domingo, 7 de março de 2010

Na semana da Mulher uma homenagem especial às poetisas. 

image ADALGISA NERY
Poetisa, jornalista e política
Nasceu: 29/10/1905
No Rio de Janeiro
Faleceu: 07/06/1980
Mov. Lit.: Modernismo

Na Voz da Poesia


Uma mulher fascinante, musa de toda uma geração, Adalgisa Nery despertou muitas paixões e algumas inimizades, teve uma infância triste e dois casamentos conturbados, com Ismael Nery e Lourival Fontes.

Autora de poemas, contos, crônicas e romances, Adalgisa teve seus dias de glória. Viúva aos 29 anos e dona de um perfil de mulher fatal, consta que ela destroçava corações. "Acho que todos nós a amávamos, mesmo sem saber que se tratava de amor", escreveu Carlos Drummond de Andrade após a morte dela.
(Fonte: A Voz da Poesia)

POEMA DA AMANTE

Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos,
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.

Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.

Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.

Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.

Eu te amo
Desde a criação das águas,
desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.

Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.

In Poemas,1937

image ADÉLIA PRADO
Poetisa e escritora
Nasceu: 13/12/1935 
Em Divinópolis -MG
Mov. Lit.: Contemporâneo

Na Voz da Poesia

 


Adélia costuma dizer que o cotidiano é a própria condição da literatura. Morando na pequena Divinópolis, estão em sua prosa e em sua poesia temas recorrentes da vida de província, a moça que arruma a cozinha, a missa, um certo cheiro do mato, vizinhos, a gente de lá.

"Alguns personagens de poemas são vazados de pessoas da minha cidade, mas espero estejam transvazados no poema, nimbados de realidade. É pretensioso? Mas a poesia não é a revelação do real? Eu só tenho o cotidiano e meu sentimento dele. Não sei de alguém que tenha mais. O cotidiano em Divinópolis é igual ao de Hong-Kong, só que vivido em português."
(Fonte: A Voz da Poesia)

O AMOR NO ÉTER

Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água,
entram e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniços na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo
e a metafísica, exclamam:
como és bonito!
Quero escavar-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar
entre meio-dia e duas horas da tarde.

 

imageALFONSINA STORNI
Poetisa, atriz e professora
Nasceu: 29/05/1892 
Em Sala Capriasca, Suíça
Nac.: Argentina
Faleceu: 25/10/1938

Na Voz da Poesia



Alfonsina está entre as inúmeras mulheres espalhadas pelo mundo durante a Belle Epoque que saíram das sombras para abalar as estruturas de sociedades inteiras.
Neste período várias escritoras surgiram pelo continente latino americano, quebrando com os mitos culturais que rodeavam a aura feminina e libertando a natureza humana que havia sido aprisionada dentro da alma das mulheres.
Através de seus versos começaram a enraizar na sociedade idéias para combater a opressão, ajudando a desenvolver uma consciência coletiva na qual a mulher deveria libertar tudo o que em sua alma estava aprisionado durante séculos e mostrar para a sociedade o que era e o que realmente queria uma mulher.
Em 1938, três dias antes de se suicidar, envia de um hotel de Mar del Plata para um jornal, o soneto “Voy a Dormir”. Consta que suicidou-se andando para dentro do mar — o que foi poeticamente registrado na canção "Alfonsina y el mar", de Ariel Ramírez e Félix Luna (gravada por Mercedes Sosa, Simone, entre outros). Ouça AQUI

A CARÍCIA PERDIDA

Sai-me dos dedos a carícia sem causa,
Sai-me dos dedos… No vento, ao passar,
A carícia que vaga sem destino nem fim,
A carícia perdida, quem a recolherá?

Posso amar esta noite com piedade infinita,
Posso amar ao primeiro que conseguir chegar.
Ninguém chega. Estão sós os floridos caminhos.
A carícia perdida, andará… andará…

Se nos olhos te beijarem esta noite, viajante,
Se estremece os ramos um doce suspirar,
Se te aperta os dedos uma mão pequena
Que te toma e te deixa, que te engana e se vai.

Se não vês essa mão, nem essa boca que beija,
Se é o ar quem tece a ilusão de beijar,
Ah, viajante, que tens como o céu os olhos,
No vento fundida, me reconhecerás?

 

imageANA CRISTINA CESAR
poeta, tradutora e ensaísta
Nasceu: 02/06/1952
Rio de Janeiro – RJ
Faleceu em 29/10/1983
Mov. Lit.: Contemporâneo

Na Voz da Poesia

 

Ela era inquieta, lúcida, bonita. Sedutora e literária sempre, da fala ao gesto irreverente ou delicado.
Sua morte, prematura e voluntária, aos 31 anos, em 1983, legou aos contemporâneos uma perplexidade incômoda e uma obra dispersa que ainda assombra.
Dona de uma literatura de imagens e referências sofisticadas - tramada em sutilezas e armadilhas que por isso mesmo a diferenciam da chamada poesia marginal em que germinou.
Seus últimos versos refletem bem a angústia que vivia: "Estou muito compenetrada de meu pânico/ lá dentro tomando medidas preventivas”.
Ana Cristina César suicidou-se no dia 29 de outubro de 1983. Tinha 31 anos.
(Fonte: A Voz da Poesia)

FAGULHA

Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.

Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando

Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.

Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.

Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.

Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio

Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las

Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.

image CECÍLIA MEIRELES
Poetisa, professora e jornalista
Nasceu: 07/11/1901
Cidade: Rio de Janeiro - RJ
Mov. Lit.: Modernismo
Faleceu: 09/11/1964

Na Voz da Poesia

 

Considerada pela crítica a mais alta personalidade feminina da poesia brasileira e um dos maiores nomes de nossa literatura, em qualquer época, sem distinções preconceituosas de sexos, Cecília Meireles deixou uma obra poética longa, intensa e perturbadora. Foram quase trinta livros de versos, um roteiro que se inicia sob a influência parnasiana e simbolista, se depura numa luta permanente pela expressão pessoal, até atingir aquela altitude para a qual quaisquer definições são inconsistentes: a poesia pura.
Tendo feito aos 9 anos sua primeira poesia, estreou em 1919 com o livro de poemas Espectros, escrito aos 16 anos.

"Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar.
Fonte: A Voz da Poesia

A MULHER E A TARDE

O denso lago e a terra de ouro:
até hoje penso nessa luz vermelha
envolvendo a tarde de um lado e de outro.

E nas verdes ramas, com chuvas guardadas,
e em nuvens beijando os azuis e os roxos.

Perguntava a sombra: “Quem há pelo teu rosto?”
“Que há pelos teus olhos?” – a água perguntava.

E eu pisando a estrada, e eu pisando a estrada,
vendo o lago denso, vendo a terra de ouro,
com pingos de chuva numa luz vermelha…

E eu não respondendo nada.

Sonho muito, falo pouco.
Tudo são riscos de louco
e estrelas da madrugada…

In Vaga Música, 1942

image DENISE EMMER
Poeta, compositora, cantora, violoncelista e escritora.
Rio de Janeiro - RJ

Na Voz da Poesia

 

 

Filha dos escritores Janete Clair e Dias Gomes, tornou-se primeiramente conhecida por temas musicais compostos para personagens das telenovelas, tais como "Pelas muralhas da adolescência", Bandeira 2, e "Alouette", Pai Herói, "Companheiros", Sinhá Moça, entre outros, alcançando depois, reconhecimento pela sua vasta e premiada produção poética.
É violoncelista da Orquestra Rio Camerata.
A poesia de Denise Emmer pode ser tida como um exemplo de obra que, mesmo antes do julgamento implacável do tempo histórico, irá se inscrever no cânone dos grandes poetas brasileiros. São poucos os autores dos quais podemos fazer tal ilação extemporânea, afirmando-a a partir, não da subjetividade do gosto, mas da análise do conjunto da própria obra em questão.
Prêmio ABL de Poesia 2009
Em maio, Denise ganhou o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras com o livro "Lampadário", publicado pela 7Letras.
(Fonte: A Voz da Poesia)

O BEIJO

Levou-me sem feitas frases
Somente passo e camisa
Roubou-me um beijo de brisa
Na quadratura da tarde

Jogou-me contra a parede
Rasgou-me a blusa de linho
Roubou-me um beijo de vinho
Diante das aves vesgas

Puxou-me para seu fundo
Rompeu a rosa pirâmide
Roubou-me um beijo de sangue
E bateu asas no mundo.

image FERNANDA DE CASTRO
Romancista, poeta e conferencista
Nasceu: 8/12/1900 - Lisboa - Portugal
Faleceu em 19/12/1994

Na Voz da Poesia

 

Conferencista, declamadora de poesia, dramaturga, poetisa, ficcionista, autora de guiões cinematográficos, casada com o escritor António Ferro e mãe do escritor António Quadros, viveu na Guiné até aos 12 anos e terminou os estudos liceais em Lisboa.
O escritor David Mourão-Ferreira, durante as comemorações dos cinquenta anos de atividade literária de Fernanda de Castro disse: “Ela foi a primeira, neste país de musas sorumbáticas e de poetas tristes, a demonstrar que o riso e a alegria também são formas de inspiração, que uma gargalhada pode estalar no tecido de um poema, que o Sol ao meio-dia, olhado de frente, não é um motivo menos nobre do que a Lua à meia-noite”.
Parte da vida de Fernanda de Castro, foi dedicada à infância, tendo sido a fundadora da Associação Nacional de Parques Infantis, associação na qual teve o cargo de presidente.
Como escritora, dedicou-se à tradução de peças de teatro, a escrever poesia, romances, ficção e teatro.
Foi juntamente com o marido e outros, fundadora da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses.
(Fonte: A Voz da Poesia)

ASA NO ESPAÇO

Asa no espaço, vai pensamento!
Na noite azul, minha alma, flutua!
Quero voar no braços do vento,
quero vogar nos barcos da Lua!

Vai, minha alma, branco veleiro,
vai sem destino, a bússola tonta.
Por oceanos de nevoeiro,
corre o impossível, de ponta a ponta.

Quebra a gaiola, pássaro louco!
Não mais fronteiras, foge de mim,
que a terra é curta, que o mar é pouco,
que tudo é perto, princípio e fim.

Castelos fluidos, jardins de espuma,
ilhas de gelo, névoas, cristais,
palácios de ondas, terras de bruma,
asa, mais alto, mais alto, mais!

image SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
poeta, contista
Nasceu: 06/11/1919
Porto - Portugal
Faleceu: 02/07/2004

Na Voz da Poesia


Nascida no Porto, de origem dinamarquesa pelo lado paterno e educada num meio aristocrático, esteve muito cedo ligada à luta antifascista e, a seguir ao 25 de Abril, foi deputada à Assembleia Constituinte. Os seus principais poemas de resistência política foram reunidos na antologia Grades (1970), sem prejuízo da aspiração à liberdade e à justiça impregnarem toda a sua obra, como uma ética poética que lhe fosse natural. Viu a sua carreira consagrada com o Prémio Camões, em 1999.
"Recordo-me de descobrir que num poema era preciso que cada palavra fosse necessária, as palavras não podem ser decorativas, não podiam servir só para ganhar tempo até ao fim do decassílabo, as palavras tinham que estar ali porque eram absolutamente indispensáveis".
A extensa obra que nos legou reparte-se pelos domínios da poesia, da ficção, do conto para crianças, do ensaio, do teatro e tradução (com magníficas versões de textos de Eurípides, Shakespeare, Claudel e Dante).
(Fonte: A Voz da Poesia)

PORQUE

Porque os outros se mascaram e tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos calados
Onde germina calada podridão
Porque os outros se calam mas tu não

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo
Porque os outros são hábeis mas tu não

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos
Porque os outros calculam mas tu não.


Muitas outras poetisas merecem estar neste post, mas escolhi estas para representar todas elas. Convido-os a conhecê-las no site A Voz da Poesia.

EXTRAÍDOS DO SITE WWW.AVOZDAPOESIA.COM.BR

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