segunda-feira, 21 de novembro de 2011

ARTE POÉTICA
Jorge Luis Borges

Mirar o rio, que é de tempo e água,
E recordar que o tempo é outro rio,
Saber que nos perdemos como o rio
E que passam os rostos como a água.

E sentir que a vigília é outro sonho
Que sonha não sonhar, sentir que a morte,
Que a nossa carne teme, é essa morte
De cada noite, que se chama sonho.

E ver no dia ou ver no ano um símbolo
Desses dias do homem, de seus anos,
E converter o ultraje desses anos
Em uma música, um rumor e um símbolo.

E ver na morte o sonho, e ver no ocaso
Um triste ouro, e assim é a poesia,
Que é imortal e pobre. A poesia
Retorna como a aurora e o ocaso.

Às vezes, pelas tardes, uma face
Nos observa do fundo de um espelho;
A arte deve ser como esse espelho
Que nos revela nossa própria face.

Contam que Ulisses, farto de prodígios,
Chorou de amor ao avistar sua Ítaca
Humilde e verde. A arte é essa Ítaca
De um eterno verdor, não de prodígios.

Também é como o rio interminável
Que passa e fica e que é cristal de um mesmo
Heráclito inconstante que é o mesmo
E é outro, como o rio interminável.

barrinha_9

In O Fazedor, 1987
Tradução de Rolando Roque da Silva
Imagem: Washington Maguetas

'Um belo poema sempre leva a Deus”

Para algumas pessoas a poesia faz sentido, salva, resgata.
Às vezes acontece de nos afastarmos da poesia, mas um Poeta me dizia que ela volta. Sempre. E eu penso cá comigo: Que bom!
Poeta, amigo querido, nesse momento é ela que me alcança a mão e me traz de volta.
Meu afastamento da internet foi – e ainda é – por motivos de saúde. E a minha volta também. O estado de saúde de
D.Rosa se agrava a cada dia e nesse momento percebo que ela – a poesia – é uma companheira fiel.
OBRIGADA a todos os poetas que soltam as suas poesias como folhas ao vento, sem sequer supor onde vão cair, e do que são capazes de fazer na alma daqueles que abrem as portas do coração e as deixam entrar.

 

PRESENÇA
Anderson Christofoletti

Comunhão da presença;
Precisão imprecisa:
Vôo inverso à fusão das vidas
Em uma só vida.
Costume da presença
- tácita -
Silentes verbos de frases necessárias,
Cálida ausência
Da minha
- tua -
Melhor parte.
Meu horizonte por teus olhos
Consagra-se infinito:
Janela aberta,
Céu azul,
Promessa de vida...

Como sonhar sem asas,
Quando, em mim,
Eras manhã de sol
Tatuada sobre sombras?

Qual caminho seguir
Sem tua estrada?

Quem sou,
se sinto que estou
em tua - minha -
alma amputada:

em tua mão,
meu afago;

em teu toque,
meu sentido;

em tua boca,
minha palavra;

em teu corpo,
minha morada;

em teu espírito,
minha poesia.

Quando estás comigo,
Sou mais;
Quando estou contigo,
Estou em paz.

barrinha_rosa1

Leia mais do autor: AQUI e AQUI

imagem sem ident. de autoria - via Google

Related Posts with Thumbnails

Poética

Poesias

Poetas

Vídeos

A Voz aqui

A Poética dos Amigos

Pesquisar neste blog

Rádio

Arquivos