domingo, 17 de fevereiro de 2013

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TIMIDEZ
Cecília Meireles

Basta-me um pequeno gesto
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

— mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

— palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

— que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

— e um dia me acabarei.

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© CECÍLIA MEIRELES
In Viagem, 1939
Fonte: A Voz da Poesia - Cecília Meireles

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SOBRE AS AREIAS
Eugénio de Andrade


É outra vez a música,
é outra vez
a música que me chama,
outra vez esse esplendor
quase animal
que me procura
e comigo se faz alma
ou primeira manhã sobre as areias.

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© EUGÉNIO DE ANDRADE
In Rente ao Dizer, 1992
Fontë: www.avozdapoesia.com.br/eugeniodeandrade

Imagem: Steve Hanks

ANTONIETTA VARALLO7

ITAOCA
Vinicius de Moraes


Serenamente pousada
Sobre a montanha elevada
Como um ninho de poesia,
A casa branca e pequena
É como a mansão serena
Da luz, da paz, da alegria!

Ó viajante fatigado
Se no teu passo cansado
Aqui vieres pousar,
Tu voltarás satisfeito
Com risos claros no peito
E calmas santas no olhar!

 

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© VINÍCIUS DE MORAES
In Poesia completa e prosa, 1998
Poesias Coligidas
Fonte: www.avozdapoesia.com.br/viniciusdemores

Imagem: Antonietta Varallo

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

LEVO COMIGO AS ÁRVORES
Albano Martins

Levo comigo as árvores,
os lagos,
o vento — as suas cestas
de merenda e volúpia.
À beira
dos relâmpagos planto
uma araucária, uma raiz
de espadas flutuantes ou adagas
floridas — o crepúsculo,
talvez, cinzenta
espuma volátil
de beijos e de lágrimas.

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© ALBANO MARTINS
In Assim São as Algas, 1999

Imagem: Émile Friant

sábado, 9 de fevereiro de 2013

O VENTO SOPRA LÁ FORA
Fernando Pessoa

O vento sopra lá fora.
Faz-me mais sozinho, e agora
Porque não choro, ele chora.

É um som abstrato e fundo.
Vem do fim vago do mundo.
Seu sentido é ser profundo.

Diz-me que nada há em tudo.
Que a virtude não é escudo
E que o melhor é ser mudo.

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© FERNANDO PESSOA
In Poesias Inéditas (1930-1935), 1955
Fonte:
A Voz da Poesia - Fernando Pessoa

Imagem: Gleb Goloubetski

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Carmen Jiménez


POEMA DO BECO

Manuel Bandeira

Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
— O que eu vejo é o beco.

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© MANUEL BANDEIRA
In Estrela da Manhã, 1936

Imagem: Carmen Jiménez

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A FLOR DO SONHO
Florbela Espanca


A Flor do Sonho, alvíssima, divina,
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnólia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruína.

Pende em meu seio a haste branda e fina
E não posso entender como é que, enfim,
Essa tão rara flor abriu assim!...
Milagre... fantasia... ou, talvez, sina...

Ó Flor que em mim nasceste sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos
Se eles são tristes pelo amor de ti?!...

Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa de minh′alma
E nunca, nunca mais eu me entendi...

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© FLORBELA ESPANCA
In Livro de Mágoas, 1919
Imagem: Anna Homchik

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

 

“Se não houver frutos
Valeu a beleza das flores
Se não houver flores
Valeu a sombra das folhas
Se não houver folhas
Valeu a intenção da semente"

© Maurício Francisco Ceolin
In Saudade da Tribo, 2000
In Mar de Palavras: Poesias reunidas - Sinpro ABC

Henfil cita no seu livro “Diretas Já!” (Ed. Record, 1984), à pag 63:

Um dia em Jundiaí um puro, ao ouvir meu OPTEI pela organização do povo, me deu os seguintes versos, que passo adiante

Parar ser lido dia 22 de novembro de 1982

Se não houver frutos
Valeu a beleza das flores
Se não houver flores
Valeu a sombra das folhas
Se não houver folhas
Valeu a intenção da semente.

PALAVRAS DO AUTOR:

"Em 1982 eu estava levando o fora da minha mulher, minha namorada recente na época. Então escrevi uma carta de despedida para ela, a qual continha estes versos, parte de um poema maior. Ela mostrou para alguém, que mostrou para outros... Nesta época o Henfil fazia a propaganda do PT que ia disputar sua primeira eleição. Um dia ele foi a Jundiaí e deram os versos a ele. Segundo ele me disse depois, pensou que se tratava de uma referência ao PT, naquela época ainda uma semente. Assim ele publicou os versos dentro de uma de suas “cartas a mamãe, na página da revista Isto é que ele assinava na época”. Lá ele diz que recebeu os versos de um "puro em Jundiaí”, mas esta parte ninguém leu e por isso se atribui a autoria a ele.
Esta é a história.

Mauricio Francisco Ceolin
Chico Ceola (como é conhecido).

 

Fontes:

Comunidade “Afinal, quem é o autor:” >> http://goo.gl/4p2KE

Rosängela Aliberti >> http://goo.gl/3hOfQ

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