sexta-feira, 27 de março de 2009

rainer_maria_rilke 
                                        Rainer Maria Rilke

A impressionante história do nascimento das Elegias de Duíno, como nos conta Emmanuel Carneiro Leão na introdução do livro Sonetos a Orfeu e Elegias de Duíno (Editora Vozes, Petrópolis, 1989):
”As Elegias operam a explosão de seu próprio nascimento. Nasceram de uma experiência extra-ordinária do extra-ordinário: um acontecimento inesperado, violento, perigoso, um verdadeiro furacão de poesia se abatera sobre o espírito do poeta. Em janeiro de 1912 Rilke passava o inverno no Castelo de Duíno numa falésia à beira do Adriático. Tinha recebido uma carta de negócios. A resposta exigia uma decisão grave de mudanças e transformação. Saiu para pensar na resposta ao ar livre. Formava-se uma tempestade e o vento começou a soprar forte. A resposta o absorvia. Andava de um lado para o outro, a uns 70 metros da água, lutando por uma decisão. De repente parou. Era como se do meio da tempestade uma voz lhe retirasse da boca e inscrevesse no barulho do vento as palavras: Se gritasse, quem das legiões de anjos escutaria o grito?
Castelo_de_Duino 
                                      Castelo de Duíno
Rilke se recolheu todo à escuta do que estava por vir. Sentindo a presença da poesia, anotou as palavras e alguns outros versos que ainda se formaram sem nenhuma participação sua. Voltou para o Castelo e naquela mesma noite a primeira elegia estava pronta. A segunda seguiu alguns dias depois, e no final do inverno os primeiros versos de todas as outras lhe foram dados da mesma maneira. Alguns fragmentos apareceram ainda em viagens a Toledo, Ronda e Paris e logo tudo silenciou. Rilke sabia da importância do que lhe sucedera e esperou por 10 anos o retorno do Inesperado.
[...] Espera retomar o fluxo interrompido tão logo encontre um abrigo adequado, como o Castelo de Duíno destruído na [Primeira] guerra [Mundial]. Passando pelo país do Valais, chega a Sierre e descobre o lugar ideal num pequeno castelo do século XIII: Muzot. Um cartaz anunciava venda ou aluguel. Seu amigo, Walter Reinhart, o adquire e põe à disposição do poeta que lá se instala no início do verão de 1921.
No retiro de Muzot Rilke espera. Mas era uma espera criadora. Lia e traduzia Paul Valéry [...] Na noite de 1º de Janeiro de 1922 chegou uma carta de Gertrude Oukama Knoop. A mãe relata a doença e morte da filha. Era um sinal. Na passagem do ano o Anjo da morte falava de transformação: uma jovem com estranho poder de sedução, uma pessoa extra-ordinária, feita para a dança, a música e as artes, deixara a juventude para entrar na morte e reintegrar-se ao todo. Rilke é tomado pelo canto criador de Orfeu. [...] Prepara-se a fúria de uma nova tempestade semelhante à que o surpreendera dez anos antes na falésia de Duíno. [...]Após uma angústia de dez anos, a poesia retomou a força dos elementos e em nova tempestade abriu caminho para a liberdade. Em cinco dias de total dedicação, de 7 a 11 de fevereiro, todo o conjunto das Elegias estava pronto.”
E para quem tiver curiosidade: o Castelo de Duíno (foto) fica no Trieste e pertence à família von Thurn und Taxis. Reconstruído, é a residência particular da Princesa von Thurn und Taxis, e encontra-se em parte aberto à visitação pública.


Fonte: paraserzen.blogspirit.com

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