terça-feira, 30 de dezembro de 2008

É chegado o término de mais um ano, ocasião em que se renovam as esperanças de um mundo melhor, em que sonhos são projetados, e lembranças dos bons momentos se eternizam na memória coletiva. Esse é um sentimento que ressurge com mais afinco em período de festividades, ligando pessoas em torno de um ideal comum. Irmanados nele é que lançamos nossa pequena semente de um mundo mais harmônico, solidário e feliz.
Aspiramos juntos. Aprendemos juntos. Que essa presença familiar inconfundível continue conosco no ano que se inicia. E, ainda que as preocupações peculiares ao dia-a-dia cheguem a pesar, esse elo afetivo permanecerá sempre inquebrantável... porque nos habituamos com o perfume marcante do seu imenso carinho em nossas vidas.
Feliz Ano Novo, com muita alegria e muita paz!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

                                                                             daqui

A lua projetava o seu perfil azul
Sobre os velhos arabescos das flores calmas
A pequena varanda era como o ninho futuro
E as ramadas escorriam gotas que não havia.

Na rua ignorada anjos brincavam de roda...
– Ninguém sabia, mas nós estávamos ali.
Só os perfumes teciam a renda da tristeza
Porque as corolas eram alegres como frutos
E uma inocente pintura brotava do desenho das cores

Eu me pus a sonhar o poema da hora.
E, talvez ao olhar meu rosto exasperado
Pela ânsia de te ter tão vagamente amiga
Talvez ao pressentir na carne misteriosa
A germinação estranha do meu indizível apelo
Ouvi bruscamente a claridade do teu riso
Num gorjeio de gorgulhos de água enluarada.
E ele era tão belo, tão mais belo do que a noite
Tão mais doce que o mel dourado dos teus olhos
Que ao vê-lo trilar sobre os teus dentes como um címbalo
E se escorrer sobre os teus lábios como um suco
E marulhar entre os teus seios como uma onda
Eu chorei docemente na concha de minhas mãos vazias
De que me tivesses possuído antes do amor.


[Vida e poesia - Vinicius de Moraes]

domingo, 21 de dezembro de 2008

Grandes nomes da música brasileira interpretam canções natalinas. Um presente de primeira qualidade!

Natal Bem Brasileiro (2008)

capa

Escolha a faixa de sua preferência

01 - BOAS FESTAS
Autor: Assis Valente
Intérprete: Maria Bethânia

02 - CARTÃO DE NATAL
Autor: Luiz Gonzaga e Zé Dantas
Intérprete: Elba Ramalho

03 - Ô DE CASA
Autor: Simone Gimarães e Sérgio Natureza
Intérprete: Flávio Venturini

04 - NATAL DAS CRIANÇAS
Intérprete: Jane Duboc

05 - FELIZ NATAL, PAPAI NOEL
Autor: Martinho da Vila
Intérprete: Zezé Motta

06 - VÉSPERA DE NATAL
Autor: Adoniran Barbosa
Intérprete: Marcos Sacramento

07 - E NASCEU JESUS
Autor: Orlandivo e Roberto Jorge
Intérprete: Maria Alcina

08 - O VELHINHO
Autor: Otávio Filho
Intérprete: Dominguinhos

09 - RECADINHO DE PAPAI NOEL
Autor: Assis Valente
Intérprete: Wanderléa

10 - MEU MENINO JESUS
Autor: Roberto e Erasmo Carlos
Intérprete: Célia

11 - FELIZ NATAL
Autor: Armando Cavalcanti e Klécius Caldas
Intérprete: Miúcha

12 - NATAL
Autor: Francis Hime e Vinicius de Moraes
Intérprete: Leila Pinheiro e Francis Hime

13 - VELHO AMIGO
Autores: Baden Powell e Vinicius de Moraes
Intérprete: Olivia Hime

14 - POEMA DE NATAL
Autor: Vinicius de Moraes
Intérprete: Vinicius de Moraes com participação especial de Toquinho no violão

OUÇA


Recomendo este CD
COMPRAR

sábado, 20 de dezembro de 2008

Procurava uma mensagem de Natal para aqueles que ainda reserva alguns minutos do seu tempo para ler alguma coisa. E ela me veio por e-mail. Verdadeira. Bela. Simples.

PRA VOCÊ
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Mais um Natal vem chegando, e a alma de toda gente fica apertadinha, encolhida, do tamanho de uma criança... confesse que, nesta época do ano principalmente, você tem vontade de afrouxar a gravata, trocar o par de sapatos de salto por havaianas, e até sorri quando, inadvertidamente, pisa numa poça d'água... confesse que, às vezes, durante o teu cotidiano, você enxerga, no espelho do olhar do outro, a criança que ainda vive na tua alma...
Quer saber?... Eu acho isso tudo, a alma do Natal... Cada ínfimo gesto: o tamborilar na mesa, acompanhando o ritmo musical; o assovio, em resposta ao passarinho que pousa no telhado;
e tantas outras grandes pequenas atitudes que denunciam a criança em nós...
Tem gente que perde tempo, reclamando que Natal foi transformado em consumismo, comércio desenfreado... Consumismo existe o ano todo - por que todos consumimos (quanto mais temos, mais consumimos, obviamente)... Perde tempo, quem fica a conjecturar sobre essas coisas... É Natal!... Natal construído antes do dia 25 - a expectativa, os preparativos, os presentes (grandes ou pequenos, sempre lembranças de luz na solidão)...
Em razão da proximidade do final de ano, ainda há aqueles que, às vésperas do Natal, ficam somando os fracassos, e menosprezando as pequenas vitórias de cada dia... Poxa, não conseguiu o aumento salarial?... Mas continua trabalhando, e, este ano, produziu... Todo caminho leva ao sucesso - lamentavelmente, tem gente que desvia do caminho, antes de chegar lá...
Mas há outros que fazem planos mirabolantes, como se satisfizessem com o que consideram impossível... Um dia, saberão que o impossível não existe...
Nesta lista, ainda adiciono aqueles que vivem de 'se' 'se' 'se', mais 'se' 'se' 'se' ("ah, se eu tivesse feito a outra opção", "se eu tivesse feito aquilo", "se eu não tivesse viajado", etc e tal), neste mês de dezembro, que deveria ser de festa... Para os cristãos, aniversário de Jesus... Para todos, indistintamente, a festa da vida humana... Estamos vivos, não estamos?... Tão vivos, que damos vida àqueles que partiram antes de nós...
Acho que, como eu, você também já viveu pelo menos um desses natais citados - ou não... Não importa, por que convivemos com "tanta diferente gente", como cantou o poeta, e por isso enxergamos, em nós e/ou nos outros, situações semelhantes...
Escrevi tudo isso, pra te dizer que este Natal vai ser diferente - não por que Papai Noel vai te visitar, te apresentar CPF, RG, e comprovar que existe, nem por causa da decoração natalina que você ornamentou, ou a ceia que você pretende servir aos familiares e amigos... O Natal vai ser diferente, simplesmente por que não existe dia igual - nem 25, nem 24, nem 26...
Quer saber mais?... Você também está diferente, é diferente, por que também você não é um ser estático - assim como eu... Você já não é a criatura de dezembro passado, que ficou lá atrás...
Por isso, aproveite o máximo dos dias que antecedem à Festa Natalina, e, tanto quanto possível, continue aproveitando os dias que se sucederem... Afinal, a gente nunca sabe quando vai partir - o que a gente sabe é que hoje, aqui, agora, a gente está, a gente é, a gente pode ser... Sem pensar muito, retire a poeira dos sonhos, liberte a criança da alma, e deixe-se inebriar pelo espírito natalino: corresponda aos sorrisos e beijos, surpreenda com um abraço aquele que se mutila em sentimentos negativos...
... e tudo pode ser tão simples, né?...
É só o que te desejo: um simples Natal!!!!

DORA BRISA

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

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                                                   Imagem: Tomasz Rut


Carrega-me contigo, Pássaro-Poesia
Quando cruzares o Amanhã, a luz, o impossível
Porque de barro e palha tem sido esta viagem
Que faço a sós comigo. Isenta de traçado
Ou de complicada geografia, sem nenhuma bagagem
Hei de levar apenas a vertigem e a fé:
Para teu corpo de luz, dois fardos breves.
Deixarei palavras e cantigas. E movediças
Embaçadas vias de Ilusão.
Não cantei cotidianos. Só cantei a ti
Pássaro-Poesia
E a paisagem-limite: o fosso, o extremo
A convulsão do Homem.

Carrega-me contigo.
No Amanhã.


[I - Hilda Hilst in Amavisse, 1989]

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O nosso menino
Nasceu em Belém.
Nasceu tão-somente
Para querer bem.

Nasceu sobre as palhas
O nosso menino.
Mas a mãe sabia
Que ele era divino.

Vem para sofrer
A morte na cruz,
O nosso menino,
Seu nome é Jesus.

Por nós ele aceita
O humano destino:
Louvemos a glória
De Jesus menino.

[Canto de Natal - Manoel Bandeira]

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008


My Healing
Jo Davidson

Do CD Tell The Story (1999)

Fonte do vídeo
 
sábado, 13 de dezembro de 2008


LAVOURA

Composição: Teresa Cristina e Paulo Amorim
Intérpretes: Roberta Sá e Ney Matogrosso

Quatro da manhã
Dor no apogeu
A lua já se escondeu
Vestindo o céu de puro breu
E eu mal vejo a minha mão
A rabiscar
Esboço de canção.

Poesia vã
Pobre verso meu
Que brota quando feneceu
A mesma flor que concebeu
Perdido na alucinação
Do amor
Acreditando na ilusão.

Canto pra esquecer a dor da vida
Sei que o destino do amor
É sempre a despedida
A tristeza é um grão
Saudade é o chão onde eu planto
No ventre da solidão
É que nasce o meu canto.

No ventre da solidão é que nasce o meu canto...

Fonte do vídeo

 
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

presepio

Jesus nasceu. Na abóbada infinita
Soam cânticos vivos de alegria;
E toda a vida universal palpita
Dentro daquela pobre estrebaria...
Não houve sedas, nem cetins, nem rendas
No berço humilde em que nasceu Jesus...
Mas os pobres trouxeram oferendas
Para quem tinha de morrer na cruz.
Sobre a palha, risonho, e iluminado
Pelo luar dos olhos de Maria,
Vede o Menino-Deus, que está cercado
Dos animais da pobre estrebaria.
Nasceu entre pompas reluzentes;
Na humildade e na paz deste lugar,
Assim que abriu os olhos inocentes
Foi para os pobres seu primeiro olhar.
No entanto, os reis da terra, pecadores,
Seguindo a estrela que ao presépio os guia,
Vem cobrir de perfumes e de flores
O chão daquela pobre estrebaria.
Sobem hinos de amor ao céu profundo;
Homens, Jesus nasceu! Natal! Natal!
Sobre esta palha está quem salva o mundo,
Quem ama os fracos, quem perdoa o mal,
Natal! Natal! Em toda a natureza
Há sorrisos e cantos, neste dia...
Salve Deus da humildade e da pobreza
Nascido numa pobre estrebaria.


[Natal - Olavo Bilac]

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Um cd belíssimo para tornar a sua festa de Natal tão brasileira quanto o som do cavaquinho.
Natal De Cavaquinho - Sérgio Chiavazzoli
 
capa


1 Jingle bells (domínio público)
2 Boas Festas (Assis Valente)
3 Noite feliz (Silent night) (Franz Gruber)
4 O velhinho (Otávio Babo Filho)
5 White Christmas (Irving Berlin)
6 Jesus alegria dos homens (S. Bach)
7 Happy X-mas (War is over) (John Lennon/Yoko Ono)
8 Natal das crianças (Black-Out)
9 Homem de Nazaré (Claudio Fontana)
10 José (Joseph) (George Monstaki/Vrs. Nara Leão)
11 What a wonderful world (B.Thiele/G.D. Weiss)
12 Ave Maria (Vicente Paiva/Jaime Redondo)

Para ouvir

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Natal


Clique na imagem para entrar no álbum do Picasa.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

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Não está no céu a estrela. Está na terra.
Não indicará, o nascimento do Senhor
não prometerá o céu,
indicará o nascimento do homem
prometerá a terra.
Está na terra a estrela, há séculos enterrada
como um diamante - um filão de ouro ignorado
talvez uma lágrima.
Quando os homens a encontrarem, todos terão
e todos serão ricos.
Sou rico porque a encontrei: - aqui está a estrela da terra.
Faiscará nas minhas mãos como pepita na bateia,
coloquei-a na cabeça como lanterna de mineiro
para iluminar as galerias.
Não a procurarão os reis Magos, os poetas a procurarão,
não indicará o caminho do céu
indicará o caminho da terra.
Ricos serão os poetas que encontrarem a estrela da terra
porque cumprirão o seu destino
e transmitirão a sua mensagem.
Vinde, irmãos de todas as terras, eu vos ofereço a estrela da terra,
olhai a estrela no chão,
ela tem todas as cores como a luz
e irá à nossa frente, caminhará conosco.


[Estrela na Terra - JG de Araujo Jorge]

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Recebido por e-mail do meu amigo Narfe.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008


Bloco da Solidão
Intérprete: Thais Gulin
Composição: Evaldo Gouveia e Jair Amorim


Ángústia, solidão
Um triste adeus em cada mão
Lá vai, meu bloco vai
Só deste jeito é que ele sai
Na frente sigo eu
Levo um estandarte de um amor
Amor que se perdeu
No carnaval lá vai meu bloco
E lá vou eu também
Mais uma vez sem ter ninguém
No sábado e domingo
Segunda e terça-feira
E quarta feira vem
O ano inteiro é sempre assim
Por isso quando eu passar
Batam palmas para mim
Aplaudam quem sorrir
Trazendo lágrimas no olhar
Merece uma homenagem
Quem tem forças pra cantar
Tão grande é minha dor
Pede passagem quando sai
Comigo só
Lá vai meu bloco vai
Laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá, laiá
Lalaiá, lalaiá
Laiá
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
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08/08/1920 São Paulo, SP
10/04/1985 São Paulo, SP

Compositor e multiinstrumentista (violão, cavaquinho, bandolim, banjo, contrabaixo, viola, guitarra havaiana). .
Desde os 10 anos, demonstrou habilidade com os instrumentos de cordas. Entre 1942 e 1944, serviu à Força Expedicionária Brasileira.
Começou sua carreira artística na década de 1930, em São Paulo, quando passou a acompanhar cantores populares de então: Januário de Oliveira, Paraguaçu e Arnaldo Pescuma. Em 1937, foi chamado para trabalhar no conjunto Regional da Rádio Difusora paulista, como violonista e solista de cavaquinho e bandolim. Na mesma época, integrou o conjunto vocal Grupo X, que concorria com o Bando da Lua. Compôs sua primeira música em 1939, uma valsa intitulada "Você", com letra de José Roberto Penteado, que nunca foi gravada. Foi esse parceiro que sugeriu o nome artístico Poli, abreviatura de Apolônio.
Em 1940, foi convidado pelo também multiinstrumentista Garoto para trabalhar em seu regional no Rio de Janeiro. Com o Regional de Garoto, atuou no Cassino Copacabana, na Rádio Clube do Brasil, na Rádio Mayrink Veiga e ainda gravou alguns discos. Em 1942, interrompeu suas atividades musicais para servir à FEB, só retornando dois anos depois. Em 1944, gravou seu primeiro disco solo, tocando guitarra havaiana interpretando os fox-troptes "Deep in the heart of Texas", de Don Swander e June Herchey e "Jingle, jangle, jungle", de J. L. Lilley e F. Loesser. [saiba mais]





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Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte –
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

[Poema de Natal - Vinicius de Moraes]

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
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 RETRATO PARA SER VISTO DE LONGE
 Francisco Carvalho

Sou um ser, o outro é metade
que não sabe de onde veio.
Sou treva, sou claridade.
Solidão partida ao meio
e entre os dois a eternidade.

Sei quem sou, não me conheço.
Parado, estou sempre indo
para um país sem regresso.
Sou fonte e estou me esvaindo,
fluir sem fim nem começo.

Coração partido ao meio,
pulsando em cada metade.
O lirismo do espantalho
a espuma do devaneio.
Entre os dois a eternidade.


Imagem da Internert, pelo Google

Sobre o autor:
Francisco Carvalho, nasceu em 1927, na cidade de Russas- Ceará
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

                                                                Fonte

Oh! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!

Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! dias de minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo,
E despertava a cantar!

Oh! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
- Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

foto_rara_mpb                                                                       imagem recebida da Lari

Clique na imagem para ampliar

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Van Gogh


Rebelde, inclinado à solidão, até mesmo insociável, van Gogh é um desajustado no seu lar, em sua terra e em sua sociedade.

Desde jovem, tem dificuldade em se adequar aos padrões e passa por diversos trabalhos, até que descobre sua verdadeira aptidão, a pintura. É ajudado por seu irmão mais novo Theodore, a quem chama carinhosamente de Theo. Foi seu amparo afetivo, emocional e econômico.

Em 1876, vive suas primeiras crises nervosas e tem na religião um refúgio. Resolve ser pastor. Mas nem assim ele se aquieta. Pregava pouco e se preocupava demais com os doentes e crianças.

Quando resolve pintar, Theo o ajuda, pois neste período é um dos dirigentes da Galeria Goupil. Theo está em Paris, o centro artístico. Com o dinheiro que ele manda, van Gogh estuda anatomia e perspectiva. Resolve pintar a sua terra e os homens simples. Não deseja fazer uma pintura clássica, pintar "gente que não trabalha". E diz:

"Eu não quero pintar quadros, quero pintar a vida".

Vida para ele são paisagens e gente, isto é, camponeses e mineiros, campo e trigais.

Em 1885/86, van Gogh está em Antuérpia, onde ele se apaixona definitivamente pela cor:

"O pintor do futuro será um colorista como nunca foi possível antes".

Era um excepcional artista que foi buscar lá fora, na própria natureza, o colorido, as formas revoltas, as árvores farfalhantes, as casas solitárias, os rostos sofridos, os corpos alquebrados, os céus estrelados, o amarelo dos girassóis e dos trigais, tudo com um brilho muito exagerado para ter mais expressão. Ele dizia:

"Procuro com o vermelho e o verde exprimir as mais terríveis paixões humanas. Quero pintar o retrato das pessoas como eu as sinto e não como eu as vejo".

Em 1888 (Arles) pinta ao ar livre. Quando chega o verão e o sol, van Gogh liberta as cores:

"Eu quero a luz que vem de dentro, quero que as cores representem as emoções".

A seu convite, Gauguin chega em Outubro, para trabalharem juntos. Seguem-se dois meses de trabalho duro é fértil para ambos. Mas a diferença de temperamento e de atitude diante da vida acaba explodindo numa inevitável desavença.

Van Gogh tem crises de humor, discute, agride o amigo, sofre de mania de perseguição e numa das crises tenta ferir Gauguin com uma navalha. Perde a luta, é levado para a cama em lágrimas e com descontrole muscular. Arrependido, corta, de propósito, um pedaço da orelha e manda num envelope à mulher que motivou a briga.

Recolhido ao hospital Saint-Paul para doentes nervosos, mais tarde pinta, diante do espelho , o Auto-retrato com a orelha cortada. Seu olhar é de espanto, mágoa e melancolia.

Em maio de 1889 ele mesmo pede ao irmão que o interne. Vai ao hospital de Saint-Rémy. Seu quarto do hospital é transformado em atelier.Pinta sem parar, e manda dizer ao irmão que está pintando bem. Pinta paisagens, o hospital, os doentes, as celas, o pátio e os médicos. Apesar de sua grande produção, vendeu um único quadro em sua vida toda.

Seus últimos quadros já mostram deformações mais fortes, pois van Gogh prefere pintar a sua própria realidade. Os trigais são turbulentos e inquietos, os ciprestes estão trêmulos, angustiantes, cheios de tensão, as oliveiras tornam-se exaltadas e torcidas.

No dia 27 de julho de 1890 sai para o campo de trigo com um revólver na mão. É domingo, o grão está dourado, o céu incrivelmente azul. Corvos muitos pretos gritam e fogem em revoada. Dias antes ele pintou esse quadro. No meio do campo dá um tiro no peito.

Vincent van Gogh com sua pintura contribuiu para a pintura moderna com a vitória da cor sobre o desenho, libertando a cor. Foi o precursor do Expressionismo.

Fonte

domingo, 30 de novembro de 2008
A canção vencedora IV Festival Internacional da Canção - 1969



CANTIGA POR LUCIANA
Comp.: Edmundo Souto e Paulinho Tapajós

Interpretação: Evinha

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01 - Cantiga Por Luciana - Evinha
(Edmundo Souto e Paulinho Tapajós)
02 - Juliana - Antônio Adolfo e A Brazuca (Antônio Adolfo e Tibério Gaspar)
03 - Visão Geral - Clara Nunes
(César Costa Filho, Ruy Maurity e Ronaldo Monteiro de Souza) 
04 - Razão de Paz Para Não Cantar - Quarteto Forma
(Eduardo Lages e Alesio Barros)
05 - Minha Marisa - Golden Boys
(Fred Falcão e Paulinho Tapajós)
06 - O Tempo e o Vento - Beth Carvalho
(Jorge Omar e Billy Blanco)
07 - Quem Mandou - Quarteto Forma
(Sergio Bittencourt e Eduardo Souto Neto)
08 - Ave Maria dos Retirantes - Clara Nunes
(Alcyvando Luz e Carlos Coquejo)
09 - Beijo Sideral - Marcos Valle
(Marcos Valle e Paulo Sergio Valle)
10 - Flor Manequim Depois Mulher - Taiguara e Quarteto Forma (Taiguara)


Vencedores:
1º lugar: Cantiga por Luciana - também 1º lugar na fase internacional;
2º lugar: Juliana
3º lugar: Visão geral
4º lugar: Razão de paz pra não cantar
5º lugar: Minha Marisa

SAIBA MAIS
sábado, 29 de novembro de 2008

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DOWNLOAD >> AQUI

1 - Maré Morta - Edu Lobo
     (Edu Lobo e Ruy Guerra)
2 - O Sonho - Egberto Gismonti
      (Egberto Gismonti)
3 - Amada Canta - Claudete Soares
      (Luis Bonfá e Maria Helena Toledo)
4 - Maria é só você - Agora 4
      (Alcyvando Luz e Carlos Coqueijo)
5 - Mestre Sala - Tuca
      (Reginaldo Bessa e Ester Bessa)
6 - Corpo e Alma - Paulo Cesar
      (Augusta Maria Tavares)
7 - Rainha do Sobrado - Elmo Rodrigues
      (Eduardo Souto Neto)
8 - Rua da Aurora - Lucelena
      (Durval Ferreira e F. Gaspar)
9 - Engano - Márcia
      (R. de Oliveira e F. Cesar)
10 - Por causa de um amor - Paulo Marquez
       (Capiba)
11 - Herói de Guerra - Silvia Maria e O Vocal
       (Adilson Godoi)
12 - Pra não dizer que não falei de flores - Trio Marayá
       (Geraldo Vandré)
13 - Praia só - Geise
       (Irinea Ribeiro)

Vencedores:

Sabiá (Tom Jobim e Chico Buarque), com Cynara e Cybele.
Pra não dizer que não falei de flores, ou "Caminhando" (Geraldo Vandré), com Geraldo Vandré;
Andança (Edmundo Souto, Danilo Caymmi e Paulinho Tapajós), com Beth Carvalho e Golden Boys.
Passaralha (Edino Krieger), com Grupo 004;
Dia de vitória (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle), com Marcos Valle.

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Imagem: Agencia O Globo

Criado por Augusto Marzagão, o Festival Internacional da Canção (FIC) foi realizado em sete edições, de 1966 a 1972, no Maracanãzinho (RJ). O I FIC foi transmitido pela TV Rio e os demais pela TV Globo. O evento era dividido em duas fases, nacional e internacional. A canção classificada em 1º lugar na fase nacional representava o Brasil na fase internacional do festival, disputando com representantes de outros países o Prêmio Galo de Ouro, desenhado por Ziraldo e confeccionado pela joalheria H. Stern. Apenas duas canções brasileiras foram contempladas com o Galo de Ouro: "Sabiá" (Tom Jobim e Chico Buarque), interpretada por Cynara e Cybele, vencedora em 1968 do III FIC, e "Cantiga por Luciana" (Edmundo Souto e Paulinho Tapajós), interpretada por Evinha, vencedora em 1969 do IV FIC. Destaque para Hilton Gomes, apresentador oficial do FIC, que imortalizou a frase "Boa sorte, maestro!", e para Erlon Chaves, que compôs o "Hino do FIC", tema de abertura do festival. 

Finalistas

1966
Saveiros (Dori Caymmi e Nelson Motta), com Nana Caymmi.
O cavaleiro (Tuca e Geraldo Vandré), com Tuca.
Dia das rosas (Luiz Bonfá e Maria HelenaToledo), com Maysa.

1967
Margarida (Gutenberg Guarabyra), com Gutemberg Guarabyra e o Grupo Manifesto.
Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant), com Milton Nascimento (prêmio de melhor intérprete).
Carolina (Chico Buarque), com Cynara e Cybele.
Fuga e antifuga (Edino Krieger e Vinicius de Moraes), com o Grupo 004 e As Meninas;
São os do Norte que vêm (Capiba e Ariano Suassuna), com Claudionor Germano.

1968
Sabiá (Tom Jobim e Chico Buarque), com Cynara e Cybele.
Pra não dizer que não falei de flores, ou "Caminhando" (Geraldo Vandré), com Geraldo Vandré;
Andança (Edmundo Souto, Danilo Caymmi e Paulinho Tapajós), com Beth Carvalho e Golden Boys.
Passaralha (Edino Krieger), com Grupo 004;
Dia de vitória (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle), com Marcos Valle.

1969
Cantiga por Luciana (Edmundo Souto e Paulinho Tapajós), com Evinha.
Juliana (Antonio Adolfo e Tibério Gaspar), com A Brasuca;
Visão geral (César Costa Filho, Ruy Maurity e Ronaldo Monteiro de Souza), com César Costa Filho e Grupo 004;
Razão de paz pra não cantar (Eduardo Laje e Alésio Barros), com Cláudia
Minha Marisa (Fred Falcão e Paulinho Tapajós).

1970
BR-3 (Antonio Adolfo e Tibério Gaspar), com Tony Tornado e Trio Ternura.
O amor é o meu país (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza), com Ivan Lins.
Encouraçado (Sueli Costa e Tite de Lemos), com Fábio;
Um abraço terno em você, viu mãe (Gonzaguinha), com Gonzaguinha;
Abolição 1860-1960 (Dom Salvador e Arnoldo Medeiros), com Luís Antônio, Mariá e o Conjunto Dom Salvador.

1971
Kyrie (Paulinho Soares e Marcelo Silva), com Trio Ternura.
Karany Karanuê (José de Assis e Diana Camargo), com Trio Ternura.
Desacato (Antônio Carlos e Jocáfi), com Antônio Carlos e Jocáfi.
Canção pra senhora (Sérgio Bittencourt), com O Grupo;
João Amém (W. Oliveira e Sérgio Mateus), com Sérgio Mateus.

1972
Fio Maravilha (Jorge Ben), com Maria Alcina.
Diálogo (Baden Powell e Paulo César Pinheiro), com Tobias e Cláudia Regina.
Let me sing (Raul Seixas), com Raul Seixas.
Eu sou eu Nicuri é o diabo (Raul Seixas)


Fontes:
Dicionário Cravo Albim da Música Popular Brasileira
Wikipédia

Eurynome_and_Ophion
                                                 Jonhaton Earl Bowser


Escreverás meu nome com todas as letras,
com todas as datas,
— e não serei eu.

Repetirás o que me ouviste,
o que leste de mim, e mostrarás meu retrato,
— e nada disso serei eu

Dirás coisas imaginárias,
invenções sutis, engenhosas teorias,
— e continuarei ausente,

Somos uma difícil unidade,
de muitos instantes mínimos,
— isso serei eu,

Mil fragmentos somos, em jogo misterioso,
aproximamo-nos e afastamo-nos, eternamente,
— Como me poderão encontrar?

Novos e antigos todos os dias,
transparentes e opacos, segundo o giro da luz,
nós mesmos nos procuramos.

E por entre as circunstâncias fluímos,
leves e livres como a cascata pelas pedras.
— Que mortal nos poderia prender?

[Biografia - Cecília Meireles]

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

solidao_18  
                                                        imagem da internet


Tentei, um dia, descrever o mistério da aurora marítima.

      Às cinco da manhã a angústia se veste de branco
      E fica como louca, sentada espiando o mar...

Eu a vira, essa aurora. Não havia cor nem som no mundo. Essa aurora, era a pura ausência. A ânsia de prendê-la, de compreendê-la, desde então me perseguiu. Era o que mais me faltava à Poesia:

      E um grande túmulo veio
      Se desvendando no mar...

Mas sempre em vão. Quem era ela de tão perfeita, de tão natural e de tão íntima que se me dava inteira e não me via; que me amava, ignorando-me a existência?

      És tu, aurora?
      Vejo-te nua
      Teus olhos cegos
      Se abrem, que frio!
      Brilham na treva
      Teus seios tímidos...

O desespero inútil das soluções... Nunca a verdade extrema da falta absoluta de tudo, daquele vácuo de Poesia:

      Desfazendo-se em lágrimas azuis
      Em mistério nascia a madrugada...

Lembrava uma mulher me olhando do fundo da treva:

      Alguém que me espia do fundo da noite
      Com olhos imóveis brilhando na noite
      Me quer.

E fora essa a única verdade conseguida. A aurora é uma mulher que surge da noite, de qualquer noite – essa treva que adormece os homens e os faz tristes. Só a sua claridade é amiga e reveladora. Ao poeta mais pobre não seria dado desvendá-la em sua humildade extrema. O poeta Carlos, maior, mais simples, a revelaria em sua pulcritude, a aurora que unifica a expressão dos seres, dá a tudo o mesmo silêncio e faz bela a miséria da vida:

      Aurora,
      entretanto eu te diviso, ainda tímida,
      inexperiente das luzes que vais acender
      e dos bens que repartirás com todos os homens.

      Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
      Adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando a treva noturna.
      O triste mundo facista se decompõe ao contato de teus dedos,
      teus dedos frios, que ainda não se modelaram
      mas que avançam na escuridão como um sinal verde e peremptório.
      Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
      minha carne estremece na certeza de tua vinda.
      O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes se enlaçam,
      os corpos hirtos adquirem uma fluidez,
      uma inocência, um perdão simples e macio...
      Havemos de amanhecer. O mundo
      se tinge com as tintas da antemanhã
      e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
      para colorir tuas pálidas faces, aurora.

A aurora dos que sofrem, a única aurora. Aquela mesma que eu vira um dia, mas cujo segredo não soubera revelar. Uma mulher que surge da sombra...
Bem haja aquele que envolveu sua poesia da luz piedosa e tímida da aurora!

[A mulher e a sombra - Vinicius de Moraes]

sunflowers_28 

GIRASSOL
Eugenio Montale

Traz-me um girassol para que o transplante
no meu árido terreno
e mostre todo o dia
ao espelho azul do céu
a ansiedade do teu rosto
amarelento

Tendem à claridade as coisas obscuras
esgotam-se os corpos num fluir
de tintas ou de músicas. Desaparecer
é então a dita das ditas

Traz-me tu a planta que conduz
aonde crescem loiras transparências
e se evapora a vida como essência
Traz-me o girassol de enlouquecidas luzes.


Imagem da Internet, pelo Google


                                                               Fonte

Jograis  de  São  Paulo  formado por:
Alex  Ribeiro,  Rubens de Falco,  Ruy  Affonso e Homero Kosac


O Dia da Criação

Macho e fêmea os criou.
Bíblia: Gênese, 1, 27

I

Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.

II

Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.

III

Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia,
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.


O Dia da Criação - Vinicius de Moraes
in Antologia Poética

Fonte:
www.viniciusdemoraes.com.br

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Dindi

Intérprete: Flora Purim
Autores: Tom Jobim,Vinícius de Moraes e Aloysio de Oliveira


Céu, tão grande é o céu
E bandos de nuvens que passam ligeiras
Prá onde elas vão, ah, eu não sei, não sei
E o vento que toca nas folhas
Contando as histórias que são de ninguém
Mas que são minhas e de você também
Ai, Dindí
Se soubesses o bem que eu te quero
O mundo seria, Dindí, tudo, Dindí, lindo, Dindí
Ai, Dindí
Se um dia você for embora me leva contigo, Dindí
Olha, Dindí, fica, Dindí
E as águas desse rio
Onde vão, eu não sei
A minha vida inteira, esperei, esperei por vo...cê, Dindí
Que é a coisa mais linda que existe
É você não existe, Dindí

Fonte do vídeo

Three_Women
                                         imagem de Charles Courtney Curran


O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo.


[O Poema - Sophia de Mello Breyner Andresen]

terça-feira, 18 de novembro de 2008

woman_854
imagem da internet

Não sei dizer o que é o amor
nos passados onde o amor se cansa,
sentido e vivido, colhido em ramo ou em flor,
o que ele canta sobra ainda nesta dança.

Podia estendê-lo na frase sem sujeito,
fazer dele um advérbio, cabelo sem trança,
vê-lo descer como rio sobre o peito,
inundar o corpo na manhã que avança.

Deixá-lo ficar nos olhos sem destino,
tê-lo amarrado ao desejo que esconde.
E persegui-lo quando parece mais longe,

trazê-lo aqui mais perto, vê-lo pequenino.
O amor voa sem ter de subir ao céu,
encobre o rosto quando fica sem véu.

[Rimas Soltas - Nuno Júdice]

angel_46

DESTINO DO POETA
Octávio paz

Palavras? Sim. De ar
e perdidas no ar.
Deixa que eu me perca entre palavras,
deixa que eu seja o ar entre esses lábios,
um sopro erramundo sem contornos,
breve aroma que no ar se desvanece.
Também a luz em si mesma se perde.

Imagem da Internet, pelo Google
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
poeta

DIALÉTICA DO POEMA
Francisco Carvalho

Fazer um poema
não é dizer coisas profundas.
É ver as coisas como as coisas não são.
Fazer um poema não é viajar no espelho.
É ir à procura do rosto do homem
perdido na escuridão.
É descer às raízes do sangue e do mito.
Fazer um poema é estar em conflito
com os dedos da mão.

Imagem da Internet, via Google
quinta-feira, 13 de novembro de 2008

hx_ArtSeries_ChenChongPing_16
                                              imagem: Chen Chong Ping


Deixa-me errar alguma vez,
porque também sou isso: incerta e dura,
e ansiosa de não te perder agora que entrevejo
um horizonte.
Deixa-me errar e me compreende
porque se faço mal é por querer-te
desta maneira tola, e tonta, eternamente
recomeçando a cada dia como num descobrimento
dos teus territórios de carne e sonho, dos teus
desvãos de música ou vôo, teus sótãos e porões
e dessa escadaria de tua alma.

Deixa-me errar mas não me soltes
para que eu não me perca
deste tênue fio de alegria
dos sustos do amor que se repetem
enquanto houver entre nós essa magia.

[Canção para um desencontro - Lya Luft]


Memória da Pele
Intérprete: Mariana Aydar
Autores: João Bosco/Waly Salomão


Eu já esqueci você
Tento crer
Nesses lábios que meus lábios sugam de prazer
Sugo sempre
Busco sempre
A sonhar em vão
Cor vermelha carne da sua boca, coração
Eu já esqueci você, tento crer
Seu nome, sua cara, seu jeito, seu odor
Sua casa, sua cama
Sua carne, seu suor
Eu pertenço a raça da pedra dura
Quando enfim juro que esqueci
Quem se lembra de você em mim
Em mim
Não sou eu sofro e sei
Não sou eu finjo que não sei, não sou eu
Sonho bocas que murmuram
Tranço em pernas que procuram enfim
Não sou eu sofro e sei
Quem se lembra de você em mim
Eu sei, eu sei
Bate é na memória da minha pele
Bate é no sangue que bombeia
Na minha veia
Bate é no champanhe que borbulhava
Na sua taça e que borbulha agora na taça da minha cabeça
Eu já esqueci você, tento crer
Nesses lábios que meus lábios sugam de prazer
Sugo sempre
Busco sempre a sonhar em vão
Cor vermelha, carne da sua boca, coração

Fonte do vídeo
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