternura por toda a orla dos meus olhos. Aquela era dessas saudades que toda vez que dizem acendem um mundaréu de estrelas no céu do coração. Era uma certeza de que a vida sempre arruma maneiras para aproximar as almas irmãs, esses anjos vestidos de gente que tornam mais fácil e mais feliz a nossa temporada de aulas e recreios nesse mundo.
Aquela era dessas saudades bem-vindas que trazem também descanso e alegria na sua cesta de bênçãos. Era dessas saudades que derrubam cercas e desenham pontes. Era dessas saudades que desembrulham lembranças que deixam o instante da gente todo perfumado de Deus. Aquela era dessas saudades generosas que bordam sol no tecido da alma com os seus lindos fios de amor.


Para ouvir:
domingo, 1 de agosto de 2010


Tudo Novo de Novo
Paulinho Moska 


Vamos começar
Colocando um ponto final
Pelo menos já é um sinal
De que tudo na vida tem fim
Vamos acordar
Hoje tem um sol diferente no céu
Gargalhando no seu carrossel
Gritando nada é tão triste assim
É tudo novo de novo
Vamos nos jogar onde já caímos
Tudo novo de novo
Vamos mergulhar do alto onde subimos
Vamos celebrar
Nossa própria maneira de ser
Essa luz que acabou de nascer
Quando aquela de trás apagou
E vamos terminar
Inventando uma nova canção
Nem que seja uma outra versão
Pra tentar entender que acabou
Mas é tudo novo de novo
Vamos nos jogar onde já caímos
Tudo novo de novo
Vamos mergulhar do alto onde subimos
sábado, 8 de maio de 2010

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               Imagem by Google – pode ter direitos autorais


ÀS FUTURAS MÃES
Anderson Christofoletti

Espádua nua;
Lua
Nascente.

Entre a luz morna
E a sombra segura
De seu ventre
Explodirá a semente:

Diamante bruto,
Impoluto
Reflexo do dia - antes oculto -

Sua maior concepção virá ao mundo.

Ele
Será sua pedra mais preciosa,
Sua parte mais precisa.

Ele
Trará sua nova visão das coisas
E novas coisas a serem vistas.

Ele
Será sua lágrima em sorriso
E, talvez, sua única alegria nas suas horas mais tristes.

Ele,
Que no primeiro beijo lhe trará o segredo da natureza,
Será sua maior riqueza,
Seu maior sonho posto em prática,
Sua realidade mais poética.

Ele,
Que no primeiro passo lhe deixará sem rumo,
A partir de hoje, será seu futuro.

Ele,
Que no primeiro gesto fará seu coração se abrir,
Que na primeira palavra roubará sua fala,
Lhe fará chorar e rir
Ao mesmo tempo
Com apenas
Um verso perfeito:

Mãe.

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©Anderson Christofoletti

Os textos deste autor estão sob licença da
Creative Commons License

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                              Imagem by Google – pode ter direitos autorais

A CANÇÃO DE QUALQUER MÃE
Lya Luft

"Filhos, vocês terão sempre me dado muito mais do que esperei
ou mereci ou imaginei ter"

Que nossa vida, meus filhos, tecida de encontros e desencontros, como a de todo mundo, tenha por baixo um rio de águas generosas, um entendimento acima das palavras e um afeto além dos gestos – algo que só pode nascer entre nós. Que quando eu me aproxime, meu filho, você não se encolha nem um milímetro com medo de voltar a ser menino, você que já é um homem. Que quando eu a olhe, minha filha, você não se sinta criticada ou avaliada, mas simplesmente adorada, como desde o primeiro instante.

Que, quando se lembrarem de sua infância, não recordem os dias difíceis (vocês nem sabiam), o trabalho cansativo, a saúde não tão boa, o casamento numa pequena ou grande crise, os nervos à flor da pele – aqueles dias em que, até hoje arrependida, dei um tapa que ainda agora dói em mim, ou disse uma palavra injusta. Lembrem-se dos deliciosos momentos em família, das risadas, das histórias na hora de dormir, do bolo que embatumou, mas que vocês, pequenos, comeram dizendo que estava maravilhoso. Que pensando em sua adolescência não recordem minhas distrações, minhas imperfeições e impropriedades, mas as caminhadas pela praia, o sorvete na esquina, a lição de casa na mesa de jantar, a sensação de aconchego, sentados na sala cada um com sua ocupação.

Que quando precisarem de mim, meus filhos, vocês nunca hesitem em chamar: mãe! Seja para prender um botão de camisa, ficar com uma criança, segurar a mão, tentar fazer baixar a febre, socorrer com qualquer tipo de recurso, ou apenas escutar alguma queixa ou preocupação. Não é preciso constrangerem-se de ser filhos querendo mãe, só porque vocês também já estão grisalhos, ou com filhos crescidos, com suas alegrias e dores, como eu tenho e tive as minhas. Que, independendo da hora e do lugar, a gente se sinta bem pensando no outro. Que essa consciência faça expandir-se a vida e o coração, na certeza de que aquela pessoa, seja onde for, vai saber entender; o que não entender vai absorver; e o que não absorver vai enfeitar e tornar bom.

Que quando nos afastarmos isso seja sem dilaceramento, ainda que com passageira tristeza, porque todos devem seguir seu caminho, mesmo que isso signifique alguma distância: e que todo reencontro seja de grandes abraços e boas risadas. Esse é um tipo de amor que independe de presença e tempo. Que quando estivermos juntos vocês encarem com algum bom humor e muita naturalidade se houver raízes grisalhas no meu cabelo, se eu começar a repetir histórias, e se tantas vezes só de olhar para vocês meus olhos se encherem de lágrimas: serão apenas de alegria porque vocês estão aí. Que quando pareço mais cansada vocês não tenham receio de que eu precise de mais ajuda do que vocês podem me dar: provavelmente não precisarei de mais apoio do que do seu carinho, da sua atenção natural e jamais forçada. E, se precisar de mais que isso, não se culpem se por vezes for difícil, ou trabalhoso ou tedioso, se lhes causar susto ou dor: as coisas são assim. Que, se um dia eu começar a me confundir, esse eventual efeito de um longo tempo de vida não os assuste: tentem entrar no meu novo mundo, sem drama nem culpa, mesmo quando se impacientarem. Toda a transformação do nascimento à morte é um dom da natureza, e uma forma de crescimento.

Que em qualquer momento, meus filhos, sendo eu qualquer mãe, de qualquer raça, credo, idade ou instrução, vocês possam perceber em mim, ainda que numa cintilação breve, a inapagável sensação de quando vocês foram colocados pela primeira vez nos meus braços: misto de susto, plenitude e ternura, maior e mais importante do que todas as glórias da arte e da ciência, mais sério do que as tentativas dos filósofos de explicar os enigmas da existência. A sensação que vinha do seu cheiro, da sua pele, de seu rostinho, e da consciência de que ali havia, a partir de mim e desse amor, uma nova pessoa, com seu destino e sua vida, nesta bela e complicada terra. E assim sendo, meus filhos, vocês terão sempre me dado muito mais do que esperei ou mereci ou imaginei ter.

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