terça-feira, 12 de outubro de 2010

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A FOCA
Vinicius de Moraes

Quer ver a foca
Ficar feliz?
É por uma bola
No seu nariz.

Quer ver a foca
Bater palminha?
É dar a ela
Uma sardinha.

Quer ver a foca
Fazer uma briga?
É espetar ela
Bem na barriga!

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in Poesia completa e prosa: "Poemas infantis"
in Poesia completa e prosa: "Cancioneiro"
Imagens da Internet, by Google

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A arca de Noé
Vinicius de Moraes

 

Sete em cores, de repente
O arco-íris se desata
Na água límpida e contente
Do ribeirinho da mata.

O sol, ao véu transparente
Da chuva de ouro e de prata
Resplandece resplendente
No céu, no chão, na cascata.

E abre-se a porta da Arca
De par em par: surgem francas
A alegria e as barbas brancas
Do prudente patriarca

Noé, o inventor da uva
E que, por justo e temente
Jeová, clementemente
Salvou da praga da chuva.

Tão verde se alteia a serra
Pelas planuras vizinhas
Que diz Noé: "Boa terra
Para plantar minhas vinhas!"

E sai levando a família
A ver; enquanto, em bonança
Colorida maravilha
Brilha o arco da aliança.

Ora vai, na porta aberta
De repente, vacilante
Surge lenta, longa e incerta
Uma tromba de elefante.

E logo após, no buraco
De uma janela, aparece
Uma cara de macaco
Que espia e desaparece.

Enquanto, entre as altas vigas
Das janelinhas do sótão
Duas girafas amigas
De fora as cabeças botam.

Grita uma arara, e se escuta
De dentro um miado e um zurro
Late um cachorro em disputa
Com um gato, escouceia um burro.

A Arca desconjuntada
Parece que vai ruir
Aos pulos da bicharada
Toda querendo sair.

Vai! Não vai! Quem vai primeiro?
As aves, por mais espertas
Saem voando ligeiro
Pelas janelas abertas.

Enquanto, em grande atropelo
Junto à porta de saída
Lutam os bichos de pêlo
Pela terra prometida.

"Os bosques são todos meus!"
Ruge soberbo o leão
"Também sou filho de Deus!"
Um protesta; e o tigre – "Não!"

Afinal, e não sem custo
Em longa fila, aos casais
Uns com raiva, outros com susto
Vão saindo os animais.

Os maiores vêm à frente
Trazendo a cabeça erguida
E os fracos, humildemente
Vêm atrás, como na vida.

Conduzidos por Noé
Ei-los em terra benquista
Que passam, passam até
Onde a vista não avista.

Na serra o arco-íris se esvai...
E... desde que houve essa história
Quando o véu da noite cai
Na terra, e os astros em glória

Enchem o céu de seus caprichos
É doce ouvir na calada
A fala mansa dos bichos
Na terra repovoada.

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in Poesia completa e prosa: "Poemas infantis"
in Poesia completa e prosa: "Cancioneiro"

Imagens da Internet, by Google

domingo, 10 de outubro de 2010
card_marioquintana_2
sábado, 9 de outubro de 2010

Gosto de visitar blogs. Adorooo. E não só leio os textos, como também os comentários. As vezes, o comentário é tão ou mais bonito que o próprio texto.
Não é o caso deste que vou postar, porque o texto é maravilhoso, mas o comentário está no mesmo patamar de beleza. Me encantou, me enterneceu.

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O comentário:

 "Deita, menino, tua cabeça no meu ombro.
Se quiseres continuar tocando tua flauta, ouvirei todas as notas e verei todos os risos que dela se elevam aos céus.
Se quiseres chorar, não farei barulho algum, para que possas ouvir o bater forte e compassado de meu coração dizendo que nas lágrimas mais sentidas estão escondidos os acenos de esperança.
Dorme, menino, deixa que o vento brinque com teus cabelos suaves, te beije os olhos e os sonhos; enquanto ressonas, recordarei teus murmúrios, teus pedidos às estrelas quando, numa poça d’água, achavas que as tinhas a escorrer entre os dedos.
Quando acordares será outro tempo e abrindo teus olhos e tua mente, terás tempo suficiente para sentires o sol raiando na tua vontade louca de viver!
Por enquanto, adormece menino; prometo segurar teu balão colorido para que não saia a voar sem destino e também não deixarei que as formigas façam a festa com teu algodão doce porque, sei, o clima não é de festa…
Quero apenas que descanse teu cansaço, tua dor, tua aflição; quem sabe sonhes com uma pipa linda a riscar o espaço, quem sabe sonhes com uma rosa ou com uma nova canção.
Me permitas apenas que eu sorria, na tentativa de que teu sono seja em paz.”

(Isabel Cintra Nepomuceno para o poeta Álvaro Alves de Faria)
Fonte > AQUI

 

O Texto que deu origem ao comentário acima:
Fonte > AQUI

A FESTA DE MARIA CLARA

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Era uma vez um poeta que foi a uma festa de crianças.

Tinha bastante balões coloridos, de muitas cores coloridas de azul, vermelho, amarelo, verde, lilás.

Uma porção de cores coloridas.

Tinha bolo cheio de chantili e uma música bonita de violino.

Era uma vez um poeta que foi numa festa de uma fadinha chamada Maria Clara.

Tinha a Clara Morena, tinha o Luquinha, tinha outro Lucas, e mais outro Lucas, tinha a Rafaela-Rafinha, tinha a Maria Fernanda, tinha a Carol, tinha a Vitória, a Gabriella, a Giovanna, o Nicolas, tinha o João Pedro, tinha o Luis Gustavo, tinha a Gabriela Wood, tinha o Vinícius, tinha outro Vinícius, tinha o Pedro, o Eduardo, o Ricardo, o Enzo, a Bruna, o Arthum, tinha também a Júlia, que ainda está na barriga da mamãe, tinha também o Gustavo, que também está ainda na barriga da mamãe, e tinha ainda a irmã do Luquinha, que ainda não tem nome e que está também na barriga da mamãe…

Tinha também um menino desconhecido de mim. Era um menino triste, mas dançava e tocava flauta.

Tocou músicas antigas que ninguém conhecia, mas eram tão bonitas que todas as pessoas pararam para ouvir.

O menino desconhecido lembrou-se de um escritor chamado Antoine de Saint-Exupéry, que escreveu um livro chamado O Pequeno Príncipe.

Tinha também o pequeno príncipe andando entre as pessoas. Ele assistiu ao filme de Maria Clara, seu nascimento, seus primeiros acenos, seu primeiro sorriso. Ele viu a mamãe de Maria Clara formosa como uma margarida e o papai de Maria Clara orgulhoso como um girassol.

Esse menino desconhecido de mim pensou no escritor francês e começou a pensar no seu livro que ele guarda até hoje num lugar especial de sua alma.

Disse então para si mesmo que o amor verdadeiro nunca se desgasta, porque quanto mais se dá  mais se tem.

Disse também que só se vê bem com o coração, porque os olhos não vêem o essencial.

Pensou ainda que a gente se torna responsável para sempre por aquilo que cativa.

E falou baixinho que num mundo que cada vez mais se parece com um grande deserto, a gente tem sede de encontrar um amigo.

E ainda falou baixinho, mas bem baixinho mesmo, que as crianças devem ser indulgentes com as pessoas grandes.

As pessoas grandes são muito complicadas.

As pessoas grandes não entendem nada.

Depois o menino olhou para o céu e disse dentro de si que todas as estrelas são floridas.

O menino desconhecido de mim tinha duas luas novas no bolso e nove estrelas nas mãos. Tinha também um regador cor-de-rosa e regou as plantas com a água da chuva.

Ele tinha cinco cachorrinhos, quatro borboletas, duas abelhas, uma porção de passarinhos, oito nuvens e uma bolsa cheia de sonhos.

Tinha também uma folha que caiu de uma árvore e ele pegou.

Tocava música com sua flauta, num canto do jardim.

Era uma vez um poeta que foi à festa de uma fadinha chamada Maria Clara.

Tinha uma porção de gente feliz.

Tinha um menino quieto, um menino que sempre foi triste, que tocava música e dizia poemas pequenos dentro do meu coração.

 

Álvaro Alves de Faria é jornalista, poeta e escritor. Formação em Sociologia e Política. Literatura e Língua Portuguesa. Mestrado em Comunicação Social. Autor de mais de 50 livros, entre poesia, romances, ensaios literários e também peças de teatro. Mas é fundamentalmente poeta.
Fonte >>
AQUI

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

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PENSO EM TI E DENTRO DE MIM ESTOU COMPLETO
Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

Vai alta no céu a lua da Primavera
Penso em ti e dentro de mim estou completo.

Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.

Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo,
E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores.
Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos,
Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores,
Isso será uma alegria e uma verdade para mim.

 

In O Pastor Amoroso

Imagem: pintura de Hamilton Hamilton (1882)

sábado, 2 de outubro de 2010

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METADE PÁSSARO
Murilo Mendes


A mulher do fim do mundo
Dá de comer às roseiras,
Dá de beber às estátuas,
Dá de sonhar aos poetas.

A mulher do fim do mundo
Chama a luz com um assobio.
Faz a virgem virar pedra,
Cura a tempestade,
Desvia o curso dos sonhos.
Escreve cartas ao rio,
Me puxa do sono eterno
Para os seus braços que cantam.

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Imagem: Jonhaton Earl Bowser

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

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