sábado, 11 de junho de 2011

Feliz Dia dos Namorados!

PARA O MEU CORAÇÃO
Pablo Neruda

Para o meu coração basta o teu peito,
para a tua liberdade as minhas asas.
Da minha boca chegará até ao céu
o que dormia sobre a tua alma.

És em ti a ilusão de cada dia.
Como o orvalho tu chegas às corolas.
Minas o horizonte com a tua ausência.
Eternamente em fuga como a onda.

Eu disse que no vento ias cantando
como os pinheiros e como os mastros.
Como eles tu és alta e taciturna.
E ficas logo triste, como uma viagem.

Acolhedora como um velho caminho.
Povoam-te ecos e vozes nostálgicas.
Eu acordei e às vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam na tua alma.


Pablo Neruda
In Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada

Mais do autor:
www.avozdapoesia.com.br/pabloneruda

Feliz Dia dos Namorados!

AMAR TEUS OLHOS
Carlos Melo Santos

Podia com teus olhos
escrever a palavra mar.
Podia com teus olhos
escrever a palavra amar
não fossem amor já teus olhos.

Podia em teus olhos navegar
conjugar os verbos dar e receber.
Podia com teus olhos
escrever o verbo semear
e ser tua pele
a terra de nascer poema.

Podia com teus olhos escrever
a palavra além ou aqui
ou a palavra luar,
recolher-me em teus olhos de lua
só teus olhos amar.

Podia em teus olhos perder-me
não fossem, amor, teus olhos,
o tempo de achar-me.

 

Carlos Melo Santos
In Lavra de Amor

“Sonhar contigo é quase como
saber que existo para além de mim”

coracao_namorado

A VERDADE É QUE FOMOS FEITOS
Raul de Carvalho

A verdade é que fomos
feitos do mesmo sangue
violento e humilde

A verdade é que temos
ambos a graça de compreender
todos os homens e todas as estrelas

A verdade é que Deus
nos ensinou
que este é o tempo da razão ardente.

Deus hoje deu-me um pouco
do que toda a vida lhe pedi
foi esta calma e simples aceitação
de que é preciso que estejas
longe de mim
para que amando eu possa conservar
o meu coração puro.

As ruas hoje pareciam mais largas
e mais claras

As casas e as pessoas
pareciam diferentes

Foi só o tempo de pedir a Deus
que prolongasse o generoso engano.

Tu ensinaste-me as palavras simples
as palavras belas
as palavras justas

E fizeste com que eu já não saiba
falar de outra maneira.

O amor substitui
o Sol — que tudo ilumina.

Sonhar contigo é quase como
saber que existo para além de mim.

Se basta que de mim te lembres
para que o sono facilmente venha
porque não hás-de dar-me amor a paz
com que o meu coração de há tanto tempo sonha

Vês como é tão simples
ter o coração
tão perto da terra
e os olhos nos olhos
e a alma tão perto
da tua alma

Por que será
que quanto mais repartimos
o coração
maior e mais nosso ele fica?

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Raul de Carvalho
in  Obras de Raul de Carvalho

Mais sobre o autor:
www.avozdapoesia.com.br/rauldecarvalho

domingo, 5 de junho de 2011

ACHADOS E PERDIDOS
Maria Antonia de Oliveira


A vida se retrata no tempo
formando um vitral
de desenho sempre incompleto,
e cores variadas,
brilhantes,
quando passa o sol.
Pedradas ao acaso
acontecem de partir pedaços,
ficando buracos
irreversíveis.
Os cacos se perdem por aí...

Às vezes encontro
cacos de vida
que foram meus
foram vivos!
Estes me causam tanto encanto
quanto causavam
os cacos
de prato quebrado
que procurava
para brincar de casinha.

Examino-os tentando lembrar
de que resto faziam parte.

Já achei caco pequeno e amarelinho
que ressuscitou de mentira
um velho amigo.
Outro pontudo e azul,
trouxe em nuvens
um beijo antigo.
Um caco vermelho
muito me fez chorar
sem que eu lembrasse
de onde me pertenceu.


In Seriguelas, 2006 - Ed. Scortecci

Palavras da autora:
(Escrita por volta de 1980, hoje anda muito metida dentro de alguns livros do Rubem Alves.)

Esta poesia está no livro Transparências da eternidade, 2002, de Rubem Alves 
Fragmento:

“Hermann Hesse escreveu um livro intitulado O Jogo das Contas de Vidro. É a estória de uma ordem monástica na qual os seus membros, em vez de gastarem o seu tempo com ladainhas e exercícios semelhantes, se dedicavam a um jogo que era jogado com contas de vidro coloridas. Eles sabiam que os deuses preferem a beleza às monótonas repetições sem sentido. O livro não descreve os detalhes do jogo. Mas eu sei do que se tratava. Enquanto escrevo ouço a Sonata n. 27, op. 90, de Beethoven. É linda. As contas de vidro coloridas de Beethoven, nesta sonata, são as notas do piano. Vitrais também são jogos de contas de vidro. Foi na poesia de uma poetisa minha amiga, ex-aluna, Maria Antônia de Oliveira, que pela primeira vez vi a vida como um vitral.
Esses cacos de vitral, essas contas de vidro coloridas - isso meu corpo e minha alma amam, para todo sempre. O amor não se conforma com o veredicto do tempo - os cacos do cristal se perdendo dentro do mar, as contas de vidro colorido afundando para sempre no rio do tempo.”

Sobre a autora:

Maria Antonia de Oliveira nasceu em Olímpia-SP. Formada em Psicologia (PUC- Campinas), e Pedagogia (UNICAMP). É casada, mãe de três filhos, poeta, arte-educadora e coordenadora pedagógica. Faz parte do Núcleo Piracema de Estudos Junguianos. Desenvolve oficinas de Poesias.

Livros Publicados
Seriguelas - Ed. Scortecci: 2006
Águas Cristalinas - Ed. do Autor: 2001
Terra de Formigueiro - Ed. Papirus:1997
Fogo Pago - Ed. do Autor: 1981

sábado, 4 de junho de 2011


CÂNTICO XXIII
Cecília Meireles
Música: Fátima Guedes
Intérpretes: Thelmo Lins, Wagner Cosse e Nana Caymmi


Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz.,
Sem dizerem que a esperam,
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhes falares.

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In Cânticos, 1981

Fonte do vídeo
<><>
terça-feira, 24 de maio de 2011

24 de Maio - Dia Nacional do Café
Minha homenagem a esse meu companheiro
de todas as horas.

O TEMPO EM QUE TOMÁVAMOS CAFÉ
Rúbio Rocha de Sousa

Lá, junto à tangerineira,
Meu pai rachava lenha
Agachado, eu ficava absorvido
Com aquela destreza de levantar
E descer o machado: o corte preciso
Eu queria crescer, aprender aquela arte

Depois, meu pai encostava o machado
No tronco da pequena tangerineira
Eu levava os pauzinhos de lenha
Para a cozinha, um de cada vez: eu era pequeno
Minha avó, no velho fogão, arrumava os paus e gravetos,
Derramava um pouquinho de querosene
Um fósforo... Estava o fogo aceso!
Eu queria crescer, aprender aquela arte

Sobre a chapa, o bule. Dentro do bule, a água fervendo
Era só colocar algumas colheres de pó de café e açúcar
Depois, o café sendo coado...
A fumacinha esvaindo-se, as xícaras sobre a mesa
O bico do bule entornando o cafezinho fresco
Eu queria crescer, aprender aquela arte.

Tia Valdecira lavava a louça
E ficávamos conversando, rindo...
Meu avô, no canto, reclamava que o café estava muito doce
Lá na estrada, passavam, em seus jumentos, cavalos, burros
Outros camponeses: acenavam, davam bom-dia, boa-tarde...
Respondíamos todos a um mesmo tempo.

Ah, mas só hoje é que sinto a leveza dos pauzinhos de lenha
O sabor daquele café sem igual,
Só hoje é que vejo a fumacinha subindo da xícara
As pessoas passado na estrada e acenando,
Que ouço o crepitar dos paus e gravetos,
Aquelas velhas conversas à mesa, entre um gole e outro...
Mas hoje sou apenas um café frio na cafeteira

Ali no canto, há um banquinho imóvel e mudo
Não ouvimos mais as reclamações de meu avô
Minha tia não está mais aqui para lavar a louça
Já não há mais a velha tangerineira
Para se encostar o machado
Que também não existe mais
Nem tão pouco há mais bule e o fogão de lenha
Bebemos o café silenciosamente, calados
Esse café por mais doce, sempre amargo.
Às vezes, uma palavra ou outra
Para vomitarmos um pouco o silêncio que os engole.

E só hoje é que eu queria
Carregar os pauzinhos de lenha,
Um de cada vez.

 

Poesia integrante do livro I Antologia Poética A Voz da Poesia, 2008, pag 30/31
Classificada em 4º lugar no I Concurso de Poesia A VOZ DA POESIA

segunda-feira, 23 de maio de 2011

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ELOGIE DO JEITO CERTO
Marcos Meier

Recentemente, um grupo de crianças pequenas passou por um teste muito interessante*. Psicólogos propuseram uma tarefa de média dificuldade, que elas executariam, contudo, sem grandes problemas. Todas conseguiram terminar a tarefa depois de certo tempo. Em seguida, foram divididas em dois grupos.

O grupo A foi elogiado quanto à inteligência. “Uau, como você é inteligente!”, “Que esperta você é!”, Menino, que orgulho de ver o quanto você é genial!”... E outros elogios relacionados à capacidade de cada criança.

O grupo B foi elogiado quanto ao esforço. “Menina, gostei de ver o quanto você se dedicou nesta tarefa!”, “Menino, que legal ter visto seu esforço!”, Uau, que persistência você mostrou. Tentou, tentou, até conseguir, muito bem!... E outros elogios relacionados ao trabalho realizado e não à criança em si.

Depois dessa fase, uma nova tarefa de dificuldade equivalente à primeira foi proposta aos dois grupos de crianças. Aqui, elas não seriam obrigadas a cumprir a tarefa, mas podiam escolher se queriam ou não, sem qualquer tipo de consequência.

As respostas das crianças surpreenderam. A grande maioria das crianças do grupo A simplesmente recusou a segunda tarefa. As crianças não queriam nem tentar. Por outro lado, quase todas as crianças do grupo B aceitaram tentar. Não recusaram a nova tarefa.

A explicação é simples e nos ajuda a compreender como elogiar nossos filhos e nossos alunos. O ser humano foge de experiências que possam ser desagradáveis. As crianças “inteligentes” não querem o sentimento de frustração de não conseguir realizar uma tarefa, pois isso poderia modificar a imagem que os adultos têm delas. Se eu não conseguir, eles não vão mais dizer que sou inteligente. As “esforçadas” não ficam com medo de tentar, pois mesmo que não consigam é o esforço que será elogiado. Sabemos de muitos casos de jovens considerados inteligentes não passarem no vestibular, enquanto aqueles jovens “ médios” obtêm a vitória. Os inteligentes confiaram demais em sua capacidade e deixaram de se preparar adequadamente. Os outros sabiam que se não tivessem um excelente preparo não seriam aprovados e, justamente por isso, estudaram mais, resolveram mais exercícios, leram e se aprofundaram melhor em cada uma das disciplinas.

No entanto, isso não é tudo. Além dos conteúdos escolares, nossos filhos precisam aprender valores, princípios e ética. Precisam respeitar as diferenças, lutar contra o preconceito, adquirir hábitos saudáveis e construir amizades sólidas. Não se consegue nada disso por meio de elogios frágeis, com enfoque apenas no ego de cada um. É preciso que sejam incentivados constantemente a agir assim. Isso se faz com elogios, feedbacks e incentivos ao comportamento esperado.

Nossos filhos precisam ouvir frases como: “Que bom que você o ajudou, você tem um bom coração”, “Parabéns, meu filho, por ter dito a verdade apesar de estar com medo... Você é ético”, ‘Filha, fiquei orgulhoso de você ter dado atenção àquela menina nova ao invés de tê-la excluído, como algumas de suas colegas o fizeram... Você é solidária”, “Isso mesmo, filho; deixar seu primo brincar com seu videogame foi muito legal, você é um bom amigo”. Elogios desse tipo estão fundamentados em ações reais e reforçam o comportamento da criança, que tenderá a repeti-los. Isso não é “tática” paterna, é incentivo real.

Por outro lado, elogiar superficialidades é uma tendência atual. “Que linda você é, amor”, “Acho você muito esperto, meu filho”, “Como você é charmoso”, Que cabelo lindo”, “Seus olhos são tão bonitos”. Elogios como esses não estão baseados em fatos, nem em comportamentos ou atitudes. São apenas impressões e interpretações dos adultos. Em breve, crianças como essas estarão fazendo chantagens emocionais, birras, manhas e “charminhos”. Quando adultos, não terão desenvolvido a resistência à frustração, e a fragilidade emocional estará presente.

Homens e mulheres de personalidade forte e saudável são como carvalhos que crescem nas encostas de montanhas. Os ventos não os derrubam, pois cresceram na presença deles. São frondosos, têm copas grandes e o verde de suas folhas mostra vigor, pois se alimentaram da terra fértil.

Que nossos filhos recebam o vento e a terra adubada por nossa postura firme e carinhosa.

*Notícia veiculada na revista Galileu, na edição de Janeiro de 2011

SOBRE O AUTOR
Marcos Meier é Mestre em Educação, psicólogo, professor de Matemática e especialista na teoria da Meditação da Aprendizagem em Jerusalém, Israel. Seus livros são encontrados na loja virtual www.kapok.com.br
Contatos pelo site www. marcosmeler.acn.br

Fontes:
imagens, via Google
texto recebido de Hugo Ferrante, a quem agradeço

sexta-feira, 20 de maio de 2011
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