sexta-feira, 27 de novembro de 2009

brian_davis_sunlight_dance
                                                Pintura de Brian Davis


ALMAS PERFUMADAS 
Ana Cláudia Saldanha Jácomo
(para  sua avó Edith)

Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende a ver.
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.
Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.
Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está dançando conosco de rostinho colado. E a gente ri grande que nem menino arteiro.
Costumo dizer que algumas almas são perfumadas, porque acredito que os sentimentos também têm cheiro e tocam todas as coisas com os seus dedos de energia. Minha avó era alguém assim. Ela perfumou muitas vidas com sua luz e suas cores. A minha, foi uma delas. E o perfume era tão gostoso, tão branco, tão delicado, que ela mudou de frasco, mas ele continua vivo no coração de tudo o que ela amou. E tudo o que eu amar vai encontrar, de alguma forma, os vestígios desse perfume de Deus, que, numa temporada, se vestiu de Edith, para me falar de amor.


Fonte do texto:
anajacomo.blogspot.com/2009/10/almas-perfumadas.html

11 comentários:

Lilian disse...

Olá amiga,

Vim ao seu blog agradecer a visita que fez ao meu e seu comentário.

Aproveitei e fiquei um tempão lendo e ouvindo o que tens aqui.

Tudo lindo demais!
Parabéns.
Fraterno e carinhoso abraço,
Lilian

Principe Encantado disse...

Lindo texto amiga, parabéns pela escolha.
Abraços forte

Anônimo disse...

é muito lindo mesmo. parece um afago poético...

bjs

Unknown disse...

Cara, falando o óbvio, mas, me senti num grande jardim florido ....

Poética e Cotidiana disse...

Lilian,
Obgda pela visita e pelas palavras!
Eu visitei seu blog e ta tudo muito lindo!
Visitarei sempre que você me indicar as postagens ;)

Abraço carinhoso

Poética e Cotidiana disse...

Principe Encantado,
Obgdaaaa pela visita.
É um prazer compartilhar as coisas bonitas com amigos como você!

Abraço carinhoso

Poética e Cotidiana disse...

Sara,

É isso! Um afago poético na alma da gente, que ri feliz!

Abraço carinhoso

Poética e Cotidiana disse...

Joselito,
e que a sua alma sempre saia perfumada desse jardim florido ;)

Abraço carinhoso

Júlio [Ebrael] disse...

Que amor saudoso, que amor gostoso é esse hem?!? Já havia sentido ele algumas vezes, esse perfume de singeleza, de plumas ao cair da tarde, voando sobre nossas cabeças...

Vc me lembrou agora quando, ao lado da minha primeira paixonite, aos 12 anos, soprava os dentes-de-leão, dizendo que se pareciam com miniaturas de para-quedas caindo sobre a relva...ahhhhhhhh que tempos!! bons tempos!!

BJs minha linda, e lindas palavras, como vc!!

Rosana Madjarof disse...

Sereníssima,

Que poema mais singelo minha amiga!

Conforme ia lendo, pensava em minha mãe, pois minha mãe tem todos esses cheiros, todos os perfumes das mais delicadas rosas, das estrelas, do céu...

Eu sempre falo que minha mãe é a Rosa mais perfumada de todos os jardins, pois a bondade exala por todos os seus poros, e eu amo minha mãe.

Amei minha amiga.

Bjs.

Rosana.

Poética e Cotidiana disse...

Ebrael,

Fico sensibilizada que este texto tenha trazido sentimentos tao doces,
de uma época em que nos deixávamos embalar pela dança dos carroceis e dos sonhos, que nos levavam às nuvens em busca da tão sonhada realidade.

Obgda pela visita!

Abraço carinhoso

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