sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

QUERO NASCER DE NOVO
Dionísio Furtes Alvarez

Quero nascer de novo cada dia que nasce.
Quero ser outra vez novo, puro, cristalino.

Quero lavar-me, cada manhã, do homem velho,
da poeira velha, das palavras gastas,
dos gestos rituais.

Quero reviver a primeira manhã da criação,
o primeiro abrir dos olhos para a vida.

Quero que cada manhã
a alma desabroche do sono
como a rosa do botão,
e surja, como a aurora do oceano,
ao sorriso dos teus lábios,
ao gesto de tua mão.

Quero me engrinaldar para a festa renovada
como que cada dia nos convidasse
e desdobrar as asas como a águia
em demanda do sol.

Quero crer, a cada nova aurora,
que esta é a definitiva,
a do encontro com a felicidade,
a da permanência assegurada,
a do teu sim definitivo.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

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É NATAL 
Fernando Tanajura Menezes

Cavalo de pau
Barco de papel
Boneca de pano
E um falso anel

Bola de sabão
Azul da cor do céu
Saco de pipoca
Velho Papai Noel

É noite de Natal
Na igreja bate o sino
Corremos pro presépio
Pra ver o Deus-Menino

Estrela mais brilhante
Tempo de magia
Guia os três Reis Magos
E traz muita alegria

Tempo de Natal
Tempo só de luz
Tempo de presentes
É tempo de Jesus

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Fernando Tanajura Menezes é Poeta, Contador e Administrador de Empresas
Nasceu em
Nazaré das Farinhas – Ba

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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

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PAPAI NOEL ÀS AVESSAS
Carlos Drummond de Andrade

Papai Noel entrou pela porta dos fundos
(no Brasil as chaminés não são praticáveis),
entrou cauteloso que nem marido depois da farra.
Tateando na escuridão torceu o comutador
e a eletricidade bateu nas coisas resignadas,
coisas que continuavam coisas no mistério do Natal.
Papai Noel explorou a cozinha com olhos espertos,
achou um queijo e comeu.

Depois tirou do bolso um cigarro que não quis acender.
Teve medo talvez de pegar fogo nas barbas postiças
(no Brasil os Papai-Noéis são todos de cara raspada)
e avançou pelo corredor branco de luar.
Aquele quarto é o das crianças
Papai  entrou compenetrado.

Os meninos dormiam sonhando outros natais muito mais lindos
mas os sapatos deles estavam cheinhos de brinquedos
soldados mulheres elefantes navios
e um presidente de república de celulóide.

Papai Noel agachou-se e recolheu aquilo tudo
no interminável lenço vermelho de alcobaça.
Fez a trouxa e deu o nó, mas apertou tanto
que lá dentro mulheres elefantes soldados presidente brigavam por causa do  aperto.

Os pequenos continuavam dormindo.
Longe um galo comunicou o nascimento de Cristo.
Papai Noel voltou de manso para a cozinha,
apagou a luz, saiu pela porta dos fundos.

Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes.

In Alguma Poesia, 1930
Mais Drummond >> A Voz da Poesia

Imagem: dos arquivos da Voz da Poesia

terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Tento compor o nosso amor dentro da tua ausência

 
A Rosa Desfolhada
Composição: Vinicius de Moraes e Toquinho 


Tento compor o nosso amor
Dentro da tua ausência
Toda a loucura, todo o martírio
De uma paixão imensa
Teu toca-discos, nosso retrato
Um tempo descuidado

Tudo pisado, tudo partido
Tudo no chão jogado
E em cada canto
Teu desencanto
Tua melancolia
Teu triste vulto desesperado
Ante o que eu te dizia
E logo o espanto e logo o insulto
O amor dilacerado
E logo o pranto ante a agonia
Do fato consumado

Silenciosa
Ficou a rosa
No chão despetalada
Que eu com meus dedos tentei a medo
Reconstruir do nada:
O teu perfume, teus doces pêlos
A tua pele amada
Tudo desfeito, tudo perdido
A rosa desfolhada

Fonte do vídeo
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Jean-Baptiste Valadie_sensualite

PSIQUE
Carlos Alberto de Mello

Um pedaço de mim corteja a lua,
outro procura pôr os pés no chão.
Enquanto aquele vaga pela rua,
este não perde nunca a direção.

Um lado pensa, julga, conceitua,
o outro se perde sempre na emoção.
Uma parte se veste, a outra está nua;
uma escreve discurso, a outra canção.

A metade que fala não escuta.
A que escuta não sabe o que dizer.
Eu inteiro sou parte da disputa,

e não sei o que vai acontecer:
Se sentamos na mesa com cicuta
ou se aprendemos a nos conhecer...

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Carlos Alberto de Mello é carioca morador de Botafogo. Possui poemas publicados nos livros VIDA (2001) e CANTO DE RUA (1981). Ambos com edição esgotada. Escreveu também um livro voltado ao público infanto-juvenil (DESCOBRINDO O BRASIL) sobre mamíferos brasileiros ameaçados de extinção (veja mais no link (http://descobrindoobrasil.no.comunidades.net/). É funcionário público federal, com curso de pós-graduação em Letras na UERJ.

Imagem: pintura de Jean-Baptiste Valadie
9-4

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

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NOSSA SENHORA DAS FLORES
Adélia Prado

Acostuma teus olhos ao negrume do pátio
e olha na direção onde ao meio-dia
cintilava o jardim.
A rosa miúda em pencas
destila inquietações,
peleja por abortar teu passeio noturno.
Há mais que um cheiro de rosas,
o movimento das palmas não será o réptil?
Ó Mãe da Divina Graça,
vem com tua mão poderosa,
mata este medo pra mim.

 

Mais de Adélia Prado

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

image KHALIL GIBRAN
(Gibran Kahlil Gibran)
Ensaísta filosófico, romancista, poeta e pintor libanês
Nasceu em 06/12/1883
Em Becharre, Líbano
Faleceu em 10/04/1931
Em Nova York, EUA


 

 


Seu nome completo é Gibran Khalil Gíbran. Assim assinava em árabe. Em inglês, preferiu a forma reduzida e ligeiramente modificada de Kahlil Gibran. É mais comumente conhecido sob o simples nome de Gibran.

1883 - Nasceu em 6 de dezembro, de pais pobres, em Bichane, na montanha do Libano, a uma pequena distância dos cedros milenares. Tinha oito anos quando, um dia, um temporal se abate sobre sua cidade. Gibran olha, fascinado, para a natureza em fúria e, estando sua mãe ocupada, abre a porta e sai a correr com os ventos. Quando a mãe, apavorada, o alcança e repreende, ele lhe responde com todo o ardor de suas paixões nascentes: "Mas, mamãe, eu gosto das tempestades. Gosto delas. Gosto!" (Seu melhor livro em árabe será intitulado Temporais).

"O Oriente não teve poeta que exprimisse melhor a delicadeza mística de sua alma. Gibran é um desses mestres da sabedoria que ensinam a arte de viver pela conquista da paz interior nutrida na contemplação da beleza.
O seu convívio intelectual apazigua as dúvidas do coração, alimenta a fé na superioridade espiritual do homem, num estilo ao mesmo tempo cheio de vida e simplicidade, cuja fonte é a natureza em suas inspira ções mais límpidas e amáveis."

 DO AMOR

Então, Almitra disse: “Fala-nos do amor.”

E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão, e um silêncio caiu sobre todos, e com uma voz forte, disse:

“Quando o amor vos chamar, segui-o, embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados; e quando ele vos envolver com suas asas,

cedei-lhe, embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos; e quando ele vos falar, acreditai nele, embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim.

Pois, da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica. E da mesma forma que contribui para vosso crescimento, trabalha para vossa poda.

E da mesma forma que alcança vossa altura e acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol, assim também desce até vossas raízes e as sacode no seu apego à terra.

Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez. Ele vos peneira para libertar-vos das palhas. Ele vos mói até a extrema brancura. Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.

Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no pão místico do banquete divino.

Todas essas coisas, o amor operará em vós para que conheçais os segredos de vossos corações e, com esse conhecimento, vos convertais no pão místico do banquete divino.

Todavia, se no vosso amor, procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor, então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez e abandonásseis a eira do amor, para entrar num mundo sem estações, onde rireis, mas não todos os vossos risos, e chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.

O amor nada dá senão de si próprio e nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.

Pois o amor basta-se a si mesmo.

Quando um de vós ama, que não diga: “Deus está no meu coração”, mas que diga antes: “Eu estou no coração de Deus.”

E não imagineis que possais dirigir o curso do amor, pois o amor, se vos achar dignos, determinará ele próprio o vosso curso.

O amor não tem outro desejo senão o de atingir a sua plenitude.

Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos, sejam estes os vossos desejos: de vos diluirdes no amor e serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite; de conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada; de ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor e de sangrardes de boa vontade e com alegria; de acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de amor; de descansardes ao meio-dia e meditardes sobre o êxtase do amor; de voltardes para casa à noite com gratidão; e de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado, e nos lábios uma canção de bem-aventurança.”

Leia mais Gibran >> AQUI

©Khalil Gibran
In O Profeta, 1923
Gibran na VOZ DA POESIA

domingo, 5 de dezembro de 2010

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O CAMINHO BRANCO
Lêdo Ivo

Vou por um caminho branco
Viajo sem levar nada.
Minhas mãos estão vazias.
Minha boca está calada.
Vou só com o meu silêncio
e a minha madrugada.
Não escuto, entre os barrancos,
a voz do galo estridente
que, na treva do terreiro,
anuncia as alvoradas.
Nem mesmo escuto a minha alma:
não sei se ela vai dormindo
ou me acompanha acordada,
se ela é vento ou se ela é cinza
ou nuvem rubra raiante
no dia que se levanta
como vela desdobrada
em nave que corta as vagas.
Não sei nem mesmo se é alma
ou apenas sal de lágrimas.
Vou por um caminho branco
que parece a Via Láctea.
Só sei que vou tão sozinho
que nem sequer me acompanho,
como se eu fosse um caminho
pisado por vulto estranho.
Não sei se é dia ou se é noite
o que surge à minha frente,
se é fantasma do passado
ou vivente do presente.
Não sei se é a torrente clara
da água que corre entre pedras
ou se um gavião me espreita
oculto no nevoeiro,
espantalho prometido
ao meu dia derradeiro.
Atravessando barrancos
e plantações de tomate
e ouvindo o canto escarlate
de airosos galos polacos,
vou por um caminho branco:
brancura de bruma e prata.
Entre tufos de carqueja
há constelações de orvalho
e um clarão de meio-dia
cega a minha madrugada.
Vou como vim, sem saber
a razão da travessia.
Nem sequer levo na boca
o gosto de água salgada
que relembra a minha infância
feita de mar e de mangue.
Nem sequer levo nos olhos
- nos meus olhos de menino -
a mancha rubra de sangue
deixada pelo assassino
que vi certa madrugada.
Vou por um caminho branco
e nada levo nem tenho:
nem ninho de passarinho
nem fogo santo de lenho.
Só vou levando o meu nada.
Foi tudo quanto juntei
para oferecer a Deus
nesta madrugada.

 

Fonte: academia.org.br
Imagem da Internet, by Google

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POST COITUM ANIMAL TRISTE
Fernando Guimarães 



Em ti o poema, o amplo tecido da água ou a forma
do segredo. Outrora conheceste a margem abandonada
do desejo, a sua extensão e principias a entregar
os vasos alongados para receberes as mãos das chuvas.

Apagaram-se junto dos teus olhos as praias, as árvores
que se ergueram um dia sobre as estradas romanas,
o vestígio dos últimos peregrinos, aves nuas
que já desceram, cansadas, pelo interior do teu peito.

Uma voz, no silêncio calmo das águas, esquece
a mentira das primeiras colheitas, onde os nossos gestos
perderam os sorrisos ou o orvalho que os cerca.

Serenamente, começaram a fechar-se os sonhos de Deus
no interior de novos frutos e, abandonado, fico
junto do teu corpo, onde principia a sombra deste poema.

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In Poesias Completas
Imagem da Internet, by Google
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010


Relaxing Piano Music by Victor Huynh / Pour Emily


NALGUM LUGAR
e.e. cummings
Tradução: Augusto de Campos
Música e interpretação: Zeca Baleiro

nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência,teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado,eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva,tem mãos tão pequenas

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diainternacionaldeficientefisico

No ano de 1982, a Assembleia Geral da ONU – Organização das Nações Unidas, criou um programa que visa atender as necessidades das pessoas com qualquer tipo de deficiência física, o Programa de Ação Mundial para Pessoas com Deficiência.

Dez anos depois, no dia 14 de outubro, a Assembleia instituiu o dia 03 de dezembro como o dia internacional do deficiente físico, para que pudessem conscientizar, comprometer e fazer com que programas de ação conseguissem modificar as circunstâncias de vida dos deficientes em todo o mundo.

 
Fonte do Texto >>>> 
DAQUI
Fonte da imagem >>  DAQUI

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

02/12 – Dia Nacional do Samba

Vídeo >> DAQUI

 

Vídeo >> DAQUI

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

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AMOR PERENE
Anderson Christofoletti

Theos Estin Agapé
Eros Estin Theos”

Não secularizamos segredos sagrados
Nem crucificamos inocentes.

Aprendemos que só o amor rege os seres,
Que só o amor nos destina à moral e dela nos liberta.

Chegamos a procurar o amor nos corações,
Crendo que toda terra seria fértil;
A acreditar que amar, mais que sensações,
Seria ir além de toda matéria possível.

Mas, mesmo assim, fomos condenados
Culpados...
Julgados pela sombra do pecado,
Culpados...
Pelo medo, degredados;
Pelas aparências subjugadas,
Eternamente culpados...

Porém, se hoje me sinto sem fronteiras:
Sem portas, chaves, senhas...
É porque seus olhos de vida me tocaram.

Se hoje não penso no fim
É porque a vejo em mim;
É porque somos corações
Que não se submeteram às leis dos seres.

©Anderson Christofoletti
► Fonte >>
DAQUI 
► Poesia integrante da I Antologia Poética A Voz da Poesia - 2008, pag. 217
► Imagem: pintura de Ed Tadiello

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

25 de Novembro - Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher

Nao_Violencia_contra_a_mulher

Recomendo essas visitas:

Secretaria de Políticas para as Mulheres

► O post da Ana Merij no blog Literacia Femea… Vale a pena a visita.

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http://literaciafemea.blogspot.com/

► Ponto Final: Uma Campanha  diferenciada que busca mudanças de atitudes e de padrões culturais

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www.campanhapontofinal.com.br/

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

25/11 – DIA DO DOADOR DE SANGUE
Doe sangue e faça alguem nascer de novo

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SAIBA MAIS >> AQUI

terça-feira, 23 de novembro de 2010

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O LIVRO DESCONHECIDO
Clarice Lispector

Estou à procura de um livro para ler. É um livro todo especial. Eu o imagino como a um rosto sem traços. Não lhe sei o nome nem o autor. Quem sabe, às vezes penso que estou à procura de um livro que eu mesma escreveria. Não sei. Mas faço tantas fantasias a respeito desse livro desconhecido e já tão profundamente amado. Uma das fantasias é assim: eu o estaria lendo e de súbito, a uma frase lida, com lágrimas nos olhos diria em êxtase de dor e de enfim libertação: "Mas é que eu não sabia que se pode tudo, meu Deus!"

In A Descoberta do Mundo
Imagem da Internet, by Google (com modificações)

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ADVENTO 1
Rainer Maria Rilke

A minha luta é esta:
sagrado de saudade
divagar pelos dias.
Depois, largo e forte,
com mil raízes fundo
mergulhar vida dentro —
e, amadurecido em dor,
ir longe para além da vida,
longe, para além do tempo.

Minha solidão sagrada,
és tão rica e pura e ampla
como um jardim que desperta.
Sagrada solidão minha —
fecha as tuas portas de ouro
ante os desejos que esperam.

O dia adormece manso, —
vagueio longe dos homens…
Despertos, em vasto círculo,
eu — e uma estrela pálida.

Seu olhar de luz entretecido
repousa claro e cintilante em mim;
parece estar, lá no céu,
tão só como eu aqui…

Fonte >> DAQUI
Imagem: pintura de Frederic Edwin Church

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

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A MULHER
António Ramos Rosa

Se é clara a luz desta vermelha margem
é porque dela se ergue uma figura nua
e o silêncio é recente e todavia antigo
enquanto se penteia na sombra da folhagem.
Que longe é ver tão perto o centro da frescura

e as linhas calmas e as brisas sossegadas!
O que ela pensa é só vagar, um ser só espaço
que no umbigo principia e fulge em transparência.
Numa deriva imóvel, o seu hálito é o tempo
que em espiral circula ao ritmo da origem.

Ela é a amante que concebe o ser no seu ouvido, na corola
do vento. Osmose branca, embriaguez vertiginosa.
O seu sorriso é a distância fluida, a sutileza do ar.
Quase dorme no suave clamor e se dissipa
e nasce do esquecimento como um sopro indivisível.

In  Volante Verde
Imagem: pintura de Svetlana Valueva

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A MÚSICA
Charles Baudelaire

A música p'ra mim tem seduções de oceano!
Quantas vezes procuro navegar,
Sobre um dorso brumoso, a vela a todo o pano,
Minha pálida estrela a demandar!

O peito saliente, os pulmões distendidos
Como o rijo velame d'um navio,
Intento desvendar os reinos escondidos
Sob o manto da noite escuro e frio;

Sinto vibrar em mim todas as comoções
D'um navio que sulca o vasto mar;
Chuvas temporais, ciclones, convulsões

Conseguem a minh'alma acalentar.
— Mas quando reina a paz, quando a bonança impera,
Que desespero horrivel me exaspera!

In  As Flores do Mal
Tradução de Delfim Guimarães

sábado, 20 de novembro de 2010

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Caros Amigos de Literacia,

Fechando as comemorações do Dia Nacional da Consciência Negra, publicamos o pensamento de Literacia sobre Racismo,

e dois artigos que julgamos procedentes, dada a magnitude desta data emblemática  para nossos Irmãos Negros, e para cada Cidadão Brasileiro justo e fraterno.

Que todos os dias sejam Dias do Negro, do Branco, do Índio... da Mulher, do Homem, sem necessidade de calendários marcados, porque a Igualdade se fará Verdade.

Em: http://literaciaracismoecrime.blogspot.com/

 Ana de Abrão Merij

Brasileira - filha das Minas Gerais, Professora Universitária, Fundadora e Editora de Literacia
www.avozdapoesia.com.br/anamerij

"Enquanto a cor da pele dos homens for mais importante que o brilho de seus olhos haverá guerra "
(Robert Nesta 'Bob' Marley)

 


ENCONTREI MINHAS ORIGENS
Oliveira Silveira

Encontrei minhas origens
Em velhos arquivos
Livros

Encontrei
Em malditos objetos
Troncos e grilhetas

Encontrei minhas origens
No leste
No mar em imundos tumbeiros

Encontrei
Em doces palavras
Cantos

Em furiosos tambores
Ritos

Encontrei minhas origens
Na cor de minha pele
Nos lanhos de minha alma

Em mim

Em minha gente escura
Em meus heróis altivos

Encontrei
Encontrei-as, enfim
Me encontrei.

 

Oliveira Ferreira da Silveira, professor, poeta e pesquisador gaúcho foi o idealizador do Dia da Consciência Negra.

Vídeo >> DAQUI

domingo, 14 de novembro de 2010

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TERNURA
David Mourão-Ferreira

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

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In Infinito Pessoal
Imagem: Camille Pissarro (1830-1903)

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Eu já sabia, claro. Mas é sempre uma alegria constatar como é bom ter amigos e como é bom se saber amigo.
Amigos Queridos, vocês fizeram da “Seresta no Sereno” um SUCESSO! Parabéns a todos!

A Voz da Poesia agradece a todos os cantores, declamadores, palestrante, coordenadores, organizadores e o público em geral que muito colaboraram para que nosso evento, batizado de "Seresta no Sereno", alcançasse o êxito absoluto. A seresta revelou-se um sucesso de público e de crítica, transcorrendo de acordo com o que havia sido programado. Também testemunhamos momentos maravilhosos e de profunda emoção, que ficarão eternizados na lembrança de quem se fez presente, tanto os participantes diretos quanto a audiência convidada. A marca de todo o encontro foi a alegria, a música e poesia como alimentos do espírito, e a oportunidade de confraternização com novos e velhos amigos. Esperamos que mais adiante possamos agendar uma outra edição da "Seresta no Sereno", trazendo grandes novidades, e contando desde já com a participação de todos. Recebam o carinho de "A Voz da Poesia", sempre falando ao coração.

BarrinhasBarrinhas

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Faz alguns dias que estava com problemas para abrir páginas com áudio ou vídeo em que se usa o média player, como também usar alguns programas do Windows como, por exemplo, o Live Writer.

Nas páginas da Web aparecia esta mensagem: “Can not creat directshow player” e o Live Writer fechava assim que era aberto.

Pesquisando nos Fóruns achei a solução, sem precisar desinstalar ou reinstalar abslotumente nada. Vou deixar o link do Fórum, e também a dica do autor:

“iniciar, executar, digite:
regsvr32 vbscript.dll tecle enter,dê ok
reinicie”

Fiz como indicado acima e problema resolvido!

Fonte: >> DAQUI

projeto_itau

Todos os anos, junto com a Fundação Itaú Social, o Banco Itaú busca
reforçar a importância do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Este ano a ação convida toda a sociedade a contribuir para o desenvolvimento dessas crianças através de um gesto simples: a leitura para criança de até 6 anos.

O Itaú está distribuindo, gratuitamente, 8 milhões de livros.
A Coleção Itaú de Livros Infantis é feita de quatro volumes. Você recebe em sua casa, em qualquer lugar do Brasil. O seu único compromisso é ler um livro para uma criança e repassar esse livro para outra pessoa fazer o mesmo.

Para pedir seus livros acesse o site www.lerfazcrescer.com.br




Meu Nome É Noite Vadia
Composição: Altay Veloso
Intérprete: Vitor Ramil




Meu nome é noite vadia  
minha namorada é uma estrela 
A minha casa é a estrada 
Seja ela qual for.


O meu cavalo ainda é o vento 
Mas minha coragem é meu chicote 
A minha casa é a estrada 
Seja ela qual for.


Sou como a lira bonita 
Nas mãos de um moço leviano 
Canto a alegria e a tristeza 
Que ele me faz cantar.


Sou um corcel puro sangue 
Mas meu dono é um cigano 
Por isso nunca moro 
muito tempo 
Num mesmo lugar.


Às vezes sou como as águias 
Bailo nos céus e nas alturas 
E às vezes me arrasto 
Qual serpente sobre o capinzal 
E às vezes sou tão sereno 
Como é serena a brisa do outono 
E às vezes fico enlouquecido 
Feito um vendaval.


Sou como um peixe 
Que as vezes ainda duvida 
Que o mar existe 
Ou uma pedra de sal 
Que se perdeu do mar 
Sou um dos filhos de Eva 
Nasci depois do Paraíso 
Sou como a lágrima 
Eu não sei o que é chorar.

aprendi_a_deslizar_por_entre_estrelas


Aprendi a deslizar por entre estrelas
De constelações desconhecidas.

O céu – à noite – é mais inconsequente:
Tem um abraço acolhedor.
Mas, ao mesmo tempo,
Um beijo lascivo
Que a gente não vê.
Apenas sente.

- Durante o dia?
À luz do sol
Crio pegadas
E oculto asas…

Linda

Anderson Christofoletti >> DAQUI

quinta-feira, 4 de novembro de 2010
 


Local: Sala A Voz da Poesia (www.paltalk.com)
Data: 06 de Novembro de 2010
Horário: 20 horas (horário de Brasília)

Tema: Músicas de Serestas e Poesia

Você pode instalar o programa em www.paltalk.com ou participar pela site:
www.paltalk.com/express

Acesse a página, crie um login e senha, após entrar, escolha linguagem portuguesa, em seguida selecione a Categoria South América, vai aparecer a lista de salas, escolha a sala A Voz da Poesia.


sexta-feira, 29 de outubro de 2010

E, mais uma vez, a nossa escritora favorita tem as palavras certas para homenagear o seu renascimento lá, entre os Anjos.
Saudade, Guria…

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Lembrar com amor é oferecer, no coração, um sorriso que se expande. É um jeito instantâneo e poderoso de prece. É um modo de abraço, não importa o aparente tamanho da distância, nem as enganosas cercas do tempo. Lembrar com amor é levar a vida, no exato instante da lembrança, ao lugar onde a outra vida está e plantar uma nova muda de ternura por lá.

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Texto: Ana Jácomo >> DAQUI
Imagem: Jim Warren

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

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A OPINIÃO EM PALÁCIO
Carlos Drummond de Andrade

O Rei fartou-se de reinar sozinho e decidiu partilhar o poder com a Opinião Pública.

- Chamem a Opinião Pública. - ordenou aos serviçais.

Eles percorreram as praças da cidade e não a encontraram. Havia muito que a Opinião Pública deixara de freqüentar lugares públicos. Recolhera-se ao Beco sem Saída, onde, furtivamente, abria só um olho, isso mesmo lá de vez em quando.

Descoberta, afinal, depois de muitas buscas, ela consentiu em comparecer ao Palácio Real, onde Sua Majestade, acariciando-lhe docemente o queixo, lhe disse:

- Preciso de ti.

A Opinião, muda como entrara, muda se conservou. Perdera o uso da palavra ou preferia não exercitá-lo. O Rei insistia, oferecendo-lhe sequilhos e perguntando o que ela pensava disso e daquilo, se acreditava em discos voadores, horóscopos, correção monetária, essas coisas. E outras. A Opinião Pública abanava a cabeça: não tinha opinião.

- Vou te obrigar a ter opinião. - disse o Rei, zangado. Meus especialistas te dirão o que deves pensar e manifestar. Não posso mais reinar sem o teu concurso. Instruída devidamente sobre todas as matérias, e tendo assimilado o que é preciso achar sobre cada uma em particular e sobre a problemática geral, tu me serás indispensável.

E  virando-se para os serviçais:

- Levem esta senhora para o Curso Intensivo de Conceitos Oficiais. E que ela só volte aqui depois de decorar bem as apostilas.

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In Contos Plausíveis. José Olympio, 1985
Imagens da Internet, by Google

sábado, 23 de outubro de 2010

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 TÃO FUNDO O SILÊNCIO
José Saramago

É tão fundo o silêncio entre as estrelas.
Nem o som da palavra se propaga,
nem o canto das aves milagrosas.
Mas, lá, entre as estrelas, onde somos
um astro recriado, é que se ouve
o íntimo rubor que abre as rosas.

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SOB A TUA SERENIDADE
Cecília Meireles

Não me ouvirás... É vão... Tudo se espalha
Pelos ermos de azul... E permaneces
Sobre o vale das súplicas e preces
Com solenes grandezas de muralha...

Minha alma, sem Te ouvir nem ver, trabalha
Tranqüila. Solidão... Desinteresses...
Por que pedir? De tudo que me desses
Nada servirá a esta existência falha...

Nada servirá, agora... E, noutra vida,
Oh, noutra vida eu sei que terei tudo
Que há na paragem bem-aventurada...

Tudo – porque eu nasci desiludida
E sofri, de olhos mansos, lábio mudo,
Não tenho nada e não pedindo nada...

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Cecília Meireles
In Nunca Mais
Imagem da Internet

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