quarta-feira, 17 de março de 2010

“Entre a parede e a espada, me atiro contra a espada.”
(Elis Regina)

Comigo é simples, eu divido tudo: minhas roupas, meus amigos... Mas o meu palco, esse não divido.
(Elis Regina)

Elis hoje estaria completando 65 anos.

elis5Elis Regina Carvalho Costa (Porto Alegre, 17 de março de 1945 – São Paulo, 19 de janeiro de 1982) É considerada por boa parcela de músicos e público como uma das maiores cantoras de todos os tempos da MPB.
De morte trágica e prematura, deixou vasta e brilhante obra na música popular brasileira.
Foi apelidada por Vinícius de Moraes de Pimentinha.

Elis é mãe de João Marcelo Bôscoli, filho do casamento com o músico Ronaldo Bôscoli, e de Pedro Camargo Mariano e Maria Rita, filhos do pianista César Camargo Mariano. Os três enveredaram pelo ramo da música.

 eliseospais

Dona Ercy, filha de imigrantes portugueses, cristãos novos, donos de mercearia no extremo sul do Brasil. Encontrou um Romeu brasileiro, filho de brasileiros, com cara de índio, caladão, emprego seguro numa fábrica de vidros. Foram morar no bairro de Navegantes, em Porto Alegre, numa casa de madeira, quintal de terra batida.

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A filha do casal nasceu estrábica e deve o nome Elis a uma amiga de dona Ercy. O Regina vem de uma exigência legal. Na burocracia da época, as crianças não podiam ser batizadas com nomes que tanto serviam para meninos como para meninas. Já prevendo que não pudesse batizar sua menina apenas Elis, dona Ercy mandou um Regina de reserva.
Elis Regina Carvalho Costa, 17 de março de 1945, parto normal feito pela parteira Conceição e pela enfermeira Marlene no Hospital Beneficência Portuguesa, Porto Alegre. Um sábado, às três e dez da tarde.

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Na casa dos Carvalho Costa, o rádio tocava a música do Brasil, pela Nacional, do Rio, e a música da Argentina, pelas ondas da Rádio Belgrano, de Buenos Aires. Aos domingos, quando se reuniam na casa da avó Ana, mãe de dona Ercy, a família costumava fazer barulho na mesa. Cantar alto, gargalhar. A pequena Elis cantava Adiós, pampa mia do começo ao fim, sem desafinar, sem errar a letra. E foi num desses domingos que a avó Ana teve um estalo: “Por que não levam essa guria ao Clube do Guri?”. Clube do Guri, programa infantil transmitido pela Rádio Farroupilha, sempre aos domingos. Elis tinha 7 anos quando enfrentou seu primeiro microfone. Foi um choque para a menina tímida, que costumava falar sozinha, encarar uma platéia estranha de auditório de rádio. O diretor do programa, Ary Rego, pediu que ela falasse alguma coisa. Nada, Elis ficou muda. Pediu que cantasse. Silêncio no ar. Dona Ercy, já nervosíssima, ajudava a pressionar Elis: “Canta, minha filha”. Ela, nada. Limitava-se a roer as unhas encobertas pelas luvas brancas. Voltou para casa calada, com dona Ercy nas orelhas. “Isso não é papel que se faça.” Cinco anos se passaram até Elis Regina ter coragem de pedir uma nova chance.

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Diálogo entre mãe e filha na Porto Alegre de 1956: "Mãe, tu me leva ao Clube do Guri?"
"O que é que tu vai fazer lá?"
"Vou cantar."
"Cantar? Tá louca, pensa que tenho tempo para perder?"
No domingo seguinte, dona Ercy pegou Elis e mais duas amigas e lá se foram todas para a Rádio Farroupilha. Mesmo não conseguindo se inscrever nesse domingo, Elis voltou na semana seguinte e cantou. Por mais que se esforce, dona Ercy não consegue lembrar qual foi a música de estréia de Elis. Sabe que era do repertório de Ângela Maria e não confirma a versão contada por Elis, anos mais tarde, de que cantou Lábios de Mel. Foi uma sensação no Clube do Guri. Elis, de cara, desbancou a favorita do auditório. Cinco anos depois do desastre da primeira tentativa, Elis dava o troco. O primeiro de uma série.

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Cantora aos onze anos de idade

Sobre o começo da carreira de Elis e a disputa entre quem de fato a lançou, o produtor Walter Silva disse à Folha de S. Paulo: “Poucas pessoas sabem quem realmente descobriu Elis. Foi um vendedor da gravadora Continental chamado Wilson Rodrigues Poso, que a ouviu cantando menina, aos quinze anos, em Porto Alegre. Ele sugeriu à Continental que a contratasse, e em 1962 saiu o disco dela. Levei Elis ao meu programa, fui o primeiro a tocar seu disco no rádio. Naquele dia eu disse: Menina, você vai ser a maior cantora do Brasil. Está gravado.”

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Década de 1960, surge uma estrela

Em 1960 foi contratada pela Rádio Gaúcha, e em 1961 viajou ao Rio de Janeiro, onde gravou o primeiro disco, Viva a Brotolândia. Lançou ainda mais três discos, enquanto morava no Rio Grande do Sul.
Em 1964, um ano com a agenda lotada de espetáculos no eixo Rio-São Paulo, assinou um contrato com a TV Rio para participar do programa Noites de Gala; é levada por Dom Um Romão para o Beco das Garrafas sob a direção da dupla Luís Carlos Miéle e Ronaldo Bôscoli, com os quais ainda realizaria diversas parcerias, e um casamento com Bôscoli em 1967. Acompanhada agora pelo grupo Copa trio, de Dom Um, canta no Beco das Garrafas, o reduto onde nasceu a bossa nova, e conhece o coreógrafo americano Lennie Dale, que a ensinou a mexer o corpo para cantar, tirando aquele nado que ela tinha com os braços.

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Participa do espetáculo Fino da Bossa organizado pelo Centro Acadêmico da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, que ficou conhecido também como Primeiro Demti-Samba, dirigido por Walter Silva, no Teatro Paramount, atual Teatro Abril (São Paulo). Ao final do mesmo ano (1964) conhece o produtor Solano Ribeiro, idealizador e executor dos festivais de MPB da TV Record. Um ano glorioso, que ainda traria a proposta de apresentar o programa O Fino da Bossa, ao lado de Jair Rodrigues. O programa, gravado a partir dos espetáculos e dirigido por Walter Silva, ficou no ar até 1967 (TV Record, Canal 7, SP) e originou três discos de grande sucesso: um deles, Dois na Bossa, foi o primeiro disco brasileiro a vender um milhão de cópias. Seria dela agora o maior cachê do show business.

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No final de 1967, Elis Regina e Ronaldo Bôscoli surpreenderam o mundo artístico com a bomba: iam casar.

Quando Ronaldo Bôscoli conheceu Elis Regina, ela estava apaixonada por Edu Lobo, o compositor que com ela iria dar a grande virada na música popular. Ele tem uma boa memória: "Ela ia toda hora ao telefone e se exibia demais para mim: 'Posso falar um instantinho no telefone, seu diretor?' E falava com o Edu".
Arquiinimigos no passado, Elis Regina e Ronaldo Bôscoli, uma união que muitos julgavam impossível.

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O Jornal da Tarde, na edição de 7 de dezembro, em matéria  não assinada, com o título "Um compositor levou Elis Regina" descreveu assim o casamento civil de Elis e Bôscoli: "O casamento civil de Elis Regina com Ronaldo Bôscoli foi muito simples e durou quatro minutos contados no relógio redondo da parede. O que durou mais foi a impaciência dos noivos, porque um dos padrinhos "o casal Paulo Machado de Carvalho Filho" só chegou às cinco e meia. O juiz já havia chegado, e o casamento estava marcado para as quatro e meia. A manequim Vera Barreto Leite, madrinha do noivo, não apareceu porque teve de filmar. Horas antes, foi substituída pela sra. Wanda Sá.
Bôscoli tinha 38 anos quando se casou com Elis. Ela, 22.
“Era uma relação perigosamente deliciosa. Voava tudo pelos ares e, de repente, estávamos nos agarrando de paixão. Fazíamos coisas estranhas e bonitas.”
Ronaldo Bôscoli

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Um novo parceiro na vida e na profissão: o pianista e arranjador César Camargo Mariano

O romance com César Mariano já tinha virado casamento. Elis permitiu-se interromper o ciclo das brigas frontais e viveu um pouco de paz. Era um momento de amor e um encontro musical que mudaria mais uma vez os rumos da carreira dela e de César. A sensibilidade musical de César Mariano criaria para ela arranjos belíssimos e abriria a possibilidade de uma harmonia perfeita e profunda entre a casa e o trabalho.

Elis e Tom

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O encontro Elis e Tom foi para comemorar os dez anos dela na gravadora Philips. Era seu 14o LP.

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Los Angeles, fevereiro, 74: gravação de um LP histórico: Elis e Tom.

Elis, mulher e mãe

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A mãezona Elis brinca com o primeiro filho, João Marcelo, de seu casamento com Bôscoli.

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Julho de 77: grávida de sete meses (Maria Rita), cantando no Anhembi.

 

Anos de chumbo

Elis Regina criticou muitas vezes a ditadura brasileira, nos difíceis Anos de chumbo, quando muitos músicos foram perseguidos e exilados. A crítica tornava-se pública em meio às declarações ou nas canções que interpretava. Em entrevista, no ano de 1969, teria afirmado que o Brasil era governado por gorilas (há ainda controvérsias em relação a essa declaração. Existem arquivos dos próprios militares onde ela se justifica dizendo que isso foi criado por jornalistas sensacionalistas). A popularidade a manteve fora da prisão, mas foi obrigada pelas autoridades a cantar o Hino Nacional durante um espetáculo em um estádio, fato que despertou a ira da esquerda brasileira.
Sempre engajada politicamente, Elis participou de uma série de movimentos de renovação política e cultural brasileira, com voz ativa da campanha pela Anistia de exilados brasileiros. O despertar de uma postura artística engajada e com excelente repercussão acompanharia toda a carreira, sendo enfatizada por interpretações consagradas de O bêbado e a equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc), a qual vibrava como o hino da anistia. A canção coroou a volta de personalidades brasileiras do exílio, a partir de 1979. Um deles, citado na canção, era o irmão do Henfil, o Betinho, importante sociólogo brasileiro.
Outra questão importante se refere ao direito dos músicos brasileiros, polêmica que Elis encabeçou, participando de muitas reuniões em Brasília. Além disso, foi presidente da Assim, Associação de Intérpretes e de Músicos.

Últimos Momentos

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Causando grande comoção nacional, faleceu aos 36 anos de idade em 19 de janeiro de 1982, devido a complicações decorrentes de uma overdose de cocaína, tranquilizantes e bebida alcoólica. Foi sepultada no Cemitério do Morumbi.
Choram Marias e Clarices… Chora a nossa pátria mãe gentil. Em busca de um sol maior, Elis Regina embarcou num brilhante trem azul, deixando conosco a eternidade de seu canto pelas coisas e pela gente de nossa terra. E uma imensa saudade.


Essa é a pedido da Professora Rita de Cássia, e que ofereço também a Rose Nakamura e a seu filho Shinji, que estão lá no Japão… E esta música faz parte de uma passagem da vida deles. Beijos pros dois ;)

 

Fonte:
Furacão Elis, Regina Echeverria
Wikipédia
Youtube

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