domingo, 5 de junho de 2011

ACHADOS E PERDIDOS
Maria Antonia de Oliveira


A vida se retrata no tempo
formando um vitral
de desenho sempre incompleto,
e cores variadas,
brilhantes,
quando passa o sol.
Pedradas ao acaso
acontecem de partir pedaços,
ficando buracos
irreversíveis.
Os cacos se perdem por aí...

Às vezes encontro
cacos de vida
que foram meus
foram vivos!
Estes me causam tanto encanto
quanto causavam
os cacos
de prato quebrado
que procurava
para brincar de casinha.

Examino-os tentando lembrar
de que resto faziam parte.

Já achei caco pequeno e amarelinho
que ressuscitou de mentira
um velho amigo.
Outro pontudo e azul,
trouxe em nuvens
um beijo antigo.
Um caco vermelho
muito me fez chorar
sem que eu lembrasse
de onde me pertenceu.


In Seriguelas, 2006 - Ed. Scortecci

Palavras da autora:
(Escrita por volta de 1980, hoje anda muito metida dentro de alguns livros do Rubem Alves.)

Esta poesia está no livro Transparências da eternidade, 2002, de Rubem Alves 
Fragmento:

“Hermann Hesse escreveu um livro intitulado O Jogo das Contas de Vidro. É a estória de uma ordem monástica na qual os seus membros, em vez de gastarem o seu tempo com ladainhas e exercícios semelhantes, se dedicavam a um jogo que era jogado com contas de vidro coloridas. Eles sabiam que os deuses preferem a beleza às monótonas repetições sem sentido. O livro não descreve os detalhes do jogo. Mas eu sei do que se tratava. Enquanto escrevo ouço a Sonata n. 27, op. 90, de Beethoven. É linda. As contas de vidro coloridas de Beethoven, nesta sonata, são as notas do piano. Vitrais também são jogos de contas de vidro. Foi na poesia de uma poetisa minha amiga, ex-aluna, Maria Antônia de Oliveira, que pela primeira vez vi a vida como um vitral.
Esses cacos de vitral, essas contas de vidro coloridas - isso meu corpo e minha alma amam, para todo sempre. O amor não se conforma com o veredicto do tempo - os cacos do cristal se perdendo dentro do mar, as contas de vidro colorido afundando para sempre no rio do tempo.”

Sobre a autora:

Maria Antonia de Oliveira nasceu em Olímpia-SP. Formada em Psicologia (PUC- Campinas), e Pedagogia (UNICAMP). É casada, mãe de três filhos, poeta, arte-educadora e coordenadora pedagógica. Faz parte do Núcleo Piracema de Estudos Junguianos. Desenvolve oficinas de Poesias.

Livros Publicados
Seriguelas - Ed. Scortecci: 2006
Águas Cristalinas - Ed. do Autor: 2001
Terra de Formigueiro - Ed. Papirus:1997
Fogo Pago - Ed. do Autor: 1981

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