sábado, 30 de janeiro de 2016
Arte de Alexi Zaitsev
Arte: Alexi Zaitsev

AMANHÃ
Alice Ruiz

minuto a minuto
quis um dia
todo azul
no teu dia

meu querer
quero crer
azulou
teu dia a dia
tudo que podia

CANÇÃO DO AMOR SERENO
Lya Luft

Vem sem receio: eu te recebo
Como um dom dos deuses do deserto...
Que decretaram minha trégua, e permitiram
Que o mel de teus olhos me invadisse.

Quero que o meu amor te faça livre,
Que meus dedos não te prendam
Mas contornem teu raro perfil
Como lábios tocam um anel sagrado.

Quero que o meu amor te seja enfeite
E conforto, porto de partida para a fundação
Do teu reino, em que a sombra
Seja abrigo e ilha.


Quero que o meu amor te seja leve
Como se dançasse numa praia uma menina.


 
In: Secreta mirada, 1997
Arte: Steve Henderson
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Arte: Antonietta Varallo


NESTE DIA DE MAR E NEVOEIRO
Sophia de Mello Breyner Andresen



Neste dia de mar e nevoeiro
É tão próximo o teu rosto

São os longos horizontes
Os ritmos soltos dos ventos
E aquelas aves
Que desde o princípio das estações
Fizeram ninhos e emigraram
Para que num dia inverso tu as visses

Aquelas aves que tinham
uma memória eterna do teu rosto
E voam sempre dentro do teu sonho
Como se o teu olhar as sustentasse

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© SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
In Coral, 1950

Mais da autora: Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
Arte: Dmitriy Kalyuzhny


INSANIDADES
Antonio Carlos Santos

Há em ti uma nuvem
que rasga o céu em tempestade,
e o tempo que sacode
o ventre de um poema vazio.


Há em ti uma parte
que se foi sem sobras,
no silêncio e solidão
do escuro das cores.


Há em ti o delírio
e a demência que flutua
numa sinfonia de liberdade
onde se devaneiam os impossíveis.


Há em ti…
…um pouco de louco
e a loucura que procurei
loucamente…


© Antonio Carlos Santos
In Da geometria do amor, 2015
sábado, 16 de janeiro de 2016
Arte: Eva Gonzales (French-1849-1883) Awakening Girl


SONETO DE AMOR
Lêdo Ivo


Doce fogo do amor, como me queimas
e me fazes arder por entre neves
como se eu fora a pálida fogueira
acesa pelo sol na noite breve.

Doce rival do fogo verdadeiro,
quanto mais rompo contra as tuas chamas,
elas se alastram mais na minha cama
e, guerreiro, por ti sou guerreado.

Mais me queima teu frio, mais intacto
respiro e te combato; e fatigado
da luta em que me abrasas, mais descanso.

Oculto nos lençóis, fogo de estio,
escorres, ledo e manso como as águas
— a água serena do amoroso rio.


© LÊDO IVO
In Crepúsculo Civil, 1990
terça-feira, 1 de setembro de 2015



A lenda do Uirapuru, o pássaro mágico que traz muita sorte 

Era uma vez um jovem guerreiro índio, chamado Quaraçá, que morava com sua gente na floresta amazônica e adorava passear pelas matas tocando sua flauta de bambu. O som ecoava entre as árvores e fazia calar os bichos. Todos gostavam de escutar aquela música.

Um dia, enquanto passeava pela tribo, o jovem Quaraçá achou de se apaixonar pela belíssima Anahí, que era casada com o cacique.

O jovem sabia que o seu amor era impossível, e logo a tristeza tomou conta dele. De tanto sofrer, nem queria mais tocar a sua flauta.

A tristeza o consumia. Foi aí que ele resolveu pedir ajuda ao deus Tupã. Foi para o meio da floresta, tocou, tocou muito aquela flauta. Chorava e cantava e pedia ajuda.

Tupã ficou sensibilizado com o sofrimento do jovem e resolveu ajudar, transformando-o num pequeno pássaro colorido (vermelho e amarelo, com asas pretas), de belíssimo canto, e deu-lhe o nome de Uirapuru.

Naquele dia, Uirapuru voou pela floresta, voltou à tribo, cantou, voou de novo. E assim passou a fazer todos os dias, encantando a todos com seu forte e lindo canto. Toda vez que via a amada, ele pousava e cantava pra ela, que ficava maravilhada com o som daquele pequeno e lindo pássaro.

Com o tempo, o cacique da tribo também ficou encantado com o canto Uirapuru. Queria que ele ficasse cantando ali, pra sempre. Quis aprisioná-lo, fez uma arapuca, foi a sua procura e perdeu-se na floresta. Dele, ninguém mais teve notícia. Dizem que foi castigo do Curupira, o protetor dos bichos da floresta, que não pode ver animal sofrendo sem ficar danado de bravo.

A bela Anahí ficou sozinha, mas nem teve tempo pra tristeza, porque o Uirapuru chegava ali todos os dias, com aquele canto lindo, pra consolar a amada. Mais que isso, ele soltava aquele canto triste, porque acreditava que, assim, ela poderia descobrir quem ele era, e isso quebraria o encanto. Mas o que se sabe é que ele continua cantando nas matas até hoje…

Diz ainda a lenda que o Uirapuru é um pássaro mágico que traz muita sorte. Acredita-se que, quem conseguir vê-lo cantando, é só fazer um pedido que o pássaro realiza.

Pelo sim, pelo não, é melhor ficar em silêncio pra ele soltar o seu maravilhoso canto. E fazer o pedido, claro!

Fonte do vídeo
Fonte do texto
terça-feira, 27 de maio de 2014

terra_e_mar


DOIS AMANTES, O MUNDO
Jorge Reis-Sá

dois amantes, o mundo
cada um no seu reino, beijam-se nas praias
quando as ondas batem as areias

o mar é o meu navio,
hoje naufrago feliz

sabes quem sou, as dunas
que se levantam com o vento são
os sonhos do amor que dormita
em sossego nas praias

a terra és tu o mar sou eu

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In A Palavra no Cimo das Águas, 2000
Imagem: Ton Dubbeldam

 

Sobre o autor:

escritor e editor português. Nasceu em 1977.
Como escritor publicou vários livros de poemas e de narrativa, como o romance Todos os Dias (2006).
Co-organizou com Rui Lage a antologia Poemas Portugueses, uma panorâmica de oito séculos de poesia portuguesa.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_Reis-S%C3%A1#Biografia

quinta-feira, 15 de maio de 2014

NÃO É DE CAIO FERNANDO ABREU

E o médico perguntou: o que sentes? Sinto lonjuras, doutor. Sofro de distâncias.

Denison Mendes
In Bonsais Atômicos, 2010

Fonte: Editora Multifoco
link > http://goo.gl/l5iXB9

lonjuras_03_final

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