quinta-feira, 30 de outubro de 2008

mae
                                               imagem da internet


Há alguns meses, quando pegava as crianças na escola, percebi que uma mãe se aproximara de uma amiga que conhecia bastante. Estava muito indignada. Sabe o que você e eu somos? – lhe perguntou, e antes que a amiga pudesse dar-lhe uma resposta, que na verdade não sabia qual era ela mesma respondeu.

Parece que vinha de uma repartição onde tinha ido renovar sua carteira de motorista. Quando o funcionário que anotava os dados lhe perguntou qual era a sua ocupação, ela não soube responder.

Ao perceber isto, o funcionário lhe disse: - "ao que me refiro é se a Senhora trabalha ou é simplesmente uma...?”.

"Claro que tenho trabalho, lhe contestou, sou uma mãe!".

E o atendente lhe respondeu: -"não posso por mãe como opção, vamos colocar dona de casa.".

Foi a resposta enfática do funcionário.

A amiga havia esquecido por completo a história, até que um dia, se passou exatamente o mesmo com ela. A funcionária era obviamente uma mulher executiva, eficiente, elegante, e tinha um crachá sobre seu peito onde estava escrito:

"Entrevistadora Oficial".

"Qual sua ocupação?" ela perguntou.

Como ela iria responder? As palavras simplesmente começaram a sair de sua boca:

"Sou uma Pesquisadora Associada no Campo do Crescimento, Desenvolvimento Infantil e Relações Humanas."

A funcionária deteve a caneta que ficou congelada no ar, e olhou para a mãe como se não estivesse escutado bem.

Repetiu o título lentamente, pondo ênfase nas palavras mais importantes. Logo, observou assombrada como seu pomposo título era escrito em tinta negra no formulário oficial.

"Permita-me perguntar-lhe", disse a funcionária com ar de interesse, que é o que exatamente faz você no campo de pesquisa?

Com uma voz muito calma e pausada, se ouviu sua resposta.

"Tenho um programa contínuo de investigação (que mãe não o tem?) no laboratório e no campo (normalmente se costuma dizer "dentro" e "fora" de casa). Estou trabalhando no meu doutorado (a família completa) e já tenho 4 créditos (todas as suas filhas)." "Evidente que o trabalho é um dos que mais demanda tem no campo de humanidades (alguma mãe está em desacordo?) e usualmente trabalho umas 14 horas diárias (em realidade são mais, como 24 h!). Porém, o trabalho tem muito mais responsabilidades que qualquer trabalho simples, e as remunerações, mais que somente econômicas, também estão ligadas à área da satisfação pessoal."

Podia-se perceber uma crescente atitude de respeito na voz da funcionária, enquanto completava o formulário. Uma vez terminado o processo, se levantou da cadeira e pessoalmente acompanhou a "Pesquisadora" à porta.

Ao chegar a casa, emocionada por sua nova carreira profissional, saíram a recebê-la 3 de suas "cobaias" do laboratório, de 13, 7 e 3 anos de idade. Do alto, ela podia escutar a seu novo modelo experimental do programa de crescimento e desenvolvimento infantil (de 6 meses de idade), provando um novo padrão de vocalização.

Sentia-se triunfante! Havia vencido a burocracia.

Havia entrado nos registros oficiais como uma pessoa mais distinguida e indispensável para a humanidade que somente "uma mãe mais".

Maternidade... que profissão mais brilhante. Especialmente quando tem um título na porta.

Traduzido e adaptado por Marcus Renato.
Trini Amagintza - Grupo de Apoyo Lactancia y Maternidad - Espanha.

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