sábado, 12 de março de 2011

Os primeiros perfumes ascendem da terra
Como emanações de calor de um corpo jovem.
Na treva os lírios tremem, as rosas se desfolham...
O silêncio sopra sono pelo vento
Tudo se dilata um momento e se enlanguesce
E dorme.
Eu vou me desprendendo de mansinho...

A noite dorme.

rosa_desfolhada

SONORIDADE
Vinícius de Moraes


Meus ouvidos pousam na noite dormente como aves calmas
Há iluminações no céu se desfazendo...
O grilo é um coração pulsando no sono do espaço
E as folhas farfalham um murmúrio de coisas passadas
Devagarinho…
Em árvores longínquas pássaros sonâmbulos pipilam
E águas desconhecidas escorrem sussurros brancos na treva.
Na escuta meus olhos se fecham, meus lábios se oprimem
Tudo em mim é o instante de percepção de todas as vibrações.
Pela reta invisível os galos são vigilantes que gritam sossego
Mais forte, mais fraco, mais brando, mais longe, sumindo
Voltando, mais longe, mais brando, mais fraco, mais forte.
Batidos distantes de passos caminham no escuro sem almas
Amantes que voltam...

Pouco a pouco todos os ruídos se vão penetrando como dedos
E a noite ora.
Eu ouço a estranha ladainha
E ponho os olhos no alto, sonolento.
Um vento leve começa a descer como um sopro de bênção
Ora pro nobis...

Os primeiros perfumes ascendem da terra
Como emanações de calor de um corpo jovem.
Na treva os lírios tremem, as rosas se desfolham...
O silêncio sopra sono pelo vento
Tudo se dilata um momento e se enlanguesce
E dorme.
Eu vou me desprendendo de mansinho...

A noite dorme.

barrinha_3

www.viniciusdemoraes.com.br

sexta-feira, 11 de março de 2011

folhas_de_outono

"Nossas vidas são como a respiração, como as folhas que crescem e caem. Quando realmente entendermos sobre as folhas que caem, seremos capazes de varrer os caminhos todos os dias e nos alegrar com nossas vidas neste mundo mutável"

(Ajahn Chah)
barrinha_1
Imagem da Internet by Google

mulher_entardecer

PARA ALÉM DO CÉU
Abgar Renault


Teu dúbio ardor de lâmina de espada
caminha em nós e dói gratuitamente
nesta pobreza de almas escarpadas,
e seus golpes sepulta em nossa mente,

e planta em cada mão uma semente
de abismos, cores, números e nada,
e abre em fitas de sóis altas estradas
em que baixam do céu circunferente

as tuas perspectivas de destino;
solta cisnes e pombos de tristeza,
e seca o vinho de mordidas uvas,

e esconde os teus escassos violinos
de crepúsculo e tácitas certezas
numa dilacerada voz de chuva.

Saiba mais de Abgar Renault >> AQUI
Imagem da Internet by Google
De um lado a poesia, o verbo, a saudade…



O Anjo Mais Velho
O Teatro Mágico
Composição: Fernando Anitelli

"O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"

Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete a cena se inverte
Enchendo a minh'alma d'aquilo que outrora eu deixei de acreditar
Tua palavra, tua história
Tua verdade fazendo escola
E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar
Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia, o verbo, a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
E o fim é belo incerto... depende de como você vê
O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só
Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você
Só enquanto eu respirar

Fonte do Vídeo
quinta-feira, 10 de março de 2011


CANÇÃO DO VIOLEIRO
Poesia de Castro Alves
Música de Gibran Helayel
Interpretação: Brasil Kumbê


Passa, ó vento das campinas,
Leva a canção do tropeiro.
Meu coração 'stá deserto,
'Stá deserto o mundo inteiro.
Quem viu a minha senhora
Dona do meu coração?

          Chora, chora na viola,
          Violeiro do sertão.

Ela foi-se ao pôr da tarde
Como as gaivotas do rio.
Como os orvalhos que descem
Da noite num beijo frio,
O cauã canta bem triste,
Mais triste é meu coração.

          Chora, chora na viola,
          Violeiro do sertão.

E eu disse: a senhora volta
Com as flores da sapucaia.
Veio o tempo, trouxe as flores,
Foi o tempo, a flor desmaia.
Colhereira, que além voas,
Onde está meu coração?

          Chora, chora na viola,
          Violeiro do sertão.

Não quero mais esta vida,
Não quero mais esta terra.
Vou procurá-la bem longe,
Lá para as bandas da serra.
Ai! triste que eu sou escravo!
Que vale ter coração?

          Chora, chora na viola,
          Violeiro do sertão.



In Os Escravos (1883)
Fonte do vídeo





terça-feira, 8 de março de 2011

Enquanto houver mulheres alegres ou tristes falando, florando, fluindo e influindo de amor, a humanidade pode ter alguma esperança.

Artur da Távola


“… sem perder a ternura, jamais”

image

sábado, 26 de fevereiro de 2011

XXXVIII
(NO CORAÇÃO, NO OLHAR)
Hilda Hilst

No coração, no olhar
Quando te tocarem
Pela primeira vez
Aqueles que se amam
Eu estarei.
Nas grandes luas.
Nas tardes.
Nas pequeninas canções
Nos livros
Eu e minha viva morte
Estaremos ali
Pela primeira vez.
Dirão:
Um poeta e sua morte
Estão vivos e unidos
No mundo dos homens.
Nas madrugadas
Pela primeira vez
Em amor
Tocada.
000000001[1]

© Hilda Hilst
In: Da Morte. Odes Mínimas, 1979
Imagem: pintura de Alexandru Darida (carmen)

       
Mais da autora:
AQUI

     000000001[1]
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
 rosa_anderson14
 
ROSAS
Augusto Frederico Schmidt
 
Frágeis filhas da Aurora e do Mistério,
Rosas que despertais virgens e frescas,
Sorrindo entre os espinhos e as folhagens,
Nos roseirais sadios e viçosos. 

Rosas débeis, que os ventos assassinam,
Sois a forma e a expressão do própio efêmero.
Na luta natural incerta e cega.
Sois o instante de Pausa e Sutileza. 

Rosas que as mãos da noite despetalam,
Sois o triunfo do Amor e da harmonia
Sois a imagem tranquila da beleza. 

Rosas que alimentais meu olhar enfermo,
Rosas, vós sois da terra humilde e escura
Um gesto puro, um alto pensamento!

Imagem: foto de Anderson Christofoletti
Saiba mais do autor AQUI
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