quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
foto-bebes-da-parmalat-01
AS INGÊNUAS, DELICIOSAS MENTIRAS
Adelmar Tavares

Que bem fazem à gente certas mentiras
Essas pequenas, ingênuas deliciosas mentiras...
Essas mentirinhas bebês,
redondinhas, rosadas e frescas...
A dos médicos para seus enfermos desenganados:
— "Mas está excelente! Vai sarar!"
A dos amigos para os nossos poemas:
— "Cortei na revista... Guardei-o comigo".
E sobre todas, as da criatura amada
que justifica, no reclamo da saudade:
— "Sonhei contigo a noite inteira... e estou intranqüila... Vem!..."
Meu Deus do Céu, que imenso bem!...
A gente tem vontade de pegar essas mentirinhas como aos bebês,
redondinhas, rosadas e frescas,
e atirá-las para o alto, pelos braços,
às momices e aos beijos...
— "De quem é essa mentirinha mais bonita do mundo?
— "De quem é essa mentirinha tão querida, gente?"
E depois, num abraço bem apertado, numa efusão,
enterrá-las, como um tesouro de felicidade,
no coração.
♥  ♥  ♥
Imagem: “Bebês da Parmalat”, by Google

monet

A VOZ QUE NOS RASGOU POR DENTRO
Nuno Judice

De onde vem - a voz que
nos rasgou por dentro, que
trouxe consigo a chuva negra
do outono, que fugiu por
entre névoas e campos
devorados pela erva?

Esteve aqui — aqui dentro
de nós, como se sempre aqui
tivesse estado; e não a
ouvimos, como se não nos
falasse desde sempre,
aqui, dentro de nós.

E agora que a queremos ouvir,
como se a tivéssemos re-
conhecido outrora, onde está? A voz
que dança de noite, no inverno,
sem luz nem eco, enquanto
segura pela mão o fio
obscuro do horizonte.

Diz: "Não chores o que te espera,
nem desças já pela margem
do rio derradeiro. Respira,
numa breve inspiração, o cheiro
da resina, nos bosques, e
o sopro húmido dos versos."

Como se a ouvíssemos.

 

©Nuno Júdice
In Meditação sobre Ruínas
Imagem: pintura de Monet

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

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PEDIDO
Fábio de Melo

Eu não quero que você seja eu
Eu já tenho a mim.
O que quero é que você chegue
Com seu poder de chegar
E de me devolver pra mim.
Que você chegue com seu dom
De também me fazer chegar
Perto de mim...

Pra mim fazer o que sou e que só você viu.
Pra eu ser capaz de amar também
O que só você amou.
Eu não quero que você seja igual a mim.
Eu já tenho a mim.
Não quero construir uma casa de espelhos
Que multiplique minha imagem por
todos os cantos.
Quero apenas que você me reflita
Melhor do que julgo ser.

In Quem me roubou de mim? - Pe. Fábio de Melo
Imagem: pintura de Childe Hassam (1859-1935)

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

QUERO NASCER DE NOVO
Dionísio Furtes Alvarez

Quero nascer de novo cada dia que nasce.
Quero ser outra vez novo, puro, cristalino.

Quero lavar-me, cada manhã, do homem velho,
da poeira velha, das palavras gastas,
dos gestos rituais.

Quero reviver a primeira manhã da criação,
o primeiro abrir dos olhos para a vida.

Quero que cada manhã
a alma desabroche do sono
como a rosa do botão,
e surja, como a aurora do oceano,
ao sorriso dos teus lábios,
ao gesto de tua mão.

Quero me engrinaldar para a festa renovada
como que cada dia nos convidasse
e desdobrar as asas como a águia
em demanda do sol.

Quero crer, a cada nova aurora,
que esta é a definitiva,
a do encontro com a felicidade,
a da permanência assegurada,
a do teu sim definitivo.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

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É NATAL 
Fernando Tanajura Menezes

Cavalo de pau
Barco de papel
Boneca de pano
E um falso anel

Bola de sabão
Azul da cor do céu
Saco de pipoca
Velho Papai Noel

É noite de Natal
Na igreja bate o sino
Corremos pro presépio
Pra ver o Deus-Menino

Estrela mais brilhante
Tempo de magia
Guia os três Reis Magos
E traz muita alegria

Tempo de Natal
Tempo só de luz
Tempo de presentes
É tempo de Jesus

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Fernando Tanajura Menezes é Poeta, Contador e Administrador de Empresas
Nasceu em
Nazaré das Farinhas – Ba

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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

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PAPAI NOEL ÀS AVESSAS
Carlos Drummond de Andrade

Papai Noel entrou pela porta dos fundos
(no Brasil as chaminés não são praticáveis),
entrou cauteloso que nem marido depois da farra.
Tateando na escuridão torceu o comutador
e a eletricidade bateu nas coisas resignadas,
coisas que continuavam coisas no mistério do Natal.
Papai Noel explorou a cozinha com olhos espertos,
achou um queijo e comeu.

Depois tirou do bolso um cigarro que não quis acender.
Teve medo talvez de pegar fogo nas barbas postiças
(no Brasil os Papai-Noéis são todos de cara raspada)
e avançou pelo corredor branco de luar.
Aquele quarto é o das crianças
Papai  entrou compenetrado.

Os meninos dormiam sonhando outros natais muito mais lindos
mas os sapatos deles estavam cheinhos de brinquedos
soldados mulheres elefantes navios
e um presidente de república de celulóide.

Papai Noel agachou-se e recolheu aquilo tudo
no interminável lenço vermelho de alcobaça.
Fez a trouxa e deu o nó, mas apertou tanto
que lá dentro mulheres elefantes soldados presidente brigavam por causa do  aperto.

Os pequenos continuavam dormindo.
Longe um galo comunicou o nascimento de Cristo.
Papai Noel voltou de manso para a cozinha,
apagou a luz, saiu pela porta dos fundos.

Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes.

In Alguma Poesia, 1930
Mais Drummond >> A Voz da Poesia

Imagem: dos arquivos da Voz da Poesia

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