sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

SERENA
Henriqueta Lisboa

Essa ternura grave
que me ensina a sofrer
em silêncio, na suavi-
dade do entardecer,
menos que pluma de ave
pesa sobre meu ser.

E só assim, na levi-
tação da hora alta e fria,
porque a noite me leve,
sorvo, pura, a alegria,
que outrora, por mais breve,
de emoção me feria.

barrinha_3
In Azul Profundo, 1950-1955

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

PORQUE
POESIA: Sophia de Mello Breyner Andresen
Música e Interpretação: Francisco Fanhais


PORQUE

 
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
 
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
 
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
 
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.


barrinha_4    
In No Tempo Dividido e  Mar Novo, Edições Salamandra, 1985
Fonte do Vídeo
terça-feira, 17 de janeiro de 2012

AMOR PACÍFICO E FECUNDO
Rabindranath Tagore


Não quero amor
que não saiba dominar-se,
desse, como vinho espumante,
que parte o copo e se entorna,
perdido num instante.

Dá-me esse amor fresco e puro
como a tua chuva,
que abençoa a terra sequiosa,
e enche as talhas do lar.
Amor que penetre até ao centro da vida,
e dali se estenda como seiva invisível,
até aos ramos da árvore da existência,
e faça nascer
as flores e os frutos.
Dá-me esse amor
que conserva tranquilo o coração,
na plenitude da paz!

barrinha_10

In O Coração da Primavera
Tradução de Manuel Simões

Imagem da Internet via Google

domingo, 15 de janeiro de 2012

ANOITECER
Cassiano Ricardo

Homem, cantava eu como um pássaro
ao amanhecer. Em plena unanimidade
de um mundo só.
Como, porém, viver num mundo onde todas as coisas
tivessem um só nome?

Então, inventei as palavras.
E as palavras pousaram gorjeando sobre o rosto
dos objetos.

A realidade, assim, ficou com tantos rostos
quantas são as palavras.

E quando eu queria exprimir a tristeza e a alegria
as palavras pousavam em mim, obedientes
ao meu menor aceno lírico.

Agora devo ficar mudo.
Só sou sincero quando estou em silêncio.

Pois, só quando estou em silêncio
elas pousam em mim - as palavras -
como um bando de pássaros numa árvore
ao anoitecer.

barrinha_9

Imagem: Foto de Sérgio Vale/Secom

 

Cassiano Ricardo (Cassiano Ricardo Leite)
Brasileiro, Jornalista, poeta e ensaísta
Nasceu 26 de julho de 1895 - São José dos Campos, SP
Faleceu: 14 de janeiro de 1974 (78 anos) - Rio de Janeiro, RJ

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

image

domingo, 4 de dezembro de 2011
TEMPO DE POESIA
Antonio Gedeão

Todo o tempo é de poesia

Desde a névoa da manhã
à névoa do outro dia.

Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia

Todo o tempo é de poesia

Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas que amar se consagram.

Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.

Todo o tempo é de poesia.

Desde a arrumação ao caos
à confusão da harmonia.
barrinha_9
In Movimento Perpétuo, 1956
quinta-feira, 24 de novembro de 2011


SE O AMOR QUISER VOLTAR
Comp.: Vinicius de Moraes e Toquinho
Intérprete: Maria Creuza


Se o amor quiser voltar
Que terei pra lhe contar
A tristeza das noites perdidas
Do tempo vivido em silêncio
Qualquer olhar lhe vai dizer
Que o adeus me faz morrer
E eu morri tantas vezes na vida
Mas se ele insistir
Mas se ele voltar
Aqui estou sempre a esperar

Fonte do vídeo
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Dá um abraço?
Macedo Junior (TrovadorPR)

De repente deu vontade de um abraço...
Uma vontade de entrelaço, de proximidade...
de amizade... sei lá...
Talvez um aconchego amigo e meigo,
que enfatize a vida e amenize as dores...
Que fale sobre os amores,
seja afetuoso e ao mesmo tempo forte.
Deu vontade, de poder ter saudade de um abraço.
Um abraço que eternize o tempo
e preencha todo espaço...
Mas que faça lembrar do carinho,
que surge, devagarinho,
da magia da união dos corpos,
das auras... sei lá.
Lembrar do calor das mãos,
acariciando as costas a dizer:
- Estou aqui!
Lembrar do enlaçar dos braços,
envolventes e seguros,
afirmando: - Estou com você!.
Lembrar da transfusão de forças,
ou até da suavidade do momento... sei lá...
Então, pensei em como chamar esse abraço:
abraço poesia, abraço força,abraço união,
abraço suavidade, abraço consolo e compreensão,
abraço segurança e justiça, abraço verdade,
abraço cumplicidade? 
Mas o que importa é a magia deste abraço!
A fusão de energias, que harmoniza,
integra o todo e se traduz no cosmos,
no tempo e no espaço...
Só sei que agora deu vontade desse abraço.
Um abraço que desate os nós,
transformando-os em envolventes laços.
Que sirva de colo, afastando toda e qualquer angústia.
Que desperte a lágrima de alegria,
e acalme o coração...
Um abraço que traduza a amizade,
o amor e a emoção...
E para um abraço assim ,
Só consegui pensar em você!
Nessa sua energia,
nessa sua sensibilidade,
que sabe entender o por quê,
dessa minha vontade.
barrinha_2
Nota:
esta poesia circulou por algum tempo sendo creditada a Vinicius de Moraes.
Nessas idas e vindas  de pps e afins, foi sofrendo alterações à revelia do verdadeiro autor.
A gravação foi baseada numa dessas modificações, mas o texto postado é o original, que você pode comprovar >>
AQUI
Fontes:
Áudio:
A Voz da Poesia
Imagem: via Google
Voz: Sereníssima

Related Posts with Thumbnails

Poética

Poesias

Poetas

Vídeos

A Voz aqui

A Poética dos Amigos

Pesquisar neste blog

Rádio

Arquivos